26 novembro, 2008
Colecção BES sai do escuro
Está feita a primeira grande apresentação pública da colecção de fotografia que o Banco Espírito Santo foi juntando ao longo dos últimos quatro anos. As comissárias espanholas María de Corral e Lorena Martínez de Corral escolheram cerca de 300 obras, entre mais de 450 trabalhos, que pretendem "contar o presente, e imaginar um hipotético futuro" através da produção fotográfica contemporânea que envolve mais de 150 artistas, que podem ser nomes consagrados ou valores emergentes. A mostra O Presente: Uma Dimensão Infinita, que ficará como uma das mais marcantes exposições de fotografia contemporânea alguma vez realizadas em Portugal, tem uma característica que a atravessa - a diversidade, característica fundamental da génese coleccionista que está na base deste conjunto que é uma boa amostra das últimas duas décadas de criação fotográfica em Portugal e no estrangeiro. Outra das boas surpresas é a confirmação de uma presença assinalável, em quantidade e qualidade, de autores portugueses ao longo dos vários núcleos expositivos. No texto de apresentação, as comissárias avisam que a divisão por temas "não pretende em absoluto classificar ou categorizar, mas apenas dar maior fluidez e clareza ao percurso". E acrescentam: "cada uma das oito secções gira à volta de certos traços, obsessões ou ideias comuns, estranhas afinidades ou encontros peculiares, independentemente da geografia e do enquadramento temporal". As salas vão-se sucedendo segundo os seguintes temas: Naturezas; Universos Privados; Retratos; Narrações; Ficções e Realidades; Sociedade e Vida Urbana; Conceitos, Ideias e Críticas; Espaços, Lugares, Objectos; Arquitecturas.
transições
No final dos anos 70, à medida que cumpria a agenda de serviço com uma máquina carregada com película a cores, Manel Armengol (Badalona, 1949) sacava de vez em quando uma segunda câmara equipada com filme a preto e branco para um trabalho mais ousado e pessoal, capaz de o libertar dos requisitos cénicos do acontecimento que podia ou não tornar-se notícia. A necessidade de um outro olhar sobre a realidade que se deparava à sua frente foi tornando obrigatória esta "segunda" máquina, muito mais atenta às geometrias, aos silêncios, às sombras e aos reflexos. E foi sobretudo a partir deste registo que se revelaram ensaios sobre modos de estar, de sobreviver e de combater.
Transições, 70s em Espanha, China e Estados Unidos mostra três países em mudança social e política através de um olhar por vezes harmonioso e próximo, outras vezes mais contundente e distante. As 75 fotografias de Armengol escolhidas pela comissária Irene de Mendoza são um bom prenúncio para inauguração da actividade expositiva da Fundação Foto Colectania em Portugal. Convém sempre recordar - ou descobrir, como é o nosso caso - aqueles que ousaram fazer diferente aquilo que lhes estava destinado. Os que abriram caminho e se esforçaram para nos dar uma visão alternativa das coisas.
Transições, 70s em Espanha, China e Estados Unidos, de Manel Armengol
Arquivo Municipal de Lisboa/Arquivo Fotográfico
Rua da Palma, 246
Até 30 de Janeiro
24 novembro, 2008
ostentação
© Martin Parr
Nos últimos anos, Martin Parr tem concentrado a objectiva e o flash para pessoas que gostam de ostentar os seus bens ou que adoram mostrar o quanto são ricos e famosos. As feiras de arte e os desfiles de moda são o tipo de acontecimento ideal para esta fogueira de vaidades e os locais onde o fotógrafo inglês mais tem procurado matéria-prima para o seu projecto. O The Art Newspaper contratou Parr para fotografar a última edição da Frieze Art Fair a partir deste olhar mordaz para a ostentação.
O fotógrafo da Magnum fala um pouco sobre este projecto aqui
Paris#8 (rescaldo no Público)
O texto que escrevi para a edição impressa do Público acerca do rescaldo da participação japonesa na Paris Photo está aqui
23 novembro, 2008
EUA 70`
© The estate of Garry Winogrand, cortesia Fraenkel Gallery, San Francisco
Seventies, Le Choc de la Photographie Américaine é uma das mais fortes exposições do Mois de la Photo que está a decorrer em Paris. Construído a partir da colecção da Biblioteca Nacional de França - que tem mais de 3 mil fotografias provenientes dos EUA deste período -, o conjunto traça uma boa perspectiva do que foram estes anos de liberdade criativa e experimentações férteis. As provas de época estão divididas em seis sequências temáticas que não pretendem fazer historial cronológico, mas sim um percurso plástico indicador de tendências e escolhas dialogantes.
São elas:
Des Précurseurs;
L`influence du Snapshop;
Géométrie et espace;
Paysage;
Matière et Forme;
Le Miroir Obscur.
Para ver uma apresentação em vídeo da exposição feita pela comissária Anne Biroleau clique aqui
»vejamos»» [as sugestões dos leitores]
»»Alexandra Libânio sugere uma visita à exposição Archivo universal. La condición del documento y la utopía fotográfica moderna, patente no Museu d`Art Contemporani de Barcelona. A mostra, centrada na noção de documento ao longo da história da fotografia, está dividida em duas partes: a primeira apresenta alguns dos principais debates sobre o documento fotográfico no período moderno, entre 1850 e 1980; a segunda foca este debate na trajectória histórica de Barcelona, aqui entendida como caso específico de estudo.
