11 fevereiro, 2008

+WPP

Platon para a Time, Vladimir Putin, Rússia
(1º Prémio na Categoria Retrato)

Não é de invejar nem um bocadinho a tarefa dos membros do júri que todos os anos elegem a fotografia vencedora do concurso World Press Photo. Deve ser angustiante. Escolher uma fotografia. A melhor. A que condensa numa superfície o máximo de emotividade, expressividade, dramatismo, rigor técnico, criatividade ou a mais simples feição de desespero, cansaço, aflição. Isolar uma fotografia. Torná-la só no meio da orgia das imagens. Tão-só como o soldado que ficou na objectiva do britânico Tim Hetherington, o grande vencedor da edição deste ano de um dos mais conceituados galardões de fotojornalismo do mundo.
Na verdade, este militar só não ficou para sempre sozinho nesta fotografia de Hetherington porque há um olhar fugaz que o liga a quem o vê. É pouco definida essa ligação, como pouco definida é a textura que chegou até nós. Mas é suficiente para o acompanharmos na sua solidão, para partilharmos o seu drama no atoleiro em que os Estados Unidos se meteram no Afeganistão. O soldado do 2º Batalhão Aerotransportado do Exército americano está sozinho e não está. Nós estamos com ele e a fotografia que o fixou está acompanhada por outras do mesmo autor que ganharam o 2º prémio na categoria de Notícias.

Tim Hetherington para a Vanity Fair
Não deixa de ser surpreendente que a imagem vencedora venha do Afeganistão que, a par do Iraque, foi um dos cenários mais recalcados visualmente dos últimos anos. Era difícil trazer dali um momento que contasse uma história diferente da que todos os dias nos entram pelos olhos dentro. Para o júri deste ano, Hetherington conseguiu-o. Não só com uma, mas várias fotografias feitas para um trabalho encomendado pela revista Vanity Fair.
Numa apreciação imediata nota-se uma presença assinalável do preto e branco na edição deste ano do concurso. E há alguns prémios para fotografias neste suporte em categorias onde não é tradicional o seu uso, como o Desporto (o caso da fotografia do português Miguel Barreira).
Na galeria de premiados salta também à vista o retrato de Vladimir Putin feito pela agência britânica Platon e que foi capa da revista Time na tradicional votação para a personalidade do ano. Putin tem um olhar gélido, implacável. Não é um simples retrato, claro. Revela bem a frieza com que nos habituámos a olhar para o Presidente russo. É um retrato psicológico, que tem de ser lido para lá da pele de Putin.
Os olhos e o olhar são muitas vezes importantes na fotografia. Dão-nos o contacto. Dão-nos a "química". Outras nem por isso. É preferível imaginá-los. Como quis que fizéssemos Ariana Lindquist com esta figura esbranquiçada de cara cortada, sem olhar, mas com glamour e muito mistério.

(P2, 09.02.2008)

Ariana Lindquist, rapariga mascarada de boneco animado, Xangai
(1º Prémio na Categoria Arte e Entertenimento)

1 comentário:

Anónimo disse...

Lamento a falta de colaboração dos visitantes assíduos do blog... podiamos ter aqui uma discussão saudável, como já aconteceu com tantas outras reflexões que tens feito sobre a Fotografia que passa para fora. Já não era mau que se falasse dessa... Não me vou repetir (quanto à fotografia "galardoada"), só acrescentar que o retrato do Sr. Putin não é um retrato, isto é, a sua força não advém da forma como foi fotografado, nem da composição, nem da expressão realmente gélida com que este homem encara as objectivas. Este retrato, em especial, só é o que é porque tem uma edição digital que se assemalha a todo o tipo de edições que é feito para uma determinada impressa, etc, etc, etc. Resumindo, um retrato, para mim, tem força quando os seus alicerces assentam noutro terreno que não este.
Sofia Silva

 
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