04 novembro, 2013

alô!

Cooking fish, Cooking of Spain and Portugal
© Time-Life Books

Está aí alguém?
(Revista 2, 20.10.2013)

Agora sim. Depois de um ano de troca de argumentos, os especialistas da NASA confirmaram na revista Science que a estóica sonda Voyager 1 está mesmo num espaço muito distante. Atravessou a fronteira da heliopausa e chegou ao "abismo do espaço interestelar", ou seja, a uns 19 mil milhões de quilómetros do Sol. Levado pelo entusiasmo de saber que um objecto fabricado pelo homem alcançou pela primeira vez tão medonha distância, andei a vasculhar os arquivos online da NASA e, para além de coisas interessantes acerca das missões da Voyager, descobri muitos GIF animados e páginas de fundo preto com letras de verde fluorescente, isto é, uma viagem aos confins intergalácticos da Net.

A Voyager 1, lançada em 1977 com a missão de observar o sistema solar exterior, deu muitas alegrias à ciência, à astronomia e à fotografia. Para além de nos ter dado a primeira panorâmica do nosso sistema solar, transportou para o espaço uma espécie de bilhete de identidade da humanidade em imagens (fotográficas e não só) para extraterrestres verem (se é que vêem). A ideia foi de Carl Sagan, astrobiólogo, astrónomo, astrofísico, cosmólogo, escritor... Convicto da existência de vida noutros lugares, o autor de Contacto convenceu a NASA a incluir registos de imagens fotográficas e som. A ideia era que pudessem servir como amostras de uma atitude pacífica e que fizessem uma apresentação daquilo que somos, que fossem os Murmúrios da Terra (como lhe chamou Sagan num livro de 1978). Uma equipa liderada por Timothy Ferris (colaborador da revista Rolling Stone) concebeu um disco de ouro (o famoso The Golden Record), com registos de sons da Terra, excertos de músicas (Chuck Berry incluído) e 115 imagens (electronicamente gravadas). A NASA aprovou a ideia. A escolha do "melhor da Terra" demorou dez meses. Talvez por causa da instabilidade significante da fotografia (que é capaz de mudar de sentido por efeito da variação dos contextos) e algum moralismo à mistura. A agência vetou uma imagem que mostrava um homem e uma mulher grávida, nus, de mãos dadas e que até estavam numa pose "pouco erótica".

A equipa que escolheu as fotografias explicou que o critério não era estético. A preocupação principal era seleccionar imagens que fossem ricas em informação e capazes de a transmitir de forma clara. Não se sabe se este objectivo foi inteiramente alcançado, porque (ainda) não recebemos resposta dos destinatários. Mas, ao olharmos para o peixe grelhado (douradas?) da fotografia Cooking fish, Cooking of Spain and Portugal que viajou a bordo da Voyager 1, de uma coisa podemos ter a certeza: se decidirem aterrar na Península Ibérica, os alienígenas não ficarão mal servidos.

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