06 outubro, 2009

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Luísa Ferreira, Lisboa, 2009
© Luísa Ferreira

Entre todas as grandes praças de Lisboa, a do Martim Moniz é talvez aquela que mais sofreu com sucessivos erros urbanísticos e abandono por parte de quem dela devia zelar. Aqui, inexplicavelmente, a opção foi quase sempre rebentar, emparedar, demolir, esconder. Apesar de abraçar uma das zonas mais dinâmicas e cosmopolitas da cidade (e por isso merecedora de mais atenção e cuidado), a principal praça da Mouraria e as ruas que nela desaguam são o espelho da inoperância camarária e autárquica para resolver os problemas mais corriqueiros de quem lá vive e trabalha. A última remodelação da praça (isolada por estrada e carros) não passa de mais um atentado urbanístico a acrescentar aos três que já lá moram há mais tempo (centros comerciais e Hotel Mundial).

Não fosse a dinâmica comercial, cultural e social criada por gentes de diferentes culturas, o Martim Moniz seria apenas mais um lugar moribundo de Lisboa, seria apenas o rosto do falhanço completo da passagem da cidade antiga para a cidade moderna. É por isso que todos os que fazem o quotidiano do Martim Moniz são a sua principal riqueza. Foi a pensar nesse património humano que o Arquivo Fotográfico Municipal convidou cinco fotógrafos para captar as vivências pública e privada desta parte do bairro, um projecto simplesmente apelidado de todos integrado no programa Lisboa, Encruzilhada de Mundos. À vasta experiência a olhar Portugal de Georges Dussaud, juntaram-se distintas relações com o Martim Moniz e a Mouraria de Luísa Ferreira, Camilla Watson, Luís Pavão e Carlos Morganho. Durante 20 dias, estes fotógrafos percorreram o bairro, em conjunto ou separados. O resultado final dessa viagem, cerca de uma dúzia de imagens de cada um patentes no Arquivo, mostra bem como pode ser radicalmente oposta e diversificada a narrativa visual de um espaço geográfico limitado. Enquanto Carlos Morganho se fixou preferencialmente nos rostos e nos olhares, Luís Pavão preferiu as pequenas multidões e as ruas. Enquanto Camila Watson se deslumbrou com os vazios da noite, Georges Dussaud e Luísa Ferreira procuraram o fervilhar que acontece à luz do dia.

Para se ter uma ideia das peripécias urbanísticas pelas quais já passou a Praça do Martim Moniz, o Arquivo organizou também uma projecção de imagens do seu espólio (Artur Pastor, Eduardo Portugal, Joshua Benoliel, Mário Noaves, etc.) que ilustram algumas dessas grandes e pequenas alterações. Em redor da praça, cravadas a edifícios abandonados ou por acabar, há ampliações gigantes do trabalho de Georges Dussaud.

Georges Dussaud, Lisboa, 2009
© Georges Dussaud

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