26 junho, 2008

Aglaia Konrad



A austríaca Aglaia Konrad vai estar hoje na Faculdade de Belas-Artes da Faculdade de Lisboa, às 18h30, para uma conferência sobre o uso da fotografia no seu trabalho.
O texto de divulgação da palestra apresenta a abordagem conceptual da artista assim:

Elegendo a fotografia como medium privilegiado, Aglaia Konrad analisa o fenómeno do espaço urbano com um entusiasmo infeccioso. Exemplos de utopias locais, modernismo programático e pragmatismo eufórico são encadeados em ensaios visuais acerca de uma forma de vida inconfundivelmente contemporânea – a cidade.

16 comentários:

Anónimo disse...

Sempre esclarecedores, os textos de divulgação...

Continuo a preferir as explicações dos próprios artistas ao palavreado intencionalmente inintelígivel (pelo menos, pelo comum cidadão) dos críticos...

Abr

monica_martins disse...

Será que a comunidade artística se debate a favor de que a arte seja massificada? Seja procurada e entendida pelo comum cidadão? Resta esperar que sim e que a própria artista não se dirija ao público na sua palestra no mesmo idioma utilizado pelo autor do texto de divulgação.

Anónimo disse...

Se a Arte fosse tão simples como por vezes aparenta ser, todos nós seríamos artistas, e não haveriam movimentos modernistas que pudessem deixar antever o futuro ou as novas tendências. Talvez esteja na complexidade das coisas o seu verdadeiro valor. As pessoas de hoje habituaram-se ao imediatismo e ao facilitismo exacerbado. Antigamente trabalhavamos para alcançar o supremo, enquanto hoje alimentamos e consumimos aquilo que nos chega de forma "pronto-a-consumir". De qualquer maneira, aquilo que é mais trabalhado e mais rebuscado continua a estabelecer-se como aquilo que realmente tem valor, e daí a necessidade de textos e explicações complexas. Mas essa é só a minha opinião.

Anónimo disse...

Antes de mais, peço desculpa ao Sérgio por estar a levar a discussão por caminhos distintos do seu artigo.

Eu, quando leio livros ou artigos escritos por fotógrafos, não encontro este tipo de linguagem quase "hermética". Eles explicam o seu trabalho (se for essa a intenção) sem necessidade de recorrer a vocabulário ou filosofias que estarão fora do alcance do grande público. Parece-me que o papel de um crítico/estudioso deveria ser facilitar a compreensão do trabalho ao grande público, já que os entendidos não precisarão da sua ajuda para compreender a obra. E este tipo de linguagem decerto não esclarece o público curioso.

Acabei de ler o "The making of 40 photographs" do Ansel Adams, onde ele explica como e porque fez 40 das suas mais famosas fotografias. Acham que ele necessitou de usar termos destes?

Esta parece mais uma edição da história do rei vai nu. A arte está na fotografia, e não no texto explicativo que alguém escreveu. Ou assim deveria ser.

José Carlos: "Talvez esteja na complexidade das coisas o seu verdadeiro valor." De acordo, até pode ser verdade. Mas o valor estará na fotografia, e não no texto que alguém decidiu que a deveria acompanhar. Aliás, esse texto deveria, para ser útil, simplificar a compreensão da obra, e não torná-la críptica e apenas acessível a uma minoria...

Abr

Anónimo disse...

