29 setembro, 2008
da violência
A Finlândia não tinha uma imagem da violência
Há quem pense que falar e mostrar violência leva a mais violência. E há quem pense que falar e mostrar violência ajuda a perceber e a reduzir os episódios de violência.
Em Novembro do ano passado, um aluno matou oito pessoas numa escola de Tuusula e a Finlândia ficou estarrecida. O país deitou-se no divã para tentar descobrir onde é que falhou e para tentar perceber o que é que levou Pekka-Eric, de 18 anos, a abrir fogo sobre outros alunos e professores e sobre si naquele dia. Os media finlandeses já eram muito selectivos no noticiário sobre criminalidade, mas depois do massacre de Tuusula, que até foi muito dissecado, reduziram ao essencial os factos sobre violência com receio de um efeito mimético. Uma precaução que surtiu efeito apenas até anteontem, porque o ex-aluno Matti Saari protagonizou um massacre em tudo parecido com o de Pekka-Eric. Morreram dez pessoas, mas os factos tiveram uma cobertura minimal.
Os media finlandeses estão cheios de pudor em mostrar o fenómeno da violência, mas Harri Pälviranta não. O fotógrafo sentiu que o debate social acerca do problema estava ligeiramente coxo. Porque lhe faltava imagem, um testemunho gráfico que mostrasse frontalmente as querelas físicas que se vão multiplicando nos fins-de-semana muito regados com drogas e álcool. A Finlândia tem dos mais baixos índices de criminalidade do mundo e o país não estava habituado a ver violência real intramuros. O certo é que a violência existe, até na Finlândia. Pälviranta quis dar-lhe um corpo gráfico seguindo uma abordagem muito própria que não deve ser confundida com as normas por que se rege o fotojornalismo. Apesar de o resultado estar muito próximo das imagens repentistas do mítico fotojornalista americano Weegee – conhecido por registar topo o tipo de crimes e acidentes em Nova Iorque pouco tempo depois de terem acontecido –, este trabalho de Pälviranta (Battered, especificamente sobre cenas de pugilato) procura uma postura mais metafórica e artística que ajude a perceber as razões desta tensão que leva os finlandeses a espancarem-se uns aos outros. É uma imagem da Finlândia que não conhecíamos e que os finlandeses, se calhar preferiam não conhecer.
A originalidade deste projecto valeu a Harri Pälviranta o prémio Descubrimientos do PHotoEspaña 2007. Não foi a primeira vez que o fotógrafo finlandês tratou o tema. Entre 1999 e 2001 concretizou On Violence, que mostra a interacção humana com as armas (a Finlândia é um dos países com mais armas entre a população), e Badscapes que capta paisagens bucólicas onde outrora se travaram violentas batalhas. Prepara actualmente um trabalho sobre a quantidade colossal de armas registadas na Finlândia em relação ao reduzido número de habitantes do país.
Sérgio B. Gomes
(P2, 25.09.2008)
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11 comentários:
Guto,
Será mesmo, que "a fotografia é uma coisa e a realidade outra [e] que todas as fotografias mostram uma realidade alterada"?
"Isto" não é fotografia nem tão pouco fotojornalismo. É a apologia da violência fácil, rentável, e oportunista.
Lamento que este bloque que muito prometia continue a ignorar eventos sérios e raros como a exposição de fotografias de Carlos Afonso Dias, presente na galeria "Pente 10", por motivos que só os srs. saberão e ao mesmo tempo divulgue barbaridades pixelizadas ao nível de um qualquer pasquim de exploração do terror.
Parece que a Finlandia não é muito diferente de Portugal, então.
Para a proxima levo a maquina para o Bairro Alto.
Posso é ficar sem ela e ficar igualmente ensanguentado!
E concordo com o goncaload-artes.
Porque não falar da exposição do CAD na Pente 10?
Sao documentos magníficos!
Galeria Pente 10. É para lá que eu vou.
Obrigado.
"Porque não falar da exposição do CAD na Pente 10?"
Uma pergunta sem resposta?!...
Não tenho nada contra Carlos Afonso Dias nem a Pente 10. Farei referência à exposição depois de a ver.
Quem fala de violência na Finlândia é certamente porque nunca lá viveu. a regularidade deste tipo de acontecimentos, comparativamente com Portugal, é infinitamente menor, quase como um mês de Portugal para um ano na Finlândia (só que ainda menos e não tão violentos). Volta e meia acontece uma coisa destas talvez porque são exageradamente timidos, porque lhes falta o sol para não deprirem, mas parece que o mundo civilizado continua a não querer dar mãos ao calor humano... e nós continuamos a pertencer mais a africa e a um terceiro mundo.
