02 maio, 2010

J. Laurent

Palácio de Monserrate, Sintra (Colecção Alexandre Ramires)


O pioneiro francês que fotografava ao ritmo do comboio

Sérgio C. Andrade
P2, Público (1.05.2010)

A convicção de Ângela Castelo-Branco, a comissária portuguesa da exposição J. Laurent e Portugal - Fotografia do Século XIX, na Torre do Tombo, em Lisboa (até 31 de Maio), é que este pioneiro francês da fotografia (1816-1886), mas que desenvolveu o mais importante da sua actividade a partir de Madrid, onde montou o seu estúdio e se tornou numa espécie de fotógrafo oficial da casa real, visitou e fotografou Portugal em 1869, tendo mesmo ficado por cá até ao início do ano seguinte.

Ainda que não tenham sido até agora descobertos testemunhos que permitam fixar com certeza histórica a data da viagem, a comissária e investigadora da história da fotografia socorre-se de elementos como o calendário do desenvolvimento da rede ferroviária no nosso país para avançar o ano de 1869. "O fotógrafo deslocava-se de comboio devido à quantidade de material necessário para a obtenção dos negativos em vidro de colódio húmido que tinham de ser sensibilizados e revelados no local onde se fotografava", escreve Ângela Castelo-Branco no texto de apresentação da exposição - que, no ano passado, foi apresentada no Centro Português de Fotografia/Cadeia da Relação, no Porto, e que deverá poder vir ainda a contar com um catálogo que documente a importância de Laurent para a história da fotografia.

J. (que pode ser lido Jean ou Juan) Laurent "foi o primeiro fotógrafo a fazer o levantamento paisagístico e patrimonial da Península Ibérica", diz ao P2 a comissária da exposição, relevando "a grande visão comercial" que presidiu a este projecto de "inventário". Publicou em 1872 e 79, no seu Catálogo de los retratos que se vendem en casa de J. Laurent, a série de fotografias que realizara em Portugal. Nelas destacam-se paisagens, retratos (género a que Laurent se dedicou no início da carreira, e que está também ainda pouco documentado) e registos de vários monumentos, mas há também pintura e escultura fotografadas em instituições como as academias reais das Ciências e de Belas-Artes, em Lisboa.

Mas são principalmente os monumentos mais conhecidos do património português que foram documentados pela objectiva de Laurent, e que na Torre do Tombo podemos agora revisitar, recuando à segunda metade do século XIX: o Palácio de Monserrate, em Sintra, os Jerónimos, em Lisboa, os mosteiros da Batalha e de Alcobaça, a igrejas de Santa Cruz, em Coimbra, dos Clérigos, no Porto, ou do Bom Jesus, em Braga...

Para além de Castelo-Branco, a exposição J. Laurent e Portugal (integralmente constituída por imagens originais, e que inclui também algumas "vistas" de Espanha) é igualmente comissariada por Alexandre Ramires e pelo espanhol Carlos Teixidor, curador dos espólios fotográficos de J. Laurent, que estão depositados no Instituto do Património Cultural de Espanha e no arquivo Ruiz Vernacci, em Madrid.


Elche, Alicante, Espanha (Colecção Nuno Borges de Araújo)

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