Depois de Barcelona, a exposição viaja até Lisboa, para o Museu Colecção Berardo (09.03.2009 a 03.05.2009).
O texto de apresentação da exposição está aqui
21 novembro, 2008
/uma fotografia, um nome\
“Fotografar não é apenas “o acto fotográfico” como quer Philippe Dubois. É também o depois, o muito depois: seleccionar, escolher o suporte e, cada vez mais, cortar, manipular. Porque é este hoje o tempo da fotografia e, como nós, a imagem não se quer imutável.
Mas no acto fotográfico há ainda o enorme “antes”, mais ou menos atento, mais ou menos denso. Faz-se uma imagem porque sim, porque se tem uma câmara ou porque cá dentro tudo se conjuga e a síntese parece estar ali, naquele momento. E a imagem, esta ou aquela, trazem consigo um pouco do mundo irredutível à captação.
Manuel Valente Alves habituou-nos à solidez do seu conceptualismo; por vezes militante, extremamente conceptualizado ou minimalista, obrigando a libertar o olhar da forma e procurando o sentido. Uma chamada de atenção para o nosso descontentamento ou uma hipótese de descoberta de uma cultura que abandonara a natureza do mundo. Vindo da pintura, recusou as gavetas do estilo e definiu os recursos das artes como um código de pesquisa e decifração.
Mas num pintor, o que faz a sublimação das pulsões pode ser a cor. E é com o olhar de pintor que Manuel Valente Alves construiu esta imagem. Os azuis são quase impressionistas porque a refracção do ar os liquefaz, mas a intensidade ambígua do céu e os reflexos amarelos da luz fazem lembrar a intemperança de William Blake: estes vultos indeterminados seguem em frente inconscientes do abismo. O céu deste entardecer tem a cor de uma estação que envelhece.
O que a fotografia nos diz é muito do que queremos ver.
A composição fotográfica, definindo um espaço cénico, pode ser como o espelho de Alice, a vida é aí que reside, tão arbitrária ou louca como a que deixou para trás. Não interessa a ausência, a nossa recusa do realismo perfeito, o selo do pretérito que a qualifica. Com ou sem perspectiva cónica nós entramos no espelho, seguimos o anzol do enigma. Somos, para a imagem, o seu mundo invisível, mas também o caçador que persegue a presa. E aí o suporte deixa de interessar, papel ou digital, uma parede, um livro ou um ecrã, a imagem é o jardim secreto dos nossos sustos ou das nossas memórias.
Nem mesmo a fixidez da imagem pode esconder a vida que a anima, o movimento que suspendeu. Nem a (calculada) distância percorrida, abrindo um espaço de sedução entre nós e os ciclistas que rodam, lhe retira a realidade. A composição e o enquadramento que são o seu autor – e que nos dão o passaporte para a descoberta e a empatia – abrem uma totalidade enfeitada de detalhes onde nos procuramos: a fotografia é, antes de tudo um modo de existência, está ali porque o acontecer esteve ali.
Mas construir um jardim secreto é um recurso à poesia e à ilusão perceptiva, do fotógrafo e do observador. O perigo é a contemplação, que não faz mal a ninguém, mas que nos tira a liberdade do olhar.”
Maria do Carmo Serén
Manuel Valente Alves é médico, professor, editor e fotógrafo.
Dirige o Museu de Medicina da F.M./U.L. e programou em colóquios e encontros (ex. O Impulso Alegórico) a relação arte e Medicina
20 novembro, 2008
debater
O ciclo de debates ArteCapital na Arte Lisboa deste ano abre com um painel que discutirá O Coleccionismo de Fotografia no Mercado Ibérico (19h00).
Moderadora: Filipa Valladares (Fundación Foto Colectania)
Convidados: Bruno Santos (fotógrafo e professor); Mário Teixeira da Silva (coleccionador e galerista), Margarida Medeiros (crítica e professora universitária), Norberto Doctor (galerista, Madrid).
19 novembro, 2008
toda a LIFE online
A viagem começa aqui
Banier no Estoril
François-Marie Banier expõe pela primeira vez em Portugal a convite do Estoril Film Festival 08. A mostra, que tem o retrato como protagonista, poderá ser vista apenas durante as datas do festival, até ao dia 22.
“Todo o retrato, quando vou de encontro ao sujeito com a máquina, responde a uma única exigência: a vida em si mesma. Implica o registo da emoção que fez o meu coração faltar um batimento, ao ter contacto com um rosto, um traço, um mistério no movimento: numa palavra, humanidade. Cada retrato é um caso de amor instantâneo, independentemente do sujeito. É um violento grito de paixão, mesmo se o botão onde fixo a imagem faz o mais pequeno sussurro do bater de asas de um insecto. O melhor disparo é quase sempre o primeiro. Ou o último. Quando já dissemos adeus, mas de repente uma iluminação repentina me faz voltar a um piscar de olhos, ou um ângulo que me tinha escapado à primeira. Cada retrato é uma fonte de esperança, de paixão, de experiências que não podem ser reveladas por palavras. Só um olhar, uma expressão, um encolher de ombros podem dizer: 'é aqui que estou neste momento'. Não pode haver retrato sem um elemento surpresa, para ambos: sujeito e fotógrafo. Não há retrato sem revelação. Não há retrato sem alegria, raiva, sem questionamento. Não há retrato sem si, o Outro, o meu modelo.”
