30 janeiro, 2010

documentar


© António Pedro Ferreira


António Pedro Ferreira
Os portugueses em França, depois dos bidonville

Sérgio B. Gomes
P2, Público, 30.01.2010

Para os fotógrafos, há poucos dias assim. Dias em que se realizam as quatro ou cinco melhores imagens de uma carreira. As mais marcantes, as que melhor sintetizam ambientes, vivências, estados de espírito - a carga emotiva. “É coisa rara”, garante António Pedro Ferreira que, na verdade, conseguiu registar numa tarde aquelas fotografias que guarda no Olimpo de todos os momentos que passaram pela sua objectiva. E foram muitos.

O homem com o dedo no gatilho (que faz lembrar a inocência do rapaz de granada na mão de Diane Arbus) e a mulher de bata prostrada sobre mesa são dois desses momentos fundamentais para o fotojornalista do semanário Expresso que, no início da década de 80, testemunhou o quotidiano da comunidade de emigrantes portugueses nos arrabaldes de Paris, quando os bairros de lata (os tristemente famosos bidonville) já tinham sido substituídos por outro tipo de guetos, erguidos em prefabricado, cercados de arame farpado e com saída para um viaduto.

Quando chegou a Paris em 1982, recém-formado em medicina, para fazer um estágio na prestigiada cooperativa de fotojornalismo Magnum (façanha até hoje inédita entre fotógrafos portugueses), o projecto para estudar de forma demorada e consistente a presença dos portugueses em França já estava bem delineado. Foi graças a ele (e a cartas de recomendação assinadas por nomes como Jean-Claude Lemagny, conservador de fotografia da Biblioteca Nacional de França, historiador e crítico de fotografia que ficou deslumbrado com trabalhos anteriores de António Pedro Ferreira) que ganhou o único lugar da primeira bolsa de fotografia criada pela Secretaria de Estado da Cultura. Mas foi sobretudo graças a um talento em ascensão que as portas da exclusiva Magnum se abriram para um longo trabalho documental.

Toda a abordagem formal do ensaio em Paris havia de ser marcada por livros de fotografia de Cartier-Bressen, Josef Kudelka, Tony Ray-Jones, Robert Frank, Edouard Boubat e William Klein (principal referência) consultados em Lisboa nas bibliotecas da Alliance Française, do Instituto Britânico ou à socapa na livraria Buchholz (Gypsies, de Koudelka era meticulosamente arrumado no fim de uma pilha de outros livros para não ser comprado). “Os livros de fotografia ensinaram-me a ver”, lembra António Pedro Ferreira.

Na agência, o trabalho do fotógrafo era orientado por Jimmy Fox, rédacteur-en-chef, que não abria mão de ver as provas antes de todos. Pelo menos uma vez por mês, cumpria-se o ritual de discutir as últimas imagens que mostravam todo o tipo de manifestações sociais, o dia-a-dia de portugueses que moravam em aglomerados como St. Denis e Gentilly. O resultado de mais de dois anos a acompanhar esta realidade é um retrato cru de uma comunidade relativamente desorientada, socialmente deslocada, angustiada e triste, fechada nas suas associações e colectividades.

Para além da importância como documento social, este ensaio deu passos inovadores. “O que é notável nestas fotografias é que elas marcam o início de uma nova atitude no fotojornalismo português. Estávamos perante um jovem que queria intervir na sociedade, testemunhando, convergindo com uma preocupação inabalável de produzir fotografias com referências. Fotografia pura e dura. Daí a Magnum e o aval de qualidade que sempre atestou ao seu trabalho”, escreve Luiz Carvalho no texto de Segunda Escolha, um conjunto de 20 fotografias com que a K Galeria, em Lisboa, inaugurou o ciclo de exposições de 2010. Segunda Escolha, entenda-se, apenas porque a maioria das imagens são inéditas e porque a primeira escolha deste trabalho foi feita para uma exposição no Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa, em 1998.

A K Galeria procura agora transformar esta exposição em livro. Para que fique gravado de maneira mais ampla e duradoura o que foi a odisseia da emigração portuguesa em França. Para que possa ser dado como exemplo o que foi um raro ensaio visual de jornalismo na história da fotografia em Portugal.