ainda bem que todos encontrámos um modo para dizer mal da finlândia. eu também não gosto nada da finlânida. não me entusiasma, não me dispara a adrenalina. é uma chatice: sou uma jovem do sexo feminino a residir em Helsínquia, e não tenho medo nenhum de atravessar o bairro dito mais problemático desta cidade, nem mesmo às 4 da manhã de uma noite muuiiittto escura. é mesmo aborrecido. será que devo voltat para lisboa? é que em lisboa tenho direito a emoções fortes a qualquer hora e em qualquer lugar.. até mesmo junto a uma esquadra da polícia.. que é tão eficiente. Veja lá o senhor guarda não se esqueça que está a trabalhar. ainda lhe foge a arma ou a mão ou enfim, o orgão sexual para a verdade, e se atira à menina. cuidado. veja lá. há muitas armas na finlândia. enfim, há muitas armas no mundo. nuns lugares são mais autorizadas que noutros. Nuns países são para a caça ao javali e noutros para os assaltos a mão armada. Mas armas são armas. Matam. é triste, incompreensível, o que aconteceu naquela escola, mas podia ter acontecido, como já aconteceu, noutra escola qualquer.
eu frequento uma escola na finlândia. não tenho medo nenhum de lá estar. tenho medo é que, antes mesmo de um aluno português disparar a arma, lhe caia o tecto podre da escola em cima, ou, quem sabe, seja assassinado pelo professor. O professor, desgraçado, está deprimido mas ainda não lhe foi diagnosticado.
Desabafo, ainda no rescaldo dos muitos comentários dos leitores do público às infelizes notícias de massacre de há dias, e ao texto que acompanha esta entrada no blog. Quanto às fotografias, não acho nada mal! gosto! Porém, os finlandeses não se espancam muito. nem tão pouco disfarçam noticiários. Queriam o quê, vídeos dos cadáveres no telejornal da noite?
clap clap clap à anónima aqui de cima!
Caro Sérgio Gomes,
A resposta que aqui deixou ontem às 13.13h referente à total omissão deste blogue em relação à exposição da obra de Carlos Afonso Dias,(CAD) meu pai, merece-me os seguintes comentários:
1- CAD é reconhecidamente um dos grandes nomes da fotografia feita por portugueses nomeadamente nas décadas de 50 e 60, tem actualmente 78 anos de idade e, como deve calcular, está-se completamente "nas tintas" para o facto de o sr.lhe fazer qualquer referência.
2- Envolvi-me pessoalmente na montagem da exposição por motivos afectivos mas também por considerar esse evento como um marco importante na vida do fotógrafo Carlos Afonso Dias.
3- Este V. blogue deu destaque em tempo útil, às 3 inaugurações que precederam a de CAD na galeria Pente 10; José manuel Rodrigues, Miguel Santos e Flor Gardunõ.
Como sabe a "pente 10" enviou aos principais orgãos de comunicação social (incluindo o jornal "O Público") um 'Press Release'para o efeito.
4- Por estranhar o V. silêncio escrevi-lhe, em Setembro, um e-mail a manifestar a minha opinião .
Não obtive resposta.
5- Entendo que aquilo que aqui escreveu revela, por um lado, uma atitude displicente e arrogante e por outro lado uma postura inaceitável para quem se apresenta á frente de um sítio de divulgação e critica de arte, "convidado do jornal O Público" com referências explicítas à 'ousadia empreendedora da revista "A Arte Photographica".
6- O facto de escrever de um modo apressado e de certo modo infantil "Não tenho nada contra Carlos Afonso Dias nem a Pente 10" quando se está a referir a um homem, fotógrafo no activo, de 78 anos de idade e a uma galeria dedicada exclusivamente à fotografia é no mínimo uma demonstração da fragilidade intelectual e da consistência dos conteúdos deste seu blogue. Aliás, é gritante a "colagem editorial", quase uma "dependência" que existe em relação ao blogue do Alexandre Pomar. Esse sim. Um espaço onde se respira cultura, critica com inteligência, divilgação com independência, respeito pelos leitores.
6- Para acabar, e arrumar o assunto, devo dizer-lhe ainda, que o único motivo que me move nesta tentativa de compreender a razão do seu comportamento, é simplesmente confirmar se de facto esse silêncio é fruto da ignorância ou filho de mais alguém.
Quanto ao meu pai, não se dê ao trabalho de escrever sobre a sua obra pois como bem aqui já demonstrou não está minimamente habilitado para isso e, asseguro-lhe, o meu "kota" dispensa com certeza aquilo que porventura poderia ter a dizer sobre a obra que mostra, feita ainda você não era nascido.
Cumprimentos,
Gonçalo Afonso Dias
Cumprimentos,
Gonçalo Afonso Dias
espero que tanto a finlandia como portugal tratem seu assunto de violência com a maior seriedade possivel, para que não sejam no futuro um rio de janeiro! Tenho muita pena dos jovens daqui que só conhecem violencia e desgraça. a anonima que é uma jovem que vive na finlandia não sabe o que está dizendo! sente-se aborrecida com a paz da cidade e queria viver num lugar mais "animado" não conhcece a realidade dessa animação.
talvez o problema dos paises europeus seja o mesmo que de certas cidades mais desenvolvidas daqui do Brasil: os jovens não têm atividades que possam canalizar energia e se tornam verdadeiras bombas, na busca por aventuras e emoções - busca essa tipica de jovens. já o problema daqui do Rio é a falta de uma estrutura que envolva os jovens em atividades sadias e os tire do convivio com a violencia.
que Deus abençõe Portugual, Finlandia e o meu querido Brasil.
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