François-Marie Banier, 21.2.2008
>Post relacionado
>>(Direitos)
18 novembro, 2008
Paris#7 (notas atrasadas)
© Lee Miller Archives
**É possível ir a Paris sem tirar uma única fotografia? É.
**Há quem duvide da existência de uma "escola de Düsseldorf" da fotografia. As catalogações são sempre redutoras e formadoras de equívocos, mas o certo é que um grupo alargado de artistas que a frequentaram, guiados pela nova objectividade, se destacou no panorama artístico contemporâneo formando um corpo de trabalho que, apesar de muito diversificado na forma e no conteúdo, partilha a mesma filiação estética, as mesmas orientações criativas - a do arquivo e a da tipificação. E isto é capaz de ser uma "escola". A exposição Objectivités, que junta professores e alunos da Kunstakademie de Düsseldorf, é uma das propostas mais interessantes da programação do Mois de la Photo. Foi publicado um catálogo que se reveste de particular importância para compreender a produção fotográfica actual.
**Uma rapariga fotografava outra rapariga de ar acabrunhado e cabelo colado à cara pela chuva miudinha. Cenário escolhido: uma fotografia de publicidade a um perfume francês. Aposto que ela não gostou de se ver. O ficheiro deve ter sido apagado.
**Nos 70` americanos fotografou-se com despudor, criatividade e ilusão. Já vimos muitas das imagens que foram escolhidas para a exposição sobre fotografia americana deste período, patente na Biblioteca Nacional de França. Mas o que emociona nunca cansa. E para lá da emoção do reencontro, há a emoção da descoberta pessoal, como a que fiz de Louis Faurer e Bruce Gilden.
**Garry Winogrand: I photograph to find out what something looks like when photographed.
**Parecia uma barata tonta ali para os lados da Bastilha à procura da rua Jules-Cousin. Perguntei a um farmacêutico, a um jornaleiro e a mais meia dúzia de pessoas com cara de quem fosse capaz de me apontar o dedo da direcção certa. Nada, nem um. Depois de meia hora à deriva, desisti. Ou quase: no metro espreitei o mapa outra vez. Zero. Arrisquei mais uma pergunta, a última. A mulher, que notou o sotaque estrangeirado, sorriu, sacou um guia de ruas da mala, seguiu as coordenadas e com um sotaque britânico carregado deu-me as indicações que me levariam à Galeria Vu (uma inglesa a orientar-me em Paris!). Subi à superfície outra vez, andei os quarteirões que precisava e… bati com o nariz na porta quando o programa garantia o contrário. Atrás de mim, duas italianas que vinham ao mesmo entoaram de rajada 10 palavras por segundo. Aí umas 9 deviam ser asneiras, pragas e amaldiçoamentos. À minha conta, os senhores da Vu também devem ter ficado com as orelhas a arder.
**Na Maison Européenne de la Photographie a bicha para entrar chegava à rua. Sabine Weiss apresenta um trabalho de fotojornalismo clássico que inclui uma dúzia de fotografias de Portugal dos anos 50 e 80. Parei algum tempo à frente de uma imagem da Baixa de Lisboa onde uma mulher com um cesto de flores à cabeça corre para o outro lado da estrada, talvez em direcção à Praça do Rossio, onde as rosas e os malmequeres já reinaram. MacDermott & MacGough andam fascinados pelos antigos processos fotográficos (cianotipia, papel salgado...) mas não se deixaram enredar pela armadilha arqueológica. An Experience of Amusing Chemistry é um olhar delicado, actual e criativo para as antigas maneiras de ver. No fotojornalismo, destaque também para a obra do turco Göksin Sipahioglu, mítico fundador da agência Sipa.
**Na rua Gosciny as indicações aparecem em balões de banda de desenhada e letra de brincar. Nos postes e no chão. Parece que estamos dentro dos quadradinhos a disparar mais rápido do que Lucky Luke. Pum! Morri.
**Alguém me pode explicar por que é que o Metro de Lisboa nos obriga a sacar do bilhete sempre que queremos sair de uma estação? Em Paris, e na generalidade das cidades com metro, as portas abrem-se e já está.
**Desilusão máxima: Expérimentations Photographiques en Europe des Anées 20 à Nos Jours. Não há aqui um retrato das experimentações fotográficas coisa nenhuma. O que há é um percurso metido à pressão por meia dúzia de salas onde aparecem artistas avant-garde que usaram a fotografia como suporte.
**Desilusão mínima: Gabriele Basilico, Moscou Verticale. Esta aposta na vertigem pela monumentalidade pode não resultar muito bem e pode até transformar-se na visão de um turista embriagado. Basilico deslumbrou-se até à miopia com a grandeza dos mastodontes arquitectónicos do antigo império russo ou então bebeu uns copitos de vodka a mais.
**O melhor, ao vivo e a preto e branco: Philip Jones Griffiths, Recollections.
**A surpresa, ao vivo e a cores: Reiner Riedler, Fake Holidays.
**O que não vi e gostava de ter visto: John Bulmer, Hard Sixties, l´Angleterre post-industrielle; Nathan Lerner, L`héritage du Bauhaus à Chicago; Xavier Lambours, XElles27; Werner Bischof, Images d`Après-guerre; Jackie Nickerson, Faith; Joakim Eskildsen, Voyages chez les Roms; Miguel Rio Branco, Photos Volées; Pierre Verger, L`Espagne Prémonitoire; Sarah Moon, 1-2-3-4-5; Henri Cartier-Bresson e Walker Evans, Photographier l`Amérique, 1929-1947.