© António Pedro Ferreira

Resistência

Fundo Aurélio da Paz dos Reis © Centro Português de Fotografia/DGARQ/MC


Sérgio C. Andrade
P2, Público, 29.01.2010

Aurélio da Paz dos Reis costuma ser recordado como pioneiro do cinema português. A sua efémera aventura cinematográfica no final de 1896 atirou para segundo plano a sua extensa e notável obra de fotógrafo, em que registou vários momentos na vida social e política do país na viragem dos séculos XIX-XX. Entre esses episódios está o movimento que haveria de levar à implantação da República (na imagem acima, o registo de um impressionante comício republicano realizado no Porto, em 1908), e de que Paz dos Reis foi não só testemunha, com a sua câmara fotográfica, como protagonista: foi um dos sublevados do 31 de Janeiro de 1891, a malograda revolta do Porto cuja próxima efeméride é pretexto para o lançamento, no domingo, das comemorações do centenário da República.

O programa começa com a inauguração da exposição Resistência. Da alternativa republicana à luta contra a ditadura (1891-1974), que reúne em nove núcleos distribuídos pelos diferentes espaços do Centro Português de Fotografia (CPF)/Cadeia da Relação, no Porto, uma perspectiva histórico-documental sobre esse percurso entre o 31 de Janeiro e o 25 de Abril.

Realizada com base em fotografias - mas também em filmes, testemunhos audiovisuais e textos -, esta não é, contudo, uma exposição de arte fotográfica. "Aqui não temos fotografias originais, temos reproduções de chapas e de páginas de diferentes publicações. Muitas vezes custa sacrificar uma boa fotografia do ponto de vista estético para dar lugar a outra cujo potencial narrativo é mais adequado ao projecto documental", justifica Tereza Siza, comissária da exposição em parceria com o historiador Manuel Loff (a montagem cenográfica é do designer Andrew Howard).

As três centenas de imagens reunidas na Cadeia da Relação pertencem a vários arquivos institucionais e particulares (Dgarq, CPF, Assembleia da República, Hemeroteca de Lisboa, Arquivo Histórico-Militar e Fundação Mário Soares, mas também às colecções pessoais de Artur Santos Silva, Mário Marques e Alfredo Ribeiro dos Santos) e testemunham praticamente um século da História portuguesa, desde o 31 de Janeiro até à Revolução dos Cravos. Os comícios, a festa e as figuras da República, o 28 de Maio de 1926 e a primeira tentativa de revolta logo no início do ano seguinte, também no Porto, os anos do Estado Novo e do salazarismo, na sua suposta (e imposta) pacatez e ordem, os movimentos da Resistência, desde as greves dos anos 40 até às campanhas presidenciais de Norton de Matos e de Humberto Delgado, e, claro, o 25 de Abril de 1974 - são as várias estações desta visita guiada. Para ver até ao próximo 5 de Outubro, dia do centenário da República.


Fundo Aurélio da Paz dos Reis © Centro Português de Fotografia/DGARQ/MC

novos livros



Há dois novos livros no mercado sobre outras tantas revoluções na história da fotografia da segunda metade do século XX. Starburst: Color Photography in America 1970-1980 (Hatje Cantz, 2010), com ensaios de Kevin Moore, Leo Rubinfien e James Crump, explica como é que o uso da cor veio inaugurar novos modos de ver. The Düsseldorf School of Photography, com texto de Stefan Gronert, fala sobre a evolução e a importância da escola de Düsseldorf na produção contemporânea de fotografia.
O blogger Jörg M. Colberg escreveu duas resenhas críticas sobre cada uma das obras aqui


29 janeiro, 2010

pyramid lake no iPad

Richard Misrach, Pyramid Lake (at Night), 2004
© Richard Misrach


Richard Misrach ainda não assinou contrato, mas foi uma fotografia sua a escolhida para a imagem de fundo dos recém-nascidos iPad da Apple.


