10 junho, 2008

PHE08 - de cima

(© Florian Maier-Aichen)

Lá de cima vemos mais, mais longe, talvez até melhor. Certeza, certeza é que, lá de cima, do ar, vemos de maneira diferente. A perspectiva não é nova, longe disso, mas a invenção da fotografia deu-lhe usos novos, primeiro a quem simplesmente se espantou com a junção das duas e depois a quem quis ver muito mais, muito mais longe, da melhor maneira possível e, claro, de maneira diferente, de uma maneira que estava – e está - ao alcance de poucos. Ora, se há perspectiva que pauta boa parte do PHotoEspaña – Festival Internacional de Fotografia e Artes Visuais deste ano, essa perspectiva é a aérea, a vista de cima para baixo, a fazer lembrar a tradicional topografia, a ciência que faz precisamente a descrição dos lugares.

Em muitas exposições do festival, onde as vistas do alto marcam presença, o que ficou da topografia ou da geodesia (utilizada para vistas ainda mais largas) foi mesmo só a linguagem. Em vez de estudos minuciosos de terrenos, localização de acidentes geográficos ou marcação de obras públicas, o que encontrámos muitas vezes foi o contrário – uma tendência para aumentar a ambiguidade do documento fotográfico, desconstruindo-o, jogando com os usos que habitualmente lhe atribuímos.

Através de trabalhos que representam tendências contemporâneas quis dar-se “algo mais do que a capacidade descritiva e informativa” da fotografia, explica o comissário Sérgio Mah no catálogo da exposição Lugares Comprometidos. Topografia e Actualidade, a mostra que tenta questionar mais directamente o tema Lugar e uma das que mais utilizou a perspectiva aérea para o fazer (Pedro Barateiro, Walter Niedermayr, Peter Piller, Patricia Dauder). Para o crítico do jornal El País, Alberto Martín, que não ficou particularmente surpreendido com a programação deste ano do PHotoEspaña, é uma das melhores do todo o festival.

Questionado sobre esta linha de força das vistas aéreas pouco depois de ter apresentado mais duas exposições da secção oficial do PHotoEspaña em Madrid, Mah explicou que esta tendêndia para o “aéreo” não foi intencional, mas reconheceu que era “inevitável”. “Desde o século XIX que a ideia topográfica está ligada à fotografia, a ideia de descrever um território e, muitas vezes descrever o território em diferentes momentos do tempo para perceber as suas nuances, as suas transformações”. E avançou uma explicação para este nosso fascínio pelo que é captado lá de cima: “A ideia de fotogenia tem muito a ver com uma relação de espanto em relação à imagem. São aquelas imagens que nós não vemos normalmente. E há de facto uma fotogenia aos vermos a terra do ar. Ficamos fascinados quando chegamos a uma cidade de avião. E, mesmo que seja a nossa cidade, há sempre um encanto novo ao olhar pela janela do avião e tentar ver as coisas, as ruas, ter outra outra imagem do espaço”.

(Público, P2, 9.06.2008)

(© Pedro Barateiro)

3 comentários:

J. Santos disse...

Atenção: em Portugal diz-se "geodesia" e não "geodésia".
Jorge Santos

Anónimo disse...

Sempre esperei encontrar aqui outro género de comentários para poder digerir tanta informação e dados novos! Não quer dizer que este último comentário não tenha importância.

Unknown disse...

Obrigado pela correcção. O acento já lá não mora.

 
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