**No Jeu de paume, logo de manhã, há casa cheia. Lee Miller é rainha - pelas fotografias que tirou, pelas fotografias que lhe tiraram.
**Em frente ao Centro Cultural Sueco, onde vi fotografias de Lars Tunbjörk, há um pequeno jardim onde apetece ficar muito tempo. As folhas começaram a cair e os tons de castanho parecem infinitos. O trabalho de Tunbjörk é uma imitação esforçada da crítica consumista de Martin Parr, mas não passa disso. É das heras a ganhar terreno às paredes que me vou lembrar.
17 novembro, 2008
Buñuel no Estoril
“Para Luis Buñuel, provavelmente não representavam muito mais do que imagens de cenários para os seus filmes. Mas, 25 anos depois da morte do realizador, as fotografias que tirou no México, nos locais onde depois filmou, tornam-se elas próprias objecto de exposição. São cerca de 80 fotografias - que podem ser vistas durante o Estoril Film Festival, entre hoje e o próximo dia 22 - que o realizador, nascido em Espanha mas naturalizado mexicano, tirou durante a preparação e rodagem de 12 dos 20 filmes que fez no país onde viveu quatro décadas e acabaria por morrer, em 1983.
14 novembro, 2008
Paris#6 (notas)
**Já chove. Os franceses andam com medo das sabotagens nas linhas do TGV. A fotografia de Ségolène Royal reaparece outra vez nos jornais como possível candidata dos socialistas para tentar derrotar Sarkozy em 2012.
**É constrangedora a inexistência de uma representação portuguesa, por mínima que fosse. As únicas excepções vão para Edgar Martins, com fotografias à venda na editora americana Aperture, na Paris Photo, e para Vasco Araújo, que faz parte da programação oficial do Mois de la Photo, no Jeu de paume. Tudo o resto são fugachos de olhares de fora: Antoni Muntadas (Doble Exposure), com duplas paisagens urbanas de Lisboa e Bogotá expostas no mesmo de negativo, na galeria espanhola Moises Perez de Albeniz; e duas imagens soberbas (Portugal, Woman; Portugal, Men) que o americano Ray K. Metzker captou em Lisboa, em 1961.
**Há uma meia dúzia de galerias com fotografia do século XIX na feira, mas, tirando as gueixas retocadas à mão com vermelhos e azuis fortes, não se nota uma grande aposta na fotografia antiga.
**O vencedor do prémio BMW Paris Photo, Yao lu, vende que se farta. E os fotógrafos da China também. A 798 Photo Galery, a única galeria chinesa, não tem mãos a medir. É só bolinhas vermelhas por baixo das fotografias.
**Muitos fotógrafos japoneses vieram com as galerias e editoras do seu país, mas, pelo que se vê na feira, há muito que as galerias do Ocidente encontraram esta pérola asiática da fotografia. Nobuyoshi Araki e Daido Moriyama estão representados em boa parte delas.
**O antigo avançado francês do Manchester United Eric Cantona gosta de fotografia. Da Paris Photo saiu com duas molduras de baixo do braço. Já estavam embaladas com plásticos de bolinhas para rebentar com os dedos, mas deu para perceber que eram a preto e branco.
**Para além de livros de fotografia excepcionais, os japoneses têm os óculos mais bonitos do mundo. A governadora do Alaska e ex-candidata republicana à Casa Branca Sarah Palin já percebeu isso e encomendou um par deles, mas parece que quem ficou a ganhar foi só quem os desenhou. Ainda Bem.
**Teoria pessimamente mal comprovada do ponto de vista científico: a capacidade humana para ver com atenção imagens fotográficas é finita e não vai para além das 2 horas, 39 minutos e 4 segundos.
**A livraria Dennis Ozane, especializada em livros antigos de fotografia, tem à venda quatro títulos portugueses: Lisboa, Cidade Triste e Alegre; Portugal, Terra de Vinho; Angola, 1961-1963; Portugal, SNI.
**No Carrousel do Louvre o café esgotou. Já as rolhas das garrafas de champagne saltaram durante toda a tarde.
Paris#5 (prémio)
Yao lu, New Landscape part 1 – YL01 Ancient Spring-time Fey, 2006
Foram galardoados com menções honrosas o sueco J. H. Engström, o japonês Nobuhiro Fukumi e o norte-americano Andrew Bush. O tema proposto era Never Stand Still.
Paris#4 (o Japão e o livros)
Não há muitos países no mundo onde as revistas e os livros joguem um papel tão importante para a fotografia. No catálogo, Mariko Takeuchi, comissária da representação nipónica, relaciona este enamoramento com a falta de um esquema de galerias ou um mercado organizado de venda de fotografia. E fala também na longa tradição japonesa nos métodos de impressão em papel que conheceu a sua época dourada durante o período Edo (1603-1867).
