18 fevereiro, 2010

Carlos Afonso Dias (1930-2010)


Miradouro de Sta. Luzia, Lisboa, 1957
(© Carlos Afonso Dias)


Morreu o fotógrafo Carlos Afonso Dias.

Em actividade desde meados da década 50, contemporâneo de Gérard Castello Lopes, Costa Martins/Vítor Palla, Carlos Afonso Dias foi um dos poucos que nos anos de penumbra criativa do Estado Novo desviaram caminho da fotografia salonista e académica que então se praticava. Sem referências internas para seguir, os que escolheram a fotografia livre do jugo ideológico procuraram noutras paragens o seu modelo de fotografia. Henri Cartier-Bresson foi um desses faróis. E com ele a fotografia preocupada com os valores e a dignidade do ser humano que Carlos Afonso Dias também praticou.
O percurso de Carlos Afonso Dias na fotografia portuguesa é discreto e foram raras as vezes que mostrou o seu trabalho em público. O primeiro grande raio de luz que se projectou sobre as imagens que tirou em Portugal e no estrangeiro foi dado pela Galeria Ether, Vale Tudo Menos Tirar Olhos, em 1989, com a exposição Fotografias 1954-1969.
Em Outubro de 2008, a galeria Pente 10 mostrou boa parte das imagens mais significativas dos primeiros anos de actividade de Carlos Afonso Dias, engenheiro geógrafo de profissão, e revelou também um pequeno conjunto (6 fotografias) captadas nos últimos anos.

Carlos Afonso Dias é um grande fotógrafo português e, como todos nós, é um fotógrafo 'estrangeirado'. Seria bom que o público que se interessa pela fotografia soubesse que os fotógrafos portugueses só se servem de um ingrediente nacional: a água. Tudo o resto: a máquina, a objectiva, o filme, os filtros, o flash, os produtos químicos, o ampliador, as lâmpadas, o papel vem de fora. Como de fora vem a moda, um estilo, as preocupações, as revistas e os livros; numa palavra: os paradigmas.

Gérard Castello Lopes, prefácio a Carlos Afonso Dias, Lisboa, 1989

3 comentários:

alexandra_c disse...

a obra de Carlos Afonso Dias merecia ser melhor conhecida, tal como a de outros fotógrafos portugueses, claro ( e saliente-se o papel da Galeria Ether a esse nível) - nomeadamente aqueles que trabalharam nos anos 50 de forma dedicada, criativa, inovadora e desinteressada, isto é, sem dependerem de apoios ou reconhecimentos públicos. e há ainda o incontornável e diria que ainda mto desconhecido "Lisboa e Tejo e tudo"... é impressão minha ou ouvi/li qualquer coisa sobre a reedição desta obra? terá sido aqui?

Hellag disse...

Ficámos mais pobres...inquietante a última frase de Gerard Lopes!

Paulo Sousa disse...

Pois.
Muitos poucos "fotografos" da actualidade (refiro-me a todos aqueles que não discutam apenas equipamento em foruns) terão a real percepção do trabalho e importância de Carlos Afonso Dias.
Para a grande maioria, o salonismo ainda é o que está a dar.
É a nossa sina?

 
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