Eu não acho que o facto de se tornar uma obra críptica seja relegá-la para apenas algum público. Penso é que a maioria das pessoas têm "preguiça" em compreender aquilo que os críticos escrevem. Contra mim falo, porque muitas vezes também não tenho muita paciência para me debruçar sobre determinados temas, ou artigos. E é deveras interessante para um fotógrafo ler um texto do génreo "porquê" ou "como" fiz esta ou aquela fotografia. Só penso é que os outros textos também podem ter o seu lugar. E se a Fotografia se quer afirmar no mundo artístico, como vêm acontecido (e com muito sucesso) nos últimos anos, então penso que esses textos só poderão trazer-lhe credibilidade. Mas é como disse... essa é a minha opinião. Fui ensinado a pensar que a Arte chamada de contemporânea, traz consigo uma explicação. A obra fica quase relegada para segundo plano, e o que conta é a teoria. A intenção. Até que ponto isso é correcto? É questionável. Mas parece ser assim que os grandes artistas têm vencido através dos tempos.
Como é óbvio, é muito mais fácil "mostrar" um impressionismo, ou um surrealismo, que explicá-lo. Facilita a sua compreensão. Mas os novos rumos que a Arte tem tomado são diferentes. Não são estanques. E torna-se difícil mostrá-los sem os explicar.
Na minha opinião, já quase tudo foi feito. Estar a repetir, ou a copiar, não faz com que a Fotografia enquanto forma de Arte possa andar em frente. E por isso temos visto novos rumos, novas tendências que se apoiam na argumentação, ao invés da mostra.
De qualquer maneira, volto a referir que nem um nem outro processo tem que se sobrepor ao outro. Acho que podem os dois conviver, e daí o facto de não ter percebido, e de não perceber há muito tempo, as pessoas que criticam os críticos de arte. Eles não devem explicar a obra. Devem estudá-la, e interpretá-la.

Já agora também me desculpo ao autor do Blog por estar a alimentar aqui esta discussão.

Anónimo disse...

Caro José Carlos,

Devo desde já dizer que não sou um grande apreciador dos novos caminhos da fotografia. No entanto, respeito-os, e concordo com o que disse sobre o assunto.

Mantenho é discórdia em relação ao papel dos críticos de arte. Se a fotografia contemporânea tem uma nova dimensão que passa além da fotografia em si (será que ainda se deveria denominar Fotografia?),não seria obrigação do artista fazer passar essa nova dimensão em vez de confiar essa tarefa a terceiros, que podem ou não a ter interpretado?

Conheço casos em que, depois de ler adornados textos de apreciação dos trabalhos, ouço da boca do artista coisas como "só fotografei assim porque achei estéticamente agradável"... Fico sempre com a impressão (talvez errada, admito) que o papel do crítico destina-se mais ao mercado do que ao público (coisas diferentes, para mim). Gostaria mais de ler um texto explicativo, se houvesse necessidade de tal, claro, conciso, directo em vez de receber a poesia quasi indecifrável de alguém externo à obra. Porquê essa necessidade de protagonismo? Porque não simplificar, voltar a colocar o centro da atenção na obra, chegar a todos e assim divulgar a Arte?

Abr, obrigado pelo seu tempo

PS: Sinto-me confortável a defender esta posição, já que me considero parte integrante do grande público e externo ao mundo dito artístico...

Anónimo disse...

Sim, na prática deve ser o observador a determinar aquilo que lhe serve, e sendo assim o público comum terá sempre a última palavra a dizer em relação à obra, à explicação que o artista lhe possa dar e à eventual interpretação do crítico de arte. Mas a minha opinião também se mantém, quando digo que o texto mais elaborado pode funcionar em favor da valorização da Fotografia (artística ou não). Acredito que o fotógrafo não pense em muita coisa que o crítico fala quando lança a obra às "feras". Mas como observadores, também as "feras" tem uma opinião que é suscéptivel de ser ou não transmitida, apreendida e criticada. No fundo acaba tdo por ser uma pescadinha de rabo na boca que faz mexer a comunidade fotográfica.

Abraço.

Anónimo disse...

De acordo. De qualquer forma, é realmente uma decisão do público ler ou não os referidos textos, e do artista incentivá-los ou ignorá-los. Só mesmo o mercado aparenta necessitar deles para sobreviver...

Abr

Anónimo disse...