As editoras e livrarias japonesas no Paris Photo são estas:
»»Akaaka Art Publishing
»»Little More
»»Book Shop M
»»Seigensha Art Publishing
»»Tosei-Sha
Paris#3 (notas)
** As revistas fotográficas digitais quase não têm representação na feira. A honra do convento é salva pelo portal de fotografia berlinense Photography Now. Em contrapartida, as revistas de fotografia em papel tem uma representação de peso e parecem que não param de aparecer novos títulos.*
** No espaço da Simon Finch Rare Books (Reino Unido) a distinção para o livro mais caro pertencia a Les Joux de la Poupe, com fotografias de Hans Bellmer e textos de Paul Éluard (62,500 euros); a primeira edição de The Americans, de Robert Frank, estava a seguir (15,000).*
Paris#2 (abertura)
A festa de apresentação da Paris Photo aconteceu na quarta à noite no Carrousel du Louvre. Enquanto uns festejavam outros davam os últimos retoques nos trabalhos a expor (por que raio é que nestas ocasiões arranjam sempre uns “happenings” manhosos…).
O resumo em vídeo da festa está aqui
13 novembro, 2008
Paris#1
direitos
No Libération de hoje:
Dizem que a França é país do mundo onde o direito à imagem é mais protegido, tratando anónimos como celebridades. Para o bem e para o mal, já que se o artigo 9º do Código Civil francês fosse aplicado à letra tinha acabado qualquer trabalho artístico que tem a rua como matéria-prima. O último folhetim judiciário à volta deste complexo novelo - com uma ponta no direito à imagem e a outra na liberdade de expressão artística - opõe o fotógrafo François-Marie Banier a Isabelle de Chastenet de Puységur.
A história resume-se assim: Banier publicou uma fotografia de Puységur no livro Perdre la Tête (Outubro de 2005, Gallimard); Puységur diz que a fotografia foi captada sem o seu consentimento e até com a sua oposição; Puységur afirma ainda que a imagem onde aparece está fora do contexto da mensagem global da obra que mostra marginais e excluídos; entre outras coisas Puységur queixa-se de ter sido transformada numa "caricatura burguesa"; Puységur quer 200 mil euros de indemnização; no dia 9 de Maio de 2007 um tribunal de Paris não aceitou a queixa da dama ofendida, mas a dama ofendida recorreu; no dia 5 deste mês, um tribunal de instância superior rejeitou de novo a queixa argumentando que a fotografia publicada não atentava contra a vida privada de Puységur; sobre o direito a reproduzir a imagem, o tribunal também deixa margem de manobra para o autor lembrando o direito à liberdade de expressão artística; e conclui afirmando que a fotografia em causa não atenta contra a dignidade da queixosa; para além de Puységur, marginais e excluídos, o livro mostra um retrato de Claude Lévi-Strauss.
Paris Photo + Mois de la Photo
O Japão já não quer ser exótico
Sérgio B. Gomes
(P2, Público, 13.11.2008)
Quem diz que o Japão ainda é exótico? Nós, que o vemos daqui, à distância, quase sempre desfocado e sobretudo através de imagens mais do que batidas.
Na panorâmica típica, saltam à vista, entre outros clichés, as alpergatas altas de meter o dedo, os quimonos de seda, a cerimónia do chá, a caligrafia ou aquele desporto com homens muito pesados que se atiram de frente uns contra os outros.
O japonesismo fez-se notar no Ocidente a partir da Exposição Universal de Paris de 1867, onde o Pavilhão do Japão deu que falar e espalhou influências que se haviam de manifestar em artes e modos de vida. A novidade exótica desse tempo ficou colada a muito do que a cultura nipónica mostrou deste lado do globo. Paris, no século XIX, deu-nos a imagem do Japão das alpergatas. A Paris Photo, a maior feira de fotografia do mundo, que hoje começa, quer dar-nos outras imagens do Japão que tentam escapar a esse determinismo redutor guiado apenas pela excentricidade de estilo e de gosto. É aqui que estarão os “sentimentos de incompreensão”, e as “sensações de ambiguidade” provocadas pelo mundo e realidade actual do país, promete Mariko Takeuchi, comissária da representação nipónica.
Nunca, desde que começou, em 1997, a Paris Photo tinha convidado um país asiático. Nunca na Europa se tinha visto uma amostra da fotografia japonesa tão vasta em quantidade (130 artistas expostos) e tão rica em qualidade (grandes mestres do século XIX, movimentos “avant-garde” e pós-guerra e parte significativa da mais relevante produção contemporânea, Hiroshi Sugimoto, Nobuyoshi Araki, Daido Moriama…). É o Japão, “convidado de honra”, a tentar aproveitar ao máximo a luz dos holofotes e o interesse crescente pelos seus artistas fotógrafos que não são reconhecidos apenas pela qualidade das imagens que encostam nas paredes mas também pela qualidade das imagens que imprimem em livro, o seu suporte mais acarinhado e rigorosamente tratado, verdadeiro substituto de galerias e museus.
Se há capital da fotografia em Novembro, é Paris e mais nenhuma. A juntar à Paris Photo, que se estende apenas até ao próximo domingo, celebra-se durante este mês a bienal Mois de la Photo cujas exposições - o tema é Fotografia Europeia: Entre a Tradição e a Mudança - se espalham pelos mais variados espaços da cidade. Quatro destaques: Lee Miller, no Jeu de Paume, The School of Dusseldorf, no MAM Ville de Paris, Sabine Weiss, na Maison Européenne de la Photographie e Walker Evans, na Fundação Henri Cartier-Bresson.
