09 novembro, 2011

Struth no Porto

Thomas Struth, Museo del Prado, Madrid, 2005
©
Thomas Struth


Volta ao mundo com Thomas Struth
Sérgio C. Andrade (P2, Público, 29.10.2011)

Chama-se apenas Fotografias 1978- 2010, e é disso que verdadeiramente se trata na exposição que abriu ao público no Museu de Arte Contemporânea de Serralves (MACS), no Porto. É a primeira apresentação antológica em Portugal do trabalho do alemão Thomas Struth (n. Dusseldorf, 1954), o fotógrafo que durante as últimas três décadas deu a volta ao mundo e o registou numa escala até agora raras vezes vista: pela diversidade, pela dimensão e, claro, pelo ponto de vista.

“Uma das grandes questões da fotografia é como condensar uma narrativa numa imagem parada, especialmente se essa narrativa é complexa: que escolhas fazemos, onde localizamos a câmara, como enquadramos os espaços, as pessoas, os objectos que fazem essa narrativa? Esta é a luta do meu trabalho”. Thomas Struth explicou assim a motivação da sua obra, na quinta-feira, na visita em que guiou os jornalistas pela dezena de espaços que as suas fotografias ocupam em dois pisos do MACS.

A exposição do artista alemão ao Porto no final de um circuito europeu que começou em Zurique (Kunsthaus) e passou depois pela sua cidade natal (Kunstsammlung Nordrhein-Westfalen) e por Londres (Whitechapel Gallery).

“Agora é a grand finale”, exclamou o director do MACS, João Fernandes, explicando que a montagem da exposição, comissariada por James Lingwood, obrigou a uma adaptação especial aos espaços do museu. O comissário notou que a montagem tinha seguido o princípio da “profundidade de campo”, aproveitando as próprias potencialidades narrativas das salas de Serralves — bem diferentes dos espaços mais amplos e convencionais dos museus onde as fotografias tinham sido mostradas antes.

A exposição abre sob o signo da alta tecnologia, numa sala onde saltamos do Instituto Max Planck, na Alemanha, para o Centro Espacial Kennedy, nos EUA. Continua, depois, numa verdadeira volta ao mundo — como o manifesto de “um artista na época do capitalismo globalizado”, diz João Fernandes —, em sucessivas séries temáticas, que identificam também diferentes momentos da obra de Struth. Nelas avultam a atenção aos contrastes de cidades e arquitecturas que parecem fantasmáticas mas que evidenciam os saltos no tempo; a perspectiva com que Struth capta as multidões que visitam os grandes museus e outros lugares “sagrados”; ou a rendição com que fotografa o emaranhado cromático de florestas de diferentes países e continentes, quase “como se fossem quadros de Jackson Pollock”, notou o director do MACS.

“Estas imagens só existem porque a fotografia pareceu-me ser a melhor técnica, o melhor formato, para eu expor as narrativas que tenho na minha cabeça”, concluiu Struth.


(Thomas Struth falou ao Guardian sobre a sua imagem preferida. aqui)

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