A abordagem do Mário Nogueira trouxe-me de imediato à memória um texto de um amigo que por sinal é professor de filosofia, António Bento, e se o Mário tiver interesse e aquela "paciência"( devido ao número de páginas) que também é importante para não se ficar no nível meramente superficial e naquela abordagem "fácil" que entorpece o espírito, focada pelo José Carlos Marques, talvez se venha a rir um pouco, pois de algum modo vai ao encontro do que aqui foi exposto pelo Mário. Pode encontrar este texto intitulado A Língua da " Correcção Politica" ( de António Bento) em www.lososofia.net. Se isto é um desvio ao tema não sei, para mim é apenas continuação. O espaço é aberto, o caminho nem sempre é explícito e nem sempre a direito. Umas coisas conduzem-nos inevitavelmente a outras.

Quanto a mim, a linguagem visual e escrita podem andar de mãos dadas. De qualquer modo, tenho de concordar que nem sempre fazem um casamento feliz.

Anónimo disse...

A abordagem do Mário Nogueira trouxe-me de imediato à memória um texto de um amigo que por sinal é professor de filosofia, António Bento, e se o Mário tiver interesse e aquela "paciência"( devido ao número de páginas) que também é importante para não se ficar no nível meramente superficial e naquela abordagem "fácil" que entorpece o espírito, focada pelo José Manuel Marques, talvez se venha a rir um pouco, pois de algum modo vai ao encontro do que aqui foi exposto pelo Mário. Pode encontrar este texto intitulado A Língua da “ Correcção Politica” ( de António Bento) em www.lososofia.net. Se isto é um desvio ao tema não sei, para mim é apenas continuação. O espaço é aberto, o caminho nem sempre é explícito e nem sempre a direito. Umas coisas conduzem-nos inevitavelmente a outras.

Quanto a mim, a linguagem visual e escrita podem andar de mãos dadas. De qualquer modo, tenho de concordar que nem sempre fazem um casamento feliz.

PdR disse...

Alguem foi a esta conferencia?
O que acharam da conversa?
Talvez pudesse ajudar a esclarecer os mal-entendidos...

Quanto aos textos e 'a Arte, por alguma coisa a Arte e' visual - talvez para que nao se tenha forcadamente de se lerem textos; porem se existirem e enriquecerem o discurso ou mesmo que deem alguma pista para que se compreenda a obra, tanto melhor.

A peca artistica nao acaba nos objecto de arte produzido, nem nos textos que a podem acompanhar ou nao; o publico tem o dom de a achar interessante ou nao. Como tal, se a obra nao e' inclusiva e nao desperta qualquer curiosidade entao e' inutil.

A Fotografia tem talvez essa vantagem - a da inclusao. As imagens fotograficas sao imagens de alguma coisa que existe ou sao manipulacoes de alguma coisa que existe - sao do Mundo onde vivemos.
Os textos muitas das vezes sao practicamente uma justificacao do autor em relacao ao que produz, mas nem sempre serao necessarios.
A ideia e' que haja uma fomentacao de um discurso 'a volta do assunto que procurou expor.
Em relacao ao vocabulario usado, talvez se ainda esteja 'a procura da linguagem fotografica escrita. Apesar de tudo, os subterfugios e maneirismos normalmente usados para descrever outras artes, dificilmente se aplicam 'a fotografia - tornam-se menos inclusivos que a propria imagem parecendo querer sobrepor-se ao proprio trabalho, como objecto literario.

Este texto "traduzido", poderia ser qualquer coisa como:

Usando a fotografia como meio privilegiado enquanto de ferramenta de analise do espaco e vida urbanos, Aglaia Konrad cria novas formas urbanas potenciais partindo de situacoes utopicas baseadas no Modernismo

Tambem nao sei se ajuda muito, mas como nao sou pago 'a palavra decidi cortar alguma "gordura" textual.
O importante a meu ver e' perceber que esta artista usa fotografia nos seus trabalhos; que o trabalho dela se baseia em formas de experimentacao sobre o espaco urbano e que essas experiencias criam espacos em potencial (porque nao sao reais, mas manipulacoes do "real"); o Modernismo acaba por aparecer ali para conferir alguma seriedade ao texto, ao mesmo tempo que descreve a base de trabalho desta artista.
Nao e' dificil de imaginar que vindo ela de uma Europa central que sofreu reconstrucoes apos a Segunda Guerra Mundial e em que as cidades foram desenhadas segundo padroes urbanos Modernistas, que esta nao fosse a sua base de trabalho.

