30 outubro, 2006

Para a Galiza

A Coruña, na Galiza, recebeu durante o mês de Outubro o festival de fotografia Olladas´06. Algumas exposições prolongam-se por mais tempo em outras cidades galegas.


Exposições:Exposições:
Exposições:Exposições:


J. M. Castro Preto, 1999


Ferrol, Fundación Caixa Galicia: Vidas Privadas - Esta mostra resulta de uma selecção de 69 imagens dos 42 autores representados na Fundación Foto Colectania, um dos mais importantes espólios privados de fotografia em Espanha que reúne também vários nomes portugueses. Entre os artistas representados destacam-se os espanhóis Francesc Català-Roca, Xavier Miserachs, Paco Gómez, Gabriel Cualladó, Joan Colom, Carlos Pérez Siquier, Joan Fontcuberta, Pere Formiguera, Humberto Rivas, Toni Catany, Cristina García Rodero, Alberto García Alix, Susy Gómez, Xavier Ribas, Javier Vallhonrat e os portugueses Helena Almeida, Gérard Castello-Lopes, António Júlio Duarte, Fernando Lemos e Sena da Silva.
Esta exposição conta as Vidas Privadas de cada uma das imagens apresentadas. As peripécias, circunstâncias e condicionantes com que os seus autores se debateram no momento em que as captaram. Quando foram compradas, as fotografias vieram acompanhadas por textos dos fotógrafos acerca delas. É essa “história” que agora também se revela.
A Fundación Foto Colectania concentra a sua colecção nos últimos 50 anos da fotografia em Portugal e Espanha. Até 3 de Dezembro


J. M. Castro Preto, 1999


Santiago de Compostela, Fundación Caixa Galicia: Historia da Fotografia en España- Conta a história política, social, cultural, industrial e urbanística do país pela imagem fotográfica desde 1939, ano do anúncio da invenção do daguerreótipo, até à passagem do século XX para o XXI. 350 imagens vindas de mais de 100 colecções públicas e privadas tentam dar um retrato de conjunto das mudanças operadas em Espanha. Em paralelo, pode fazer-se também um percurso histórico pela evolução dos suportes e das técnicas de produção da imagem fotográfica. A selecção foi feira pelo historiador Públio L. Mondejár. Até 15 de Novembro


Arquivo Pacheco


Santiago de Compostela, Fundación Caixa Galicia: Arquivo Pacheco– Selecção de imagens do espólio do fotógrafo português Jaime de Sousa Guedes Pacheco, estabelecido em Vigo nos primeiros anos do século XX. Até 30 de Novembro


Entre aspas

Assad Mouhsin (Associated Press)

Pensamos pouco sobre aqueles que vemos nas imagens. Pensamos ainda menos sobre aqueles que as imagens nos obrigam a ver.

João Lopes, Entre as Imagens, Diário de Notícias, 6ª (15.09.2006)

27 outubro, 2006

O Livro filmado

Exemplar do livro Lisboa, Cidade Triste e Alegre


Eles apanharam com grande sensibilidade e amor, as pessoas, as ruas e as coisas nos anos de chumbo, que eram aqueles.

Fernando Lopes


Preparava-me para escolher alguns documentários que tinha perdido no docLisboa deste ano quando um conjunto de quatro pequenos cartazes fixados na parede da videoteca temporária da Culturgest me prendeu o olhar. Gostei do grafismo. Aproximei-me. Um mostrava o rosto de uma criança, os outros três transcreviam frases sobre uma realização extraordinária "durante os anos de chumbo". Letras pequenas de rodapé falavam de Lisboa, Cidade Triste e Alegre.
Era um filme sobre O Livro. O Livro de fotografia com o qual, em 1959, os arquitectos