Para ver uma galeria sobre a fotografia japonesa no Paris Photo clique aqui
O programa do Paris Photo está aqui
E o do Mois de la Photo aqui
Nota: estarei em Paris durante o fim-de-semana. Escreverei aqui sobre estas duas iniciativas na medida do possível
Homma Takashi, s/t, da série Tokyo and my Daughter, 2005
(© Cortesia Galerie Claud Delank)
ausências
A fotografia de Rita Barros está diferente. Muito diferente do que se conhece das séries de retratos embalados pelo jazz, dos quartos e personagens do Chelsea Hotel (Fifteen Years: Hotel Chelsea) e dos registos de incredulidade do período pós-11 de Setembro, em Nova Iorque (Um Ano Depois). Está diferente na cor e na abordagem. No tema e na técnica. Fez um interlúdio na paisagem e no rosto alheio para se ver ao espelho, através de objectos, coisas, lugares e ambientes. As fotografias de Presença da Ausência, que estão em exposição na galeria Pente 10, em Lisboa, fazem uma viagem introspectiva, a um microcosmo vivencial que tendemos a tomar como próximo e aberto, mas que nunca se dá totalmente a ver. É nessa tensão entre o que se mostra e o que fica por se mostrar que reside uma das principais virtudes do conjunto.
Jorge Calado escreveu o texto de apresentação do catálogo. Uma passagem:
“(...) Rita Barros limita-se a olhar à sua volta. Muitas vezes, nem precisa de sair de casa. A história do fotógrafo-viajante é um mito; a viagem mais extraordinária está na imaginação de cada um. Rita Barros pensa nas cores e elas aparecem onde menos se espera. Antes de decifrarmos o objecto, regozijamos com o vermelho da lâmpada (uma homenagem ao Red Room de Eggleston?), o verde do selim, o dourado do sapatinho, a sinfonia cromática da toalha. Faz-me lembrar o júbilo da pintura de Matisse.
(...)”
Presença da Ausência, de Rita Barros
Galeria Pente 10
Trav. da Fábrica dos Pentes (ao jardim das Amoreiras), 10, Lisboa
Até 10 de Janeiro
10 novembro, 2008
calendário
Para ver todas as imagens do calendário Lavazza 2009 clique aqui
09 novembro, 2008
o regresso dos Murmúrios 2
“Os edifícios, como este [Cadeia da Relação, CPF, Porto], guardam uma clareza perversa na sua estrutura, ou na ocultação dos seus desígnios. Guardam e declaram um intocado discurso do poder e, quantas vezes, do arbitrário.
Aqui todos os humanismos se excluem, e as teorias do bem-fazer, as racionalidades do progresso desencadeiam a mesma violência. Porque a civilização que puniu o delito com a pena foi a mesma que isolou a diferença e inventou para o homem incómodo o determinismo do normal e do patológico; determinismo que se afirma ou se branqueia e substitui o crime pela tendência, o homem pelo tipo, a voz pelo silêncio.
As vozes que não são ouvidas, porque menores, porque irrelevantes, enchem de murmúrios edifícios como este, gémeo das genealogias dos maiores, onde a História se inscreve sobre o corpo social que não fala, não deixa marcas, só mal-estar e rumores.
Esta é a mostra de um corpo incógnito, que a História tipificou, retirando-lhe a realidade e o nome. E, porque no seu momento de cientificação, a história criminal é também a história da fotografia, esta é uma montra de solidariedades, entre a fotografia e a repressão: do que se esconde, se insinua, do que se revela e do que se constitui na aliança do judiciário e do fotográfico.
É da natureza da fotografia cuidar da cândida garantia do seu valor de verdade, recolhido da sua tomada directa sobre a realidade. Mais do que qualquer outra, a relação da fotografia com as instituições policiais e judiciárias, esclareceu o que o fotógrafo sempre soube e, no fundo, sempre quis: que a fotografia só fala quando rodeada do simbólico, quando fruto de uma estética da representação que apela ao código social. Ao saber traduzir as ideologias judiciárias da diferença e da exclusão, através de cuidados modelos de degenerados, a fotografia tornou-se responsável pela aceitação dessas infelizes teorias, que ainda informam a nossa mentalidade.
Olhar, hoje, estes corpos de que a instituição judiciária se apropriou, obriga à descodificação paralela os discursos ideológicos e da gramática técnica, estética e social que a fotografia introduzia, - introduz, - no espaço aparentemente inócuo de uma representação verdadeira e directa do real.
Só então, estas imagens, no deliberado despojamento de pertença de todo o lugar físico e social que não seja a prisão, representam o pouco que podem representar, murmúrios sem memória, que atravessam o tempo e nos agridem.”
Maria do Carmo Serén
(Texto de introdução do catálogo da exposição Murmúrios do Tempo)
>>Post relacionado
>(o regresso dos murmúrios)
Murmúrios do Tempo
Espaço Cultural Silo, NorteShopping, Porto
Até 5 de Dezembro
08 novembro, 2008
rever os americanos
No ano em que se cumprem 50 anos após a publicação da primeira edição de The Americans (Paris, 1958), a editora alemã Steidl decidiu reeditar o álbum que marcou gerações de fotógrafos e lançar um olhar renovado sobre toda a obra de Frank (Zurique, 1924). De tão ambiciosa e particular, a iniciativa foi até baptizada. Chama-se The Robert Frank Project e, para além de reedições das obras clássicas, prevê novas edições de obras mais pequenas e menos conhecidas, publicação de trabalhos nunca mostrados, novos livros e o lançamento de um conjunto de DVD`s com toda a obra filmada. Centrada nas imagens do livro The Americans, mas não exclusivamente, será inaugurada também a exposição Looking In: Robert Frank’s The Americans, que começará uma itinerância na National Gallery ofArt, Washington D.C. (Janeiro 2009).
