Istambul © Ara Güller |
“Quando tinha cinco anos, fui mandado para outro apartamento durante algum tempo. Os meus pais, em consequência de uma daquelas separações que se seguiam às sua zangas, acabaram por juntar-se em Paris, e eu e o meu irmão, que tínhamos ficado em Istambul, fomos cada um para seu lado. O meu irmão mais velho ficou a minha avó e o resto da família, na Residência Pamuk situada em Nisantasi, e eu fui mandado para casa da minha tia, em Cihangir. Numa parede desse apartamento, onde sempre fui recebido com um sorriso e muito amor, encontrava-se, numa moldura branca, a fotografia de um rapazinho. De vez em quando a minha tia, ou o marido, apontava para a foto e dizia a sorrir: "Olha, és tu."
É verdade que o gentil menino de olhos muito grandes se parecia um pouco comigo. Tinha na cabeça um boné semelhante ao que eu usava quando saía à rua. No entanto, eu sabia que aquela foto não era a minha. (Era, na realidade, a reprodução kitsch da fotografia de um petiz muito querido, trazida da Europa.) Era então esse o outro Orhan que vivia noutra casa e no qual eu pensava tanto?”
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