Ja' agora recomendo a exposicao Utopias no CCB (ou Museu Berardo) - a exposicao tambem aborda este tema e na minha opiniao esta' muito boa.

Obrigado

Anónimo disse...

Caro M0rph3u,

Admiro-lhe quase sempre o fôlego para suster os discursos, mas suas as palavras, voltaram a suscitar em mim uma dúvida:

Onde é que está a utilidade de uma obra de arte, mesmo quando nos toca? Tem a arte que ser útil? Tem que ser um instrumento para um fim exterior a si mesmo?

PdR disse...

Cara miuda,

Acho que me fez a pergunta com uma resposta possivel - onde esta' a utilidade de uma obra de arte. mesmo quando nos toca?

Eu nao acredito em obras de arte que tenham o mesmo resultado "pedagogico" em todas as pessoas. Isso possivelmente nao e' arte, mas sim outra coisa qualquer. Claro que poderao haver algumas que colocam o espectador a pensar num tema especifico ou com uma orientacao especifica para um dado assunto; mas nunca sao uma resposta unica e final sobre esses mesmos assuntos.

A obra de arte prolonga-se no espectador e este sim cria a sua propria obra de arte.

Por outro lado, nao usaria a palavra utilidade, pois a utilidade da arte e' uma questao do ambito religioso, quase. Se o espectador acreditar que uma dada obra de arte e' importante... entao ela e' importante; caso contrario ela e' apenas um pedaco de papel com qualquer coisa impresso ou um bloco de pedra que foi partido por alguem.
Isso e'o mais abstracto que pode haver em relacao 'a obra de arte e poderia ser uma analise do seu verdadeiro valor, caso o conteudo ou a mensagem da obra nao fosse igualmente importante.
Mas um carro tambem e' uma amalgama de pecas de ferro e muitas pessoas dao-lhe valor... talvez mais porque essa amalgama de pecas de ferro faz com que elas se desloquem entre dois pontos geograficos.
Mas se a deslocacao e' um factor assim tao importante, porque e' que a arte nao podera' ser importante, quando nos faz criar uma distanciacao da sociedade em que vivemos e nos faz pensar sobre ela?

Anónimo disse...

m0rph3u:

Concordo; queria apenas ressalvar que a minha crítica inicial não ia contra a "parceria" texto/imagem, mas sim com o tipo de vocabulário utilizado pelos (alguns) críticos que, na minha opinião, mais se assemelha a uma necessidade de protagonismo. Se as palavras viessem do artista, teria que as respeitar, como parte integrante da obra. De outra forma, parece-me simplesmente ruído...

Abr

Anónimo disse...

A esta conferência não fui mas a de ontem, As linguagens Actuais da Fotografia Documental, na Kgaleria e anunciada neste blog valeu a pena.

PdR disse...

Compreendo o que o Mario diz, dai faca sempre um esforco em promover uma linguagem acessive e que promova uma discussao real sobre os assuntos que estao a ser debatidos.

Em todo o caso, o que me parece que acontece nem e' tanto essa necessidade de protagonismo, mas uma certa "tecnicizacao" de estilos e vocabulario, que sao normalmente aceites neste tipo de discurso.

Nao ha' que levar a mal, mas alertar o escritor que esse tipo de texto conduz 'a tal nao inclusao que referi antes e com isso um certo afastamento da Arte.
O que acaba por ser um contrasenso, quando muito do trabalho que e' feito hoje em dia nos Museus e' justamente a criacao de novos publicos...

 
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