07 novembro, 2006

À venda 2

Aproxima-se a data (quinta-feira) do 2º leilão exclusivamente dedicado à fotografia organizado pela Potássio 4. Depois de um olhar mais atento pelo catálogo nota-se que houve mais esforço na descrição, identificação e enquadramento histórico dos lotes em relação ao primeiro leilão. É um trabalho louvável que dá outro interesse à venda e fornece ao comprador pistas seguras sobre os lotes que lhe interessam. Para além da habitual divisão por suportes fotográficos, há também agora uma muito útil divisão por temas (monarquia, militária, desporto, etc.) para facilitar a vida aos coleccionadores mais metódicos. No conjunto, este leilão é mais fraco do que a venda realizada a 1 de Junho. A quantidade (há mais 100 lotes) não acrescentou valor qualitativo ao leilão. Mas há, como seria de esperar, muitos lotes (ou conjunto de lotes) que se destacam dos demais. Como prometido, aqui fica uma selecção das peças mais interessantes baseada essencialmente em dois critérios: gosto pessoal; importância para a história da fotografia em Portugal.


Secção: daguerreótipos, ambrótipos e ferrótipos

Fotógrafo não identificado, daguerreótipos (15 x 12,5 cm. aprox.)

Lote 1
Preço: 300 €

Os daguerreótipos com pessoas ou paisagens de Portugal são sempre imagens interessantes. Os retratos de pessoas, ainda que raros, vão aparecendo. Já as paisagens nacionais em daguerreótipo são verdadeiras preciosidades. Para além de terem inscrito o ano em que foram tomados, estes dois daguerreótipos têm a particularidade de identificarem os retratados: “Joaquina Emília de Campos Rodrigues em 1856” e “(...) Augusto de Campos Rodrigues em 1855”. A imagem da mulher está retocada à mão, como era hábito fazer em muitos daguerreótipos daquela época.


Secção: álbuns de viagem e outros

264 fotografias, em papel de revelação (álbum: 25,5 x 35,5)

Lote 45
Preço: 400 €

Este álbum mostra instantes dos Jogos Olímpicos de Berlim, de 1936, nos quais o ditador Adolf Hitler tentou provar as suas teorias da superioridade racial ariana. A provar exactamente o contrário, o velocista afro-americano Jesse Owens ganhou quatro medalhas de ouro e tornou-se num dos heróis da competição. São dele algumas fotografias que aparecem neste álbum assim como de outros campeões olímpicos como Ismayr, Salminen, C.C. Johnson, T. Valla, H. Machata. Há também imagens do ditador alemão. Os Jogos Olímpicos de Berlim foram os primeiros a terem transmissão televisiva.


Álbum com 40 folhas com 1 prova albuminada por página. Cada imagem tem 19,5 x 26 cm aprox.

Lote 50
Preço: 1000 €

Fotografias de G.B. Brusa, C. Henaggio, Mosehacke, J.V., N.D., Francesco Rocchini e outros fotógrafos não identificados. 70 instantâneos de cidades europeias Veneza, Milão, Lago di Como, Estocolmo, Cannes, Monte-Carlo, Lisboa, Sintra. Numa das imagens de monumentos de Lisboa, vê-se a derrocada que sofreu uma parte do Mosteiro dos Jerónimos, actualmente a entrada do Museu de Arqueologia.


Secção: monarquia

Fotografia atribuída a Enrique Casanova (1850-1913), captada em Abril de 1903 (papel de revelação).

Lote 64
Preço: 1500 €

Fotografia de viagem ao Egipto onde aparecem a rainha D. Amélia, os príncipes D. Luís Filipe, D. Manuel e respectiva comitiva. A imagem está assinada por D. Amélia, D. Luís Filipe, D. Manuel, Visconde da Asseca, Gabriel Kerauch, Fernando Serpa e a Condessa de Figueiró (Pepita).
Este é um dos lotes muito bem documentados. O texto diz o seguinte: “A 28 de Fevereiro de 1903, D. Amélia, tomando o título de Marquesa de Vila Viçosa, partiu com os seus filhos para o Mediterrâneo e Oriente, a bordo do Iate Real ‘Amélia’. Visitaram Jerusalém, Cairo, Port Said entre outras regiões, levando na sua comitiva os Condes de Figueiró; o Visconde da Asseca; o doutor Kerauch - perceptor dos príncipes; D. António de Lencastre - médico; o reverendo Damasceno Fiadeiro, o pintor Enrique Casanova, entre outros. Enrique Casanova foi figura de destaque na côrte portuguesa, como pintor da Real Câmara e professor de aguarela dos príncipes reais, tendo acompanhado a Rainha nesta viagem artística ao Egipto. Sabe-se que levou máquina fotográfica para esta viagem, com a qual obteve vários clichés, alguns deles publicados na revista Brasil - Portugal.”


