de inauguração da barragem de Hindié, no Iraque.
(Z. G. Donatossian, papel albuminado, © Colecção Pierre de Gigord)
Não foi preciso muito tempo até a fotografia chegar ao Império Otomano, destino exótico e refúgio para muitos intelectuais, escritores e viajantes ao longo do século XIX. A novidade de trazer um registo visual de lugares onde, até então, a fotografia nunca tinha concretizado o seu labor mais simples, o de memória documental, começou a levar cada vez mais experimentadores até junto de paisagens inóspitas, povos de vestes estranhas ao olhar do ocidente. Se as fronteiras não travaram a expansão da novidade fotográfica, a religião colocou-lhe alguns entraves -o islão é contra a representação de imagens que possam ser objecto de adoração, a fotografia permitia esse fascínio. O exercício da fotografia ficou vedado às minorias, entre as quais a arménia, uma das que melhor dominava diferentes idiomas.
O Instituto do Mundo Árabe de Paris decidiu recuperar as imagens que representam os primórdios da memória visual fotográfica de uma parte dessa vasta massa geográfica, o Médio Oriente, feita pela mão de quem lá viveu, e não apenas de quem por lá passou. Os arménios são os protagonistas desse primeiro olhar.
Vítimas de constantes perseguições e massacres, sobretudo a partir de 1915, foram obrigados dispersar em massa para vários países árabes da região. A fotografia foi um dos seus meios de subsistência. Parte significativa da imagem que temos hoje do Oriente do século XIX, de Istambul ao Cairo, deve-se ao trabalho desta comunidade.
Começaram por ser assistentes de fotógrafos-viajantes para logo depois se instalarem por conta própria, como aconteceu com os irmãos Abdulah, em Istambul, onde montaram o primeiro estúdio da Anatólia, em 1858. Alcançaram grande reputação a ponto de se transformarem nos fotógrafos oficiais do sultão, porta de entrada privilegiada para o interior de palácios, retiros e paisagens vedadas ao comum dos mortais. As primeiras imagens do faustoso interior de Topkapi, por exemplo, são da sua autoria. Outro exemplo de pioneirismo: a primeira escola de fotografia do Médio Oriente foi fundada em Jerusalém, em 1859, pelo patriarca arménio Yessayi Garabadian, alguém que percebeu a importância da fotografia como ferramenta de reprodução de documentos e escrituras antigas.
Os arménios experimentaram todas as possibilidades que a fotografia tinha para lhes oferecer. Depois de expulsos das suas terras, fizeram sobretudo retrato, mas também reproduziram a arquitectura, testemunharam a guerra ou, simplesmente, registaram os acontecimentos.
Pena que a exposição de Paris acabe já este fim-de-semana. Fica uma pequena amostra do que lá foi visto nesta galeria. E fica também o catálogo editado pelo Instituto do Mundo Árabe.
(Irmãos Abdulah, cerca de 1865, papel albuminado, © Colecção Pierre de Gigord)
(Tarkulyan Bogos, Phébus, Istambul, cerca de 1874,
papel albuminado, © Colecção Pierre de Gigord)
L’Orient des photographes arméniens
Com textos de Farouk Mardam-Bey e Badr El Hage
Institut du Monde Arabe, 2007
96 páginas (25 x 25 cm), 23 euros.
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