© Kimberly White/Reuters

{photoarquia}


26 janeiro, 2010

=ColecçãoàVista= 45

Weegee, On the fire-escape, Nova Iorque, E.U.A., c. 1940
Colecção Nacional de Fotografia © Centro Português de Fotografia



Ruas de Nova Iorque

Fotografou a preto e branco o mundo em que vivia, com uma câmara Speed Graphic, noite após noite nas ruas, registou os criminosos e as vítimas, algum glamour e os extraordinariamente pobres, uma certa sociedade nova iorquina dos anos 30 e 40 do Século XX incongruente com o nosso imaginário. Era essa a sua função enquanto repórter, mas Weegee (1899-1968) era um perfeccionista, sabia o que procurava e não era apenas a última notícia, a mais sonante para os matutinos do dia seguinte, procurava uma imagem em concreto. Viu o seu trabalho publicado em jornais e revistas como o P.M., Life, Vogue, Holiday, Look ou Fortune. As suas imagens são tão fantásticas quanto cruas, mas é aí que reside o seu encanto.
(texto: CPF)

entre aspas

Bruce Gilden, Haiti, Port au Prince, worker in La Saline, 1989
© Bruce Gilden/Magnum Photos

I'm known for taking pictures very close, and the older I get, the closer I get.

Bruce Gilden, in Magnum Photos Featured Photographer

22 janeiro, 2010

Mimesis

Miguel Godinho, Mimesis
© Miguel Godinho


Mimesis, o trabalho com que Miguel Godinho venceu o prémio Novos Talentos FNAC Fotografia 2009, é apresentado hoje na FNAC Colombo, em Lisboa, onde ficará em exposição. Miguel Proença, com Los Agarradores, e Cátia Alves, com Um Dia Pergunto o Teu Nome, também estarão presentes para falarem sobre os portfólios reconhecidos com menções honrosas.

O júri defendeu a atribuição do prémio a Miguel Godinho assim:

A captura fiel da natureza em parcelas facilmente transportáveis foi um dos principais desígnios que levou à descoberta da imagem fotográfica. Pode dizer-se que é da natureza da fotografia o propósito de registo do mundo vivo e da paisagem natural que nos rodeia. Ao espanto pueril que emana da largueza de vistas dos primeiros tempos, sucederam-se as missões fotográficas, as utópicas aspirações de classificação e registo e os românticos conjuntos que distinguiam socialmente o viajante regressado de lugares exóticos. Veio desse tempo Oitocentista uma imagem da natureza plácida, majestosa, terna, cândida e macia. Uma natureza adocicada por tons canela e sépia, escondida por brumas imensas de gosto academista.

A natureza sempre habitou a fotografia - está
em si. Paradoxalmente, a escolha da natureza como tema referencial, como discurso narrativo ou exercício conceptual não acompanhou essa omnipresença. O desprezo pela natureza enquanto matéria de reflexão crítica ou enquanto alicerce fundamental de movimentos estilísticos na fotografia manteve-se por largas décadas do século XX. Talvez porque a desordem e a magnitude do que pode ser revelado a partir da natureza colidam com outro dos fundamentos da fotografia, o da ordem.

Que critérios usar para apreender tão grande objecto? Que abordagem deve ser privilegiada? A empírica? A sensorial-contemplativa? A documental? A conceptual? Porque é múltipla, perene e dinâmica, a natureza é terreno fértil para a dispersão, para o desfoque interpretativo. As práticas fotográficas que, na década de 70, reinterpretaram a abordagem paisagística vinda da tradição de Oitocentos e o “estilo documental” de autores como Walker Evans e Ansel Adams formam uma resposta a essa volatilidade. Com elas surgem novas formas de cartografar e descrever os processos e as idiossincrasias da paisagem e uma crítica à exploração e destruição de espaços naturais. São as novas topografias baseadas na assunção e procura da imagem fotográfica como documento puro.

O projecto
Mimesis de Miguel Godinho percorre um destes caminhos de metodologia rigorosa por onde a fotografia se reencontra com a natureza para aí ser protagonista e alvo de reflexão visual. É um trabalho que problematiza o relacionamento com os símbolos, as formas, os espaços e a vida que o ambiente natural nos oferece. Fundado numa aproximação que renuncia aos efeitos (mas que procura os artifícios), Mimesis (imitação, representação) encontra familiaridade nesse ideário estético dos anos 70 que originou múltiplas abordagens documentais topográficas e marcou o regresso à natureza como tema e problema (ecológico, social…) do discurso fotográfico.

A necessidade humana de estar ao lado da natureza, de se enquadrar nela e de a tomar como modelo é-nos dada ora por representações contemplativas e melancólicas, ora por paisagens íntimas, cruas e de pendor vernacular. As imagens de Mimesis não fogem à fealdade. Aceitam-na, incorporam-na como discurso. Porque o quotidiano que partilhamos com a Natureza nem sempre é deslumbrante e belo. A representação de cenas banais e objectos ordinários elevada por Stephen Shore (Nova Iorque, EUA, 1947), ainda num tempo de pioneirismo na utilização da cor, é uma referência assumida.