Secção: carlos relvas e mariana relvas

Auto-retrato de Carlos Relvas acompanhado por Mariana Relvas (prova de albumina)

Lote 70
Preço: 600 €

O photographo amador português do século XIX mais famoso regressa a este leilão com um conjunto imagens albuminadas significativo. No primeiro leilão da Potássio 4, a fotografia de Carlos Relvas colocada à venda suscitou algum suspense (era a capa do catálogo), mas quando subiu à praça acabou por não confirmar o interesse que se formou à sua volta. Foi vendida praticamente pelo preço-base (620 euros). A imagem deste lote (um auto-retrato de estúdio de Carlos Relvas e Mariana Relvas), foi oferecida a Carlos Zepherino, fundador do Grémio Cartaginense na Sertã, em 1888. O cartão onde está colada esta albumina exibe (como era hábito em muitas imagens de Relvas) a colecção de medalhas e condecorações que o fotógrafo foi coleccionando ao longo dos anos. Há ainda uma dedicatória e a assinatura de Carlos Relvas.


Secção: monumentos e edificações

Mário Novais. Sé Velha de Coimbra (papel de revelação)

Lote 114
Preço: 25 €

Esta imagem faz parte de um conjunto de 8 fotografias de Mário Novais, fotógrafo que manteve uma relação estreita e longa com a ditadura de Salazar. Participou em vários livros de propaganda nacionalista do Estado Novo e foi o único fotógrafo com acesso a todos os pavilhões da Exposição do Mundo Português, em 1940. As imagens apresentadas a leilão seguem a mesma lógica estética das imagens impressas na obra Paisagem e Monumentos de Portugal (de Reis Santos e Carlos Queiroz, publicada em 1938).


Secção: personalidades

Ferreira da Cunha. Oliveira Salazar (papel de revelação, 38,5 x 26 cm.)

Lote 123
Preço: 200 €

É uma das melhores imagens deste leilão. Está carregada de dramatismo e expectativa. Salazar ouve com ar grave e olha directamente nos olhos do militar que o avisa de uma intentona contra o seu regime. É uma grande imagem de reportagem que capta um momento raro (não encenado) do ditador em plena acção governativa. Perante o relato que lhe apresentam, ele tem de decidir rápida e eficazmente. Esta é uma daquelas fotografias que despertam a curiosidade para saber o que acontece a seguir. A legenda diz o seguinte: “Após tentativa de revolta militar contra a ditadura, Salazar ouvindo o relato do ataque ao Quartel de Metralhadoras 1, feito pelo capitão David Neto, que o dirigiu e comandou 26.8.1931”. A fotografia foi feita para o Notícias Ilustrado.


Secção: localidades e sítios

Fotógrafo não identificado. Largo de Camões (Ca. de 1890, papel directo, 30 x 36 cm.)

Lote 161
Preço: 200

Seria uma fotografia perfeitamente banal de um monumento lisboeta, não fossem os espectadores, que se julgam na sombra, a transmitirem inocência, curiosidade e estranheza perante a objectiva do fotógrafo. O poeta perde todo o protagonismo perante estes olhares de espanto de quem ainda não acredita bem que é possível “apanhar” o tempo.


Secção: caminhos de ferro

Emílio Biel – Casa Fritz. Viaduto de Vila-Meã, da série Caminhos de Ferro do Douro. Fototipia, ca. 1887 (48,5 x 66 cm.)

Lote 233
Preço: 150 €

Emílio Biel fotografou muitos troços das linhas paralelas de ferro que se espalhavam de norte a sul do país. A série apresentada a leilão mostra pontes, viadutos e estações da região duriense.


Secção: artes e artistas

W. B. Sherwood, Durban. Papel directo, formato carte-de-visite

Lote 265
Preço: 800 €

É uma imagem conhecida e já serviu para ilustrar a capa de uma fotobiografia de Fernando Pessoa. O poeta tinha 10 anos quando tirou este retrato em Durban, na África do Sul, onde viveu e estudou. A expressão do Pessoa que nos foi dado a ver já está aqui. E quanto mais se olha para ela mais se fica com a impressão que o poeta só teve uma expressão. E manteve-a sempre de cada vez que enfrentava uma máquina fotográfica, quer tivesse 3, 10 ou 30 anos. No verso da fotografia, Pessoa escreveu esta dedicatória: “Á sua querida tia Lisbella com muitos beijos do seu sobrinho muito amigo Fernando. Durban 1898”.


Secção: fotografia de autor

Constantino Varela Cid, “Saudades do Mar”, Nazaré (papel de revelação virado, Ca. 1940, 30,5 x 30 cm.)

Lote 295
Preço: 600 €

Outra grande imagem do leilão. Varela Cid, como boa parte dos fotógrafos da época, era um entusiasta dos salões de fotografia. Esta imagem tem o selo de participação num desses concursos que decorreu em Estocolmo, na Suécia. Para além desta fotografia, há outras 3 imagens do autor.