A Steidl preparou uma brochura para explicar o The Robert Frank Project, onde se conta também a história que levou à publicação de The Americans. Está aqui
Para ouvir Robert Frank a falar sobre Jack Kerouac e The Americans clique aqui (demora a carregar, mas vale a pena esperar)
Carroll
Lewis Carroll como fotógrafo vitoriano
Luís Miguel Queirós
(P2, Público, 04.11.2008)
“A historiadora de arte Anne Higonnet acaba de lançar, com a chancela da Phaidon, o livro Lewis Carroll, que reúne, devidamente contextualizadas, 55 fotografias tiradas pelo criador de Alice no País das Maravilhas. Foi este extraordinário livro para crianças, publicado em 1865, bem como a sua sequela, Alice do Outro Lado do Espelho (1871), editados sob o pseudónimo Lewis Carroll, que celebrizaram Charles Dodgson. No entanto, esta singular figura da Inglaterra vitoriana teve muitos outros talentos, da matemática à fotografia.
Muito antes de publicar as aventuras de Alice, presumivelmente inspiradas em Alice Lidell, filha do deão do colégio anglicano onde ensinava, Dogson tinha já um vastíssimo currículo como fotógrafo. Ao longo de 25 anos de actividade - interessou-se pela fotografia quando esta ainda dava os primeiros passos -, produziu algumas três mil imagens. Neste livro encontram-se retratos de parentes de Dogson, paisagens, e também diversas fotografias de crianças, o tema predilecto do autor. Por vezes fotografava-as nuas, o que levou a que sobre ele recaíssem suspeitas póstumas de pedofilia. Uma tese que Higonnet desmonta, fazendo notar que, à luz das convenções sociais vitorianas, as imagens da nudez infantil eram perfeitamente aceitáveis.
Numa época dominada pela perspectiva romântica da inocência da infância, o olhar de Dogson singularizava-se mais pela sua dimensão onírica do que por uma carga sexual que estará mais no olhar contemporâneo do que nas intenções do fotógrafo.”
mais cedo
As promoções de Natal chegam cada vez mais cedo ao nosso bolso. É certo que as luzinhas já começaram a piscar por aqui e por acolá, mas esta coisa de andar a desbaratar os stocks com tamanha antecedência pode ter as suas consequências...
Entre outros descontos, os saldos natalícios da Aperture oferecem uma redução de 50 por cento na assinatura da revista da casa.
A tenda está montada aqui
07 novembro, 2008
aprender
A escola de fotografia Atelier de Lisboa vai arrancar com dois novos cursos em breve.
São eles:
Auto-Retrato e Auto-Representação
Orientador: Ana Janeiro
8 semanas - 1 sessão semanal
Sexta-Feira, 19h30 - 22h00
De 14 de Novembro a 23 de Janeiro
Laboratório Digital 1
Orientador: João Pisco
6 semanas - 1 sessão semanal
Quinta-Feira, 19h30 – 22h30
De 13 de Novembro a 18 de Dezembro
Mais informações aqui
de passagem
Daniel Malhão apresenta a sua primeira exposição individual na Galeria Cristina Guerra, em Lisboa. Os lugares de passagem (aeroportos, aviões, salas de espera) formam séries de grandes dimensões onde o tempo da viagem é um dos protagonistas.
A crítica de Jorge Marmeleira publicada no Ípsilon está aqui
Daniel Malhão
Galeria Cristina Guerra
R. de Santo António, 33, Lisboa
Até 22 de Novembro
06 novembro, 2008
desigualdades
O último número da revista Cais é inteiramente dedicado ao tema das Desigualdades. O colectivo Kameraphoto juntou-se à Associação Cais para uma reflexão sobre os problemas e as desigualdades sociais. Participaram Augusto Brázio, Céu Guarda, Guillaume Pazat, Jordi Burch, Martim Ramos, Pauliana Valente Pimentel, Pedro Letria, Sandra Rocha e Valter Vinagre.
Os trabalhos impressos na revista podem também ser vistos na Estação do Rossio, em Lisboa, até 17 de Novembro.
04 novembro, 2008
volver
Inês d`Orey continua às voltas com os silêncios que provocamos nos espaços. E à procura de explicar a ligeireza com que deixamos de nos relacionar com lugares de uso rotineiro. Em Volver - onde é protagonista a Escola de Arquitectura da Universidade do Minho, projecto da autoria de Fernando Távora e José Bernardo Távora - são colocados em fricção os sinais de vivência e manejo com os de abandono e depuração.
Em Paris, na FetArt, no âmbito do Mois de la Photo, a fotógrafa do Porto apresenta imagens da série Porto Interior com que venceu o prémio Novo Talento Fotografia FNAC do ano passado.
O texto completo de apresentação de Volver está aqui
“[...]