De maneira despretensiosa (mas eficaz), as fotografias de Miguel Godinho lembram, e de certa forma desmascaram, uma necessidade visual absoluta de assimilar e reproduzir os modelos da natureza, seja nas mais ínfimas manifestações do quotidiano, seja nas mais anacrónicas (ou esplendorosas) intervenções na paisagem. Os vazios urbanos (os baldios, os lugares sem qualidades) e a relação entre arquitectura e poder problematizados por John R. Gossage (Staten Island, EUA, 1946), bem como as periferias documentadas por Paulo Catrica (Lisboa, 1965) constituem referenciais importantes no trabalho de Miguel Godinho.

O campo da natureza como programa criativo tem sido muito explorado nas últimas décadas. A paisagem, por exemplo, deixou de ser há muito um tema antiquado para se tornar numa das mais férteis matérias de reflexão, uma corrente de trabalho impulsionada por novos problemas colocados por disciplinas como a arquitectura, a economia, o urbanismo ou a ecologia. Apesar da multiplicidade de propostas (e da sensação de que tudo já foi visualmente explorado), permanecerão vias alternativas de questionamento, como esta que Miguel Godinho encontrou. A presença da natureza no Homem, quase um enamoramento, e a interacção atabalhoada com o espaço vivo que dão forma a Mimesis enquadram-se nos mais pertinentes projectos criativos da actualidade e constituem terrenos não muito experimentados no contemporâneo panorama fotográfico português.


Miguel Godinho, Mimesis
© Miguel Godinho

tentar

Emily Schiffer, vencedora do prémio Inge Morath 2009, Cheyenne River
© Emily Schiffer

A cooperativa Magnum e a Inge Morath Foundation recebem portfólios para o prémio Inge Morath até ao dia 30 de Abril. Podem candidatar-se fotógrafas até aos 30 anos que tenham trabalhos de reportagem ou de ensaio documental. O resultado será conhecido em Julho e o prémio principal é de 3500 euros, valor que deve ser utilizado para dar continuidade ao projecto em curso.

egoísta X 10


A revista Egoísta, por onde têm passado muitos e bons fotógrafos, está a comemorar 10 anos de vida.
Que venham mais 10.

os flocos de Bentley

Wilson A. Bentley
Carl Hammer Gallery, Chicago

Não há dois iguais. Nenhum dos 5000 flocos de neve fotografados pelo agricultor da Vermont Wilson A. Bentley, mais conhecido por snowflake Bentley, tem um irmão gémeo no fascinante e pioneiro projecto de descoberta das entranhas da natureza levado a cabo durante a segunda metade do século XIX.
As experiências de Bentley e sua paixão por estas micro-formas de água em estado sólido levaram-no às primeiras fotografias de flocos de neve de que há registo. Um conjunto de 26 imagens assinadas por Bentley vão ser leiloadas na próxima semana durante o American Antiques Show, organizado pelo American Folk Art Museum de Nova Iorque. As imagens de flocos de neve, pertencentes à Carl Hammer Gallery, de Chicago, têm um preço base de 4800 dólares cada. Dentro deste conjunto serão também leiloadas paisagens de Inverno de "The Snowflake Man", outra das alcunhas de Bentley. A tecnologia usada por Bentley veio mais tarde a chamar-se "microfotografia".

Under the microscope, I found that snowflakes were miracles of beauty; and it seemed a shame that this beauty should not be seen and appreciated by others. (...) Every crystal was a masterpiece of design, and no one design was ever repeated. When a snowflake melted, that design was forever lost.


Bentley com as máquinas pioneiras de microfotografia, 1885
NOAA's National Weather Service (NWS) Collection

19 janeiro, 2010

lempert

Joachen Lempert, Pour la forme, 2007
© Joachen Lempert

Os elogios a Trabalho de Campo, de Joachen Lempert (Culturgest, Lisboa, 2009) não se ficam por Portugal. A última edição da revista Aperture dedica uma crítica à exposição programada por Miguel Wandschneider. Os elogios sucedem-se. Brian Sholis chama-lhe uma "revelação imprevista" e termina assim:

(...) Far from being mere ´nature studies`, Lempert`s photographs are evidence of an artistic sensibility compelled to wrest order from circunstance, and, through the tight control of progression, variation, focus, scale, and exposure, to make of this order something enchanting.


