O outro George Bernard Shaw
Sérgio C. Andrade
Ípsilon, Público (15.07.2011)
Um homem ainda jovem, com barba e bigode, chapéu branco na cabeça, ajeita o colarinho enquanto posa frente a um espelho que lhe devolve um perfil seguro de si; o mesmo homem em novo auto-retrato, deitado num sofá, nu à excepção de parte do corpo estrategicamente coberta por um livro, e iluminado pela luz de um candeeiro; ou a mesma figura, igualmente nua, em perfil glosando a pose do Pensador de Rodin...
Estas não são as fotografias nem os “preparos” em que estamos habituados a ver George Bernard Shaw (1856-1950), o velho sábio irlandês de barbas, que, como escritor e dramaturgo, marcou a literatura de língua inglesa da primeira metade do século XX, e que nos deixou “Pigmaleão” (1913), a peça que deu origem a “My Fair Lady” (George Cukor, 1964). Mas são estas, e muitas mais – são milhares –, as fotografias que desde meados de Julho estão a ser “reveladas” ao público, simultaneamente numa exposição no National Trust’s Fox Talbot Museum, em Lacock, no Sudoeste da Inglaterra, e na página online da London School of Economics (LSE).
Não é do domínio (do grande) público que Bernard Shaw, além de grande escritor, ensaísta, polemista e agitador (que em 1925 recusou o dinheiro do Nobel), teve na fotografia outra das suas grandes paixões. À data da sua morte, a sua casa em Ayot Saint Lawrence, nos arredores de Londres, juntamente com o recheio foram deixados ao National Trust, criado pelo pioneiro da fotografia William Henry Fox Talbot (1800-1877). Em 1979, a instituição depositou o espólio fotográfico de Shaw – cerca de 20 mil imagens, metade delas ainda impressas em vida pelo escritor – na LSE, onde a Divisão de Arquivos se ocupou de o restaurar e catalogar, quando conseguiu fundos para tal. O trabalho foi realizado sob a orientação da curadora Karyn Stuckley, que procedeu também à selecção das imagens agora colocadas online pela LSE. Já o comissário da exposição no National Trust’s Fox Talbot Museum é Roger Watson. Ambos concordam que esta colecção de fotografias não teria o mesmo valor se elas não tivessem sido tiradas por Bernard Shaw: “Ele não será um fotógrafo de primeira linha, mas ocupa uma posição destacada se o colocarmos num segundo escalão, principalmente nos seus primeiros trabalhos”, disse Roger Watson ao The Guardian.
De facto, o interesse de Shaw pela fotografia é bastante anterior à conquista da celebridade como escritor. O jovem nascido em Dublin iniciou mesmo a sua carreira fazendo jornalismo e crítica de arte, e também de fotografia. Os retratos que deixou documentam a sua biografia e as pessoas com quem se relacionou – principalmente as mulheres, desde a sua, Charlotte Payne-Townshend, até às actrizes das suas peças, como Patrick Campbell e Vivien Leigh, além de escritores como H.G. Wells e T.E. Lawrence, de quem foi especial amigo.
“São trabalhos de Bernard Shaw” – nota Roger Watson –, “e isso faz deles uma outra história” para além da história da fotografia.
"I always wanted to draw and paint. I had no literary ambition: I aspired to be a Michael Angelo, not a Shakespear [sic]. But I could not draw well enough to satisfy myself; and the instruction I could get was worse than useless. So when dry plates and push buttons came into the market I bought a box camera and began pushing the button. It was in 1898"
09 agosto, 2011
Shaw
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