Esta harmonia tranquilizadora, centrada no vazio, no silêncio, por certo tão ao gosto dos arquitectos que projectaram estes espaços (porque se reconhece a partilha de uma geometria que implica a arquitectura e fotografia numa representação abstracta e perene para lá da vida) só é posta em causa, e ainda assim sem comprometer nada, pela invasão lenta das ervas e heras que atacam o recanto da garagem ainda por inaugurar. Imaginamo-las aproveitar o abandono sazonal do edifício, para lentamente reivindicar a ruína e morte temporária da arquitectura. Sabemos ser esta invasão um acto menor e inconsequente no quotidiano da Escola. Mas não menos importante, não fosse a representação a vontade romântica de "tornar presente o que está ausente" quando estamos lá e não vemos o que acontece quando não estamos.”
Volver, de Inês d'Orey
Escola de Arquitectura, Universidade do Minho, Guimarães,
Até 30 de Novembro
03 novembro, 2008
Nicarágua
Nem sempre a abordagem jornalística é a melhor forma de informar, relatar ou explicar acontecimentos. Às vezes é preciso sair da linguagem e dos ritmos particulares desse protocolo para encontrar as imagens que melhor espelham a realidade, para uma aproximação mais eficaz aos pequenos detalhes que tantas vezes carregam as chaves dos mais complexos universos. Quando Susan Meiselas chegou à Nicarágua, no início de 1978, tratou de despir o traje de fotógrafa de guerra. Optou antes por um registo ensaístico, muito mais demorado e paciente, que lhe havia de trazer reputação e glória. Em 30 de Julho de 1978, o New York Times publicou uma série de fotografias suas que acompanhavam uma grande reportagem sobre a ascensão sandinista no país. O brilharete nas páginas do Times abriu-lhe portas para outros zonas quentes do globo, mas Meiselas preferiu ficar na Nicarágua durante largos meses para tentar "acompanhar o ritmo da história".
Em 2004, a fotógrafa da cooperativa Magnum voltou ao país para mostrar as suas imagens aos protagonistas que nelas aparecem. O DVD com essa deslocação (Pictures from a Revolution) é só um extra do álbum Nicarágua, agora reeditado pela Aperture, em colaboração com o International Center of Photography de Nova Iorque.
02 novembro, 2008
o poder
Jorge Campos apresenta o tema assim:
Algumas iguarias do cardápio (textos da organização):
>14h45, BMAG
Masterclass de Christian Milovanoff - O Poder das Imagens
(Christian Milovanoff é diplomado em Sociologia e em etnografia pela Universidade d’Aix en Provence e em estudos de Arte pela Universidade de Urbino, na Itália. Professor na École Nationale de Photographie d’Arles é autor de vários estudos sobre fotografia, como “As fotografias de Claude Levi-Strauss”, e cinema, nomeadamente sobre as obras dos cineastas Johan van der Keuken e Frederick Wiseman. Foi convidado por duas vezes, entre 1981 e 1986 e 2007-2008, pelo Musée du Louvre para realizar trabalhos de fotografia a partir das obras do Museu que ali foram apresentados. Tem realizado inúmeras exposições na Europa e nos Estados Unidos.)
>16h15, BMAG
Masterclass de Val Williams - Martin Parr: Photographic Works
(Val Williams é professora da University of the Arts London onde dirige o Centro de Investigação “Photography and the Archive”. Editora do livro: Martin Parr: Photographic Works, publicado pela Phaidon Press em 2002 e comissária da exposição: Martin Parr: Photographic Works 1970 - 2002 da Barbican Art Gallery e do National Museum of Photography Film and TV.)
Dia 4
>14h30, BMAG
Masterclass de Ray Müller - Um pacto com o diabo
(Nascido 1948, Ray Müller cursou Literatura inglesa e francesa, na Universidade de Munique. Estudou cinema em Londres e Montpellier. Depois de terminado o M.A. trabalhou como argumentista e realizador na televisão, especializando-se em documentários. O seu filme mais conhecido e premiado é The Wonderful Horrible Life of Leni Riefenstahl. Ray Müller é professor convidado da Universidade de Berkeley, Califórnia, desde 2006.)
>16h30, BMAG
Filme The Wonderful Horrible Life of Leni Riefenstahl (1993), de Ray Müller
Apresentação do autor
Filme Ein Traum Von Afrika (Um Sonho de África, 2003), de Ray Müller
Apresentação do autor
>21h45, BMAG
Filme Olimpíada (1938), de Leni Riefensthal
Apresentação de Ray Müller
Dia 6
14h30, BMAG
Masterclass de Ulrich Hägele - A Fotografia e o III Reich
(Ulrich Hägele tem formação em Estudos Culturais e História da Arte pela Universidade de Tübingen. Curador de Museus e redactor de Rádio na emissora SWR em Estugarda e Baden-Baden. É investigador em Ciências da Comunicação na Universidade de Tübingen e especialista em Propaganda do III Reich.)
Ciclo de Fotografia e Cinema Documental - Imagens do Real Imaginado
01 novembro, 2008
o regresso dos murmúrios
É difícil imaginar esta sucessão de imagens num espaço como o Silo, do NorteShopping, no Porto. Sobretudo depois do que se viu e onde se viram estes rostos proscritos. Em todo caso, louve-se a iniciativa de trazer de novo à luz fotografias que fazem mais do que se mostrar - sussurram-nos histórias de vida, pequenas ou grandes.
Murmúrios do Tempo
Espaço Cultural Silo, NorteShopping, Porto
Até 5 de Dezembro
de comboio
Local Museu Ferroviário de Lousado, Vila Nova de Famalicão
Até 28 de Dezembro