Joaquim Moraes (albumina, Ca. 1890)

Lote 322
Preço: 400 €

É uma fotografia rara. Antecipa a pose e os preparativos para a fotografia que vai ser. Apesar de não estar em bom estado de conservação, é um documento importante para a história da fotografia portuguesa porque revela também o trabalho de Joaquim Moraes, alguém que até agora tem estado na sombra do irmão José Augusto da Cunha Moraes.


Secção: livros e edições
Victor Palla e Costa Martins, Lisboa, Cidade Triste e Alegre. Ed. dos autores, Lisboa, 1959

Lote 375
Preço: 300 €

Foi um dos lotes que mais surpreendeu no leilão de Junho. É o livro de fotografia dos arquitectos que ousaram fazer fotografia da cidade que também era feia, miserável, boémia e decadente.


Portugal 1934, Edição do Secretariado de Propaganda Nacional, Lisboa, 1934

Lote 376
Preço: 300 €

Álbum monumental de propaganda nacionalista e imperialista feito sob a batuta de António Ferro, contratado um ano antes para liderar o Serviço de Propaganda Nacional. A fotomontagem é um dos arranjos gráficos recorrentes ao longo da obra que conta com a participação fotográfica de Alvão, A. Rasteiro, João Martins, Diniz Salgado, Ferreira da Cunha, Francisco Santos, Horácio Novais, Joshua Benoliel, José Mesquita, Luis Teixeira, Pinheiro Correia, Mário Novais, Octávio Bobone, Raimundo Vaissier, Raúl Reis, Salazar Diniz, Serra Ribeiro, V. Rodrigues.


Tytania (pseud.). Fairylife and fairyland : a lyrie poem / Communicated by Tytania trough her Secretary , Thomas of Ercildourne. London: L. Booth, 1870. (16 provas de albumina)

Lote 377
Preço: 2000 €

É o lote mais caro do leilão. A encadernação é rica mas está em mau estado. Um dos motivos que mais interesse despertou no fotógrafo, que se esconde num pseudónimo, foi o Palácio de Monserrate com oito fotografias no total da obra.


Secção: fotografia contemporânea
Alberto Picco. Fotografia de estudo para capa da revista do jornal Independente, nº 118, 24 de Agosto de 1990 (papel de revelação)

Lote 396
Preço: 30 €

Esta imagem de Alberto Picco faz parte de um pequeno grupo de lotes dedicados à fotografia contemporânea que faz aqui a sua estreia em leilões de fotografia em Portugal. Apesar de tímida, a iniciativa de trazer à praça fotografia que se praticou recentemente em Portugal abre um novo e importante campo para o curto mercado nacional. Além de outra fotografia de Picco, há três imagens de Agostinho Gonçalves que exploram uma composição distorcida.


Guia de compras
Onde ver as fotografias antes de as comprar?
A Potássio 4 (loja 4, módulo 3 do CCB, Lisboa) tem desde ontem todos os lotes expostos para consulta. É possível haver “engarrafamentos”, por isso convém telefonar para perceber se há mesas (e luvas) disponíveis. O prazo para ver as fotografias que vão a leilão acaba amanhã (entre as 10h00 e as 20h00). O catálogo está disponível online aqui.

Como comprar?
O pregoeiro deste leilão deve impor um ritmo mais acelerado em relação ao que aconteceu na primeira venda. É preciso estar atento e pensar depressa para não deixar escapar o lote que se quer. A venda está agendada para quinta-feira, às 21h00, na sala Laman do CCB. Antes de entrar, os interessados devem fazer uma inscrição para receber uma raqueta com um número de licitação. Também será possível licitar por telefone e, pela primeira vez, pela Internet. Para estas duas últimas modalidades de licitação é preciso fazer uma pré-inscrição no site http://www.p4photography.com/.

Quanto custa?
O preço que aparece no catálogo é o preço-base do lote. Ao número decidido pelo martelo, deve acrescentar-se a comissão da leiloeira (15 por cento) e sobre esta 21 por cento de IVA.

Como pagar?
Todos os lotes arrematados deverão ser totalmente pagos num prazo de 24 horas depois do fim do leilão no local da venda ou na sede da empresa que a organizou. As peças poderão ficar na posse do comprador logo depois do leilão terminar.

Potássio Quatro
Loja 4, módulo 3, Centro Cultural de Belém, Lisboa
Tel., Fax.: 213621894
Email: info@potassioquatro.com

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro senhor, fiquei muito interessado por ter encontrado este seu blog. Estou a fazer um livro ilustrado, para o qual imagens fotográficas do uso de "costumes" regionais do Minho entre 1880 a 1940. Assim, quaisquer referências que tenha a paciência de me sugerir - existências, lugares de pesquisa, lotes em venda - serão preciosas e com certeza que as agradecerei.
com melhores cumprimentos
antonio.medeiros@iscte.pt

 
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