© Guillaume Pazat
Inês Nadais
(P2, Público, 13.06.2009)
Já lhe perguntaram se tinha feito estas imagens em Lisboa e não fez, mas podia: o que ele viu no Sul da América do Sul não pertence mais a esse continente do que aos outros. "São fotografias que falam mais de mim do que sobre a viagem de três meses que fiz entre Buenos Aires e o Peru, passando pela Patagónia e Ushuaia e depois subindo o Chile até ao deserto de Atacama. Podiam ter sido feitas na Europa, podiam ter sido feitas em qualquer sítio", diz Guillaume Pazat a propósito da sua primeira exposição individual, que fica até dia 20 na [Kgaleria], em Lisboa. A América do Sul é a circunstância, não é a substância das imagens agora reunidas em Sensation: "O facto de terem sido feitas na América do Sul é casual. O facto de terem sido feitas em viagem não é casual. Estas fotografias só podiam ter sido tiradas longe de tudo. Nesses três meses tive tempo para estar comigo. Esta exposição é o relato de uma viagem interior."
Feita nas horas mortas de uma deslocação ao serviço da revista Visão - "Fomos fazer uma série de reportagens sobre o aquecimento global. Comprámos um Ford Falcon, que é um carro mítico na Argentina, e viajámos a 60 à hora" -, essa viagem interior surpreendeu-o como Lisboa já não consegue surpreendê-lo (nasceu em França, em 1970, mas vive em Portugal desde 1998). "Tenho muita dificuldade em fazer fotografias em Lisboa. Já não consigo ser surpreendido. Vejo tudo com o filtro do hábito, do quotidiano. Sim, estas imagens também podiam ter sido feitas em Lisboa - mas não por mim", explica. Numa viagem, ser surpreendido é a coisa mais importante. Regressar é a segunda. Quando ele regressou, pôs a cabeça em ordem: "Foi isto que senti, foi isto que pus na parede."
Co-fundador do colectivo Kameraphoto, Guillaume Pazat trabalha para vários jornais e revistas da Europa. No primeiro trimestre de 2008 realizou, em conjunto com Luís Pedro Cabral e Jordi Burch, o projecto multimédia Estação do calor (http://www.estacaodocalor.org/) e também teve tempo para isto que agora vemos, sem nunca sabermos exactamente de que terra é.
Sensation, de Guillaume Pazat
[Kgaleria], Rua da Vinha, Lisboa
Até 20 de Junho
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