=ColecçãoàVista= 44


Typo do Celles, in Africa Occidental, Album Phographico e Descriptivo, por C. Moraes, III parte, 1885-1888
Colecção Nacional de Fotografia©Centro Português de Fotografia

José Augusto Cunha Moraes

Fotógrafo de destaque quando se fala da antiga colónia angolana e do seu povo, desenvolveu trabalhos fotográficos de carácter antropológico e exploratório que constituem verdadeiras fontes de informação etno-geográficas do território. Características raciais, detalhes de vestuário, ornamentos e artefactos das diversas etnias, aspectos paisagísticos e a implantação dos colonos portugueses, são pormenores que não escapam à sua objectiva.
Em 1863 passa viver em Luanda onde o pai dirigia uma casa fotográfica. Com a perda precoce dos pais, acaba por voltar para Portugal, mais precisamente para o Porto, onde conclui os estudos. Já de volta a África, toma conta do negócio da família e fá-lo prosperar.
Regressa novamente ao Porto em 1897 e emprega-se na Casa Biel como sócio da secção de publicações.
(texto:CPF)

13 janeiro, 2010

Dennis Stock (1928-2010)

Dennis Stock, Venice Beach Rock Festival, 1968
© Dennis Stock

Morreu o fotógrafo da cooperativa Magnum Dennis Stock (1928-2010). Aclamado como um dos mais independentes e talentosos fotógrafos da agência da segunda metade do século XX, Stock fotografou músicos de jazz, os movimentos frenéticos dos anos 60 nos EUA e uma constelação de estrelas de Hollywood, entre as quais se conta uma que, também por causa da sua objectiva, acabou por brilhar mais do que todas: James Dean.
A sessão que fez com o actor, em 1955, cujo resultado foi publicado na revista Life, ficará como uma dos mais altos registos da sua longa carreira (esteve mais de 60 anos ligado à Magnum).
Para além dos retratos de Hollywood, Stock tinha um fascínio particular pelo mundo do jazz. Louis Armstrong, Billie Holiday, Sidney Bechet, Gene Krupa, Duke Ellington, são alguns dos nomes que fotografou.
Uma vez disse que preferia que lhe chamassem ensaísta. Mas nunca se livrará do facto de lhe chamarem “o fotojornalista”, tendo assim ficado eternizado por uma fotografia tirada por Andreas Feininger. Nessa imagem, tirada para uma capa da revista Life, um homem espreita pela lente de uma máquina Leica. O homem por trás da lente é Dennis Stock.

Tive o privilégio de ver a maior parte da vida através da lente das minhas máquinas, o que tornou esta viagem uma experiência alucinante.

sintetizar


Port-au-Prince, via Twitter
© Carel Pedre

Em momentos de catástrofe, isolamento e tensão as palavras escritas via web vencem em velocidade as fotografias. É das imagens (sobretudo das fotográficas) que se alimenta e se sacia a voragem informativa característica dos acontecimentos turbilhão, como o do sismo de hoje no Haiti. Por vezes, da precariedade e da confusão surgem imagens como esta - que sintetizam, que resumem quase tudo, independentemente da sua natureza, forma, estilo, autor ou canal de divulgação. E ao vê-las parece que já vimos tudo.

prolongamento II



A exposição colectiva a State of Affairs do colectivo [kameraphoto], no espaço Plataforma Revólver, foi prolongada até ao dia 16 de Janeiro. O (bem) renovado site da K mostra os vários pontos do mundo que ligaram este ambicioso projecto que envolveu 13 fotógrafos, em 13 cidades, durante 7 dias. As 91 imagens seleccionadas formam uma panorâmica peculiar deste puzzle geográfico. Aqui

Plataforma Revólver
Rua da Boavista nº 84, 1º, Lisboa
De seg. a sáb. das 14h00 às 19h30

12 janeiro, 2010

prolongamento I

Edgar Martins, da série When Light Casts no Shadow
© Edgar Martins

A exposição When Light Casts no Shadow de Edgar Martins, patente na galeria Porta 33, no Funchal, Madeira, foi prolongada até ao dia 13 de Fevereiro.
O texto que a crítica Margarida Medeiros escreveu sobre este trabalho pode ser lido aqui

