 Spencer Tunick fotografa no glaciar de Aletsch
Spencer Tunick fotografa no glaciar de Aletsch(© AFP)
Parte da última crónica de Eduardo Cintra Torres no Público (Imagens a nu) fala do mais recente happening fotográfico idealizado por Spencer Tunick no glaciar de Aletsch, na Suíça.
O crítico de televisão denuncia a falta de novidade destas grandes esculturas humanas sem roupa e refere a inexistência de fotografias do próprio Tunick sempre que as notícias nos diversos suportes falam de alguma das suas criações artísticas. Ou seja, as imagens que acompanham o noticiário sobre as movimentações do fotógrafo americano pelo mundo são da autoria de fotojornalistas e operadores de câmara de agências internacionais e nunca de quem concebeu, preparou e concretizou a imagem primeira que esteve na origem desse noticiário.
Cintra Torres acha isto "curioso". Eu acho normal.
Normal porque a notícia, para a esmagadora maioria dos media, é a conjungação simultânea dos factores "multidão", "nu" e "espaço público", como o próprio Eduardo enumera no texto e aos quais eu acrescento os factores "insólito" e "desconforto". Tudo dentro do saco da arte, caso contrário dificilmente a mega concentração de pêlos púbicos entraria na televisão à hora de jantar.
A notícia não é a fotografia ou as fotografias de Tunick como processo criativo ou como objecto de arte, até porque aí, goste-se mais ou menos, não há grande novidade, como o crítico também nota e documenta. A notícia não é a fotografia de Tunick - eventualmente vendida em galerias de Nova Iorque ou Londres sem que antes alguém lhe ponha a vista em cima -, mas a concretização de uma ideia bizarra que tem como um dos ingrediente a nudez colectiva.
Parece-me claro que é esta mole de carne em pose estudada que espicaça os media e não o génio criativo de Tunick. Ou alguém está a ver os pivôs do Jornal da Noite da TVI a lançarem uma peça sobre o conceito de nudez na tradição judaico-cristã e sua influência na dessacralização do corpo em Spencer Tunick?
(A crónica de Eduardo Cintra Torres está aqui.)
 Spencer Tunick fotografa no glaciar de Aletsch
Spencer Tunick fotografa no glaciar de Aletsch(© Laurent Gillieron/EFE)
 
 
 

4 comentários:
.. uma questão pertinente.
Vou dar um contributo a este seu post:
http://dapolitica.blogspot.com/2007/08/arte-de-fotografar-multides-nuas.html
Primeiro, parabéns pelo blogue. É bom que se alarguem os fora em que se analisam as imagens.
Segundo, o que pretendi com o meu artigo foi suscitar o debate sobre as instalações Tunick. Interessou-me não só o interesse dos media por elas (e naturalmente que é pelo insólito da apresentação da dupla multidão+nudez), mas também os motivos de Tunick para esta iniciativa que parece uma obsessão (artística, mas uma obsessão).
Terceiro, quis fazer um tríptico! Como só sei escrever, a única maneira era roubar, plagiar, sacar, tirar, copiar... a outros para poder criar a minha própria «obra»... Raramente os artigos são dependentes das imagens, mas neste caso o artigo só podia sair com a imagem tríptica que me sugeriu a lembrança de outras multidões nuas que vi em exposições ou livros de arte.
Agradeço ao Eduardo as achegas sobre o seu primeiro texto.
De vez em quando convém mesmo parar para pensar nas imagens que nos metem pelos olhos dentro. E tentar desmistificar a aura de génio com que muitas vezes se apresentam ideias que mais não são que reposições sensaboronas de coisas já feitas e experimentadas, às vezes com algum génio outras sem nenhum.
É bom também poder contar com o olhar, a curiosidade e a cultura de outros na tarefa de deslindar e redescobrir o que nos rodeia no campo das imagens.
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