14 dezembro, 2009

máscaras

O retrato de Ana Jardim e o seu rosto numa máscara de gesso


Há muito de máscara no acto fotográfico. Muito, para além da dupla representação, do mistério ou da sedução que se instala pela decisão de omitir. A máscara esconde, mas também revela. E, à semelhança da fotografia, cristaliza. O projecto Integrar pela Arte do Movimento de Expressão Fotográfica juntou máscaras e fotografias para que pessoas com deficiência visual pudessem experenciar o retrato fotográfico e imaginar a face e a expressão nele contido. Na Fábrica da Pólvora, em Oeiras, mostra-se um conjunto de trabalhos que coloca lado a lado fotografias e máscaras de gesso dos retratados para quem quiser ver e sentir com o toque o rosto de cada um. Será sempre diferente o rosto que ficou gravado pela luz e pelo gesso, mas em ambos os suportes o que ficou gravado foi um momento essencial. Um momento que pretende dar vida. Há quem diga, no entanto, que é apenas no momento da morte que ocorre o spiritus sanctus, "o momento em que o rosto da alma é suposto aparecer" (Anne Sofie Tiedemann Dal, Pela Tua Máscara Saberei quem És, citada por Susana Neves, Pública, 13.12.2009). É nesses instantes que se devem cobrir as faces de cera ou de gesso para que o registo do molde trabalhe para a memória e perdure, como um negativo. É um registo que, no século XIX, foi destronado por outra arte da memória - a fotografia.

1 comentário:

Tânia Araújo disse...

Caro Sérgio aproveito a oportunidade para comunicar que gostei da interpretação que fez sobre o projecto.

Até dia 20 de Dezembro está patente na Fábrica da Pólvora em Oeiras a primeira parte do projecto Integrar Pela Arte, realizado pelo MEF. Dia 5 de Janeiro 2010 inaugura pelas 15h a segunda parte do projecto.

É com grande prazer que vejo o projecto divulgado neste blog.

 
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