Após a polémica com o trabalho The Ruins of the Gilded Age publicado em Julho do ano passado pela New York Times Magazine e retirado do site do jornal americano, Edgar Martins divulgou um texto em inglês onde explicava a sua abordagem ao atrabalho. A versão desse ensaio pode agora ser lida em português aqui

10 janeiro, 2010

/uma fotografia, um nome\


Jorge Molder, da série La Reine nous salue: o tamanho da memória, 2001
© Jorge Molder


Não escrevo muito sobre as fotografias de Jorge Molder. Talvez porque obedeça à contrição do conceptualismo evidente, talvez porque saiba, como todos sabemos, que ele considera todos os discursos demasiado paralelos às suas intenções e formalização.

Claro que, apesar destas precauções e deste distanciamento há todo um corpo discursivo que se foi acumulando com o disparar da sua projecção a partir daquelas narrativas literárias que nos faziam identificar cenários que apenas a ficção inventara para nós, como o “Secret Agent”, “Zerlina” ou “Cabinet d’amateur”. Exposições que indiciavam as mitificações com que fazemos os nossos dias. Aí, todos os clichés literários ganhavam, (como o nº 10 de Baker Street esclarece sobre Sherlock Holmes), a positividade do real.

O tempo habituou-nos a que cada série sua não é apenas o que aparenta, embora também o seja. Cientes deste paradoxo amigável, foi-nos mais difícil lidar com as suas longuíssimas séries de auto-representação que entusiasmaram os pós-modernos e que nos enviavam para a apropriação do discurso sobre o corpo, sobre a expressão, sobre o gesto e a sua sequente banalização interpretativa. Com essas séries também aprendemos que não há aí uma foto a mais, uma foto mais imperfeita; são todas as necessárias, são todas fotograficamente perfeitas na sua glória do preto e branco extremado. E, mesmo quando há saturação do motivo, a saturação é o objectivo.

Mas cada um escolhe a sua imagem-fetiche, aquela que fica indelével na memória dos dias. A obsessão é da história pessoal e eu evoco sempre um drácula tenso e adormecido, muito branco e muito belo, jazendo num movimento de quase-erguer que fazia parte da sua série que inaugurou as instalações do Centro Português de Fotografia na Cadeia de Relação. Talvez porque gosto da serenidade que oculta a paixão e a misturei com as lendas vivas do final de século.

Esta imagem fotográfica da série La reine vous salue… foi retirada do pequeno catálogo que trouxe comigo, em 2001, do Museu de História Natural, em Lisboa. A exposição mostrava-se na Sala do Veado e já então considerei que o arrepio das imagens se casavam bem com o sortilégio do mistério da Festa do Veado dos ritos celtas, onde tudo não é o que parece pois tudo se passa em Avalon. No texto introdutório, fazendo uma citação, Molder evoca o movimento da memória quando “recordamos coisas que nunca nos aconteceram”. Coisas que nos desviam da realidade e nos saturam a memória. O que se tornou bem claro na minha própria impressão sobre as imagens. Considerei que esta imagem congregava em si toda a intenção da mostra, que envolvi no mistério da aliança do veado com a virgem eleita: a alucinação, as sombras, a indeterminação das formas, a incapacidade de reter a realidade, de a isolar dos medos e das suas roupagens. O que fica da memória que se não viveu, como a minha, que apenas a tenho da literatura é a ferida de uma impressão vaga. O autor das imagens mostra a moldagem inacabada de um rosto, desvirtuada nas suas formas pelas sombras que a escondem, pelos traços que a alteram. Há qualquer coisa de construção inacabada, de forma que só se definirá através da acção. É como uma suspensão do que poderá vir a ser um fenómeno.

Mas fica o olhar; e o olhar é uma impressão. Sentimo-lo, forte e inquietante, porque incompleto; em vão procuramos os olhos, há apenas uma imprecisa pupila, sombras negras e disformes. Mesmo no distanciamento da análise, o olhar persegue-nos e observa-nos. É como sempre diz Molder: um aqui é o que as fotografias nos podem dar e essa deve ser a sua sedução. E este olhar, que é apenas a indeterminação do olhar, devia ser o dos deuses severos que regulavam o lado esquerdo da vida, para sempre nos lembrar que estão aí, na memória do que se não viveu, mas que existe mais do tudo o que se pode ver. São eles afinal, que nos forneceram o fruto do conhecimento.

Maria do Carmo Serén

09 janeiro, 2010

yo, otro

Gauri Gill, Balika Mella, portraits, 2003
© Gauri Gill

O Artium, Centro Museo Vasco de Arte Contemporáneo de Vitoria, mostra Yo mismo y el otro. Retratos en la fotografía india, uma selecção de retratos de 16 artistas indianos que tenta dar conta do pulsar criativo neste género fotográfico no segundo país mais populoso do mundo.
O texto do catálogo pode descarregado aqui

Fotonoviembre


© Loretta Lux

O Tenerife Espacio de las Artes acolhe há pouco mais de um ano o Centro de Fotografía Isla de Tenerife que organiza a cada dois anos o Festival Internacional de Fotografía de Tenerife, Fotonoviembre, que está a cumprir dez edições. A espinha dorsal da bienal foi construída em torno da Colección Ordóñez Falcón de Fotografia, de onde foram seleccionadas mais de uma centena de imagens do seu espólio para mostrar em vários espaços de Tenerife.

07 janeiro, 2010

Segunda Escolha

© António Pedro Ferreira

A [K Galeria] não podia começar melhor a programação deste ano. O trabalho António Pedro Ferreira, fotojornalista do Expresso, é hoje apresentado no Bairro Alto. É uma boa notícia porque quem (como eu) conhece minimamente as fotografias de António Pedro Ferreira fica sempre com a sensação de querer ver mais.
Luiz Carvalho, também fotojornalista do semanário Expresso, escreveu sobre António Pedro Ferreira e "os meses intensos" que passou em Paris durante um estágio na agência Magnum.

Eis esse texto:

O salto de um fotógrafo enquanto jovem

O que leva um médico recém-nascido a abandonar o berço da Pátria e a refugiar-se em Paris na Casa de Portugal? A desilusão de um país adiado, o engano na escolha do canudo, ou a coragem de finalmente poder fugir com a amante? Entenda-se: a fotografia. Está ultima hipótese é a mais considerada em círculos próximos e amigos do António Pedro Ferreira.

Esta fuga reporta a 1982 e estende-se até 84, o período sabático que esse jovem médico com a cabeça na fotografia permaneceu em Paris atrás de emigrantes portugueses, à procura de um conjunto de imagens que pudesse testemunhar e entender socialmente os seus conterrâneos emigrados. A aventura foi possível graças a uma parca bolsa da Secretaria de Estado da
Cultura, ao apoio de amigos que então estudavam em Paris, a um impulso próprio dos apaixonados: uma urgência em pegar na Leica M4 e ir em busca de uma história, de um discurso visual.


Foram meses intensos. A Agência Magnum fazia a supervisão do trabalho para apresentar ao promotor da bolsa e era o ciumento Jimmy Fox, rédacteur-en chef, que recebia o António Pedro todos os meses e lhe supervisionava o ensaio fotográfico. Nunca um fotógrafo português tinha tido esta possibilidade: poder estagiar na mais mítica agência de fotojornalismo.

Depois das idas à Magnum, com todo o ritual que isso significa (imagine-se o que sentiu um fotógrafo como o António Pedro Ferreira ao poder ver o Henri Cartier-Bresson mesmo ao longe!) os dias eram longos e dedicados. Milhares de fotografias em bairros como St. Denis ou Gentilly, em festas, casamentos, momentos de ócio, trabalho. Contactos, amizades, intimismo, cumplicidades.

As noites eram para o laboratório de fotografia improvisado, uma arrecadação com água corrente, na residência universitária onde pernoitava.

O que é notável nestas fotografias do António Pedro é que elas marcam o início de uma nova atitude no fotojornalismo português. Estávamos perante um jovem que queria intervir na sociedade, testemunhando, convergindo com uma preocupação inabalável de produzir fotografias com referências. Fotografia pura e dura. Daí a Magnum e o aval de qualidade que sempre atestou ao seu trabalho.

Se o poema de Manuel Alegre sobre a emigração em França nos comove, o filme “O Salto” nos envolve, ou se as cantigas de José Mário Branco nos embalam para um tempo a preto-e-branco, as fotografias do António Pedro são o somatório de tudo isto na síntese perfeita do instante decisivo.

Tive a felicidade de ter podido compartilhar com o meu amigo alguns dias nesse distante ano de 1983. Lembro-me de um baile em St. Germain-des-Prés e de um jantar festivo numa colectividade nos arredores de Paris. Eram tempos simples, austeros, mas de uma esperança infinita que nos foi traída.


Luiz Carvalho, 25 de Novembro 2009


Segunda Escolha, de António Pedro Ferreira
[Kgaleria], Rua da Vinha 43A – Bairro Alto, Lisboa
De seg. a sex. das 10h às 18h, sáb. das 14h às 19h (excepto feriados)
Até 6 de Fevereiro

06 janeiro, 2010

Lhasa


Desde há três dias que o meu leitor de CD não pára de tocar os três discos que Lhasa de Sela (1972-2010) nos deixou.

as melhores


© Jochen Lempert


O top ten dos críticos do Público (José Marmeleira, Luísa Soares Oliveira e Óscar Faria) para as melhores exposições em Portugal em 2009 inclui quatro mostras de fotografia. O primeiro lugar é ocupado por Trabalho de Campo, de Joachen Lempert (Culturgest, Lisboa) e o segundo por bone lonely, de Paulo Nozolino (Galeria Quadrado Azul, Lisboa). Estão ainda referenciadas Arquivo Universal - a condição do documento e a utopia fotográfica moderna (Museu Berardo, Lisboa) e Sem Saída/Ensaio Sobre o Optimismo, de Augusto Alves da Silva (Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto).

Conversaciones

Hannah Collins, Lisboa, 2006
© Hannah Collins


A editora espanhola La Fábrica tem lançado nos últimos anos um interessante conjunto de pequenos livros com conversas entre fotógrafos e pessoas ligadas ao universo da imagem. As obras estão agrupadas na colecção Conversaciones e as edições de 2009 incluem trocas de ideias com John Baldessari, Hannah Collins, Axel Hütte, Gonzalo Puch, Wolfgang Tillmans e Jeff Wall.

2009


Adriano Miranda, Armando Vara, Aveiro, 2009
© Adriano Miranda/Público


Imagino que nesta altura do campeonato já ninguém tenha um segundo de paciência para balanços de fim de ano, mas ainda assim queria partilhar estas duas galerias com algumas fotografias marcantes de 2009. Uma é o resultado de uma selecção de imagens feita pelos fotógrafos do Público e a outra de uma escolha da agência Reuters.


(portugal)




(mundo)


Beatles to Bowie


Robert Whitaker, The Beatles, 1964
Robert Whitaker Archive © Robert Whitaker


Entrou na recta final a exposição Beatles to Bowie, the 60s exposed da National Portrait Gallery de Londres que recupera algumas das imagens que ajudaram a criar o Swinging London dos anos 60 e muitos dos ícones desse tempo (e do nosso tempo).

04 janeiro, 2010

Matador M., Barcelona

Francesc Català-Roca, Barcelona, s/d

A revista Matador dedica a edição M. a Barcelona. Ao longo das páginas de uma das mais sumptuosas publicações de fotografia e ensaio aparecerão portfólios de Francesc Català-Roca, Thomas Ruff, Manel Esclusa, Txema Salvans, Ferran Freixa e textos de Eduardo Mendoza, Josep Pla, Rodrigo Fresán, Santiago Roncagliolo, Oscar Tusquets, Fernando Amat, entre outros. Na próxima segunda-feira, o espaço da La Fábrica em Barcelona acolherá uma exposição com algumas das obras publicadas na revista.

=ColecçãoàVista= 43


James Forrester, Douro, s/d
Colecção Nacional de Fotografia © Centro Português de Fotografia


James Forrester (1809-1861)

Nascido na Escócia, fixa-se no Porto em 1831, onde tinha um tio comerciante. Respeitado no seio da comunidade inglesa, foi uma figura bastante interveniente na política social e cultural da cidade. Importante negociante de vinhos, pertenceu às principais instituições comerciais e industriais, revelando-se versado na região do Douro e no vinho do Porto. Formado em pintura, desenho e em gravação litográfica, executou plantas e cartas do Douro. Conhecem-se alguns papéis salgados resultantes da fotografia que efectuou entre 1854 e 1857. Em 1856 usa o colódio húmido. A sua contribuição para a produção de obras sobre a viticultura do Douro valeu-lhe o título de barão de Forrester, oferecido pela Coroa Portuguesa. Morreu afogado no rio numa visita à “Ferreirinha”. O corpo nunca viria a ser encontrado.
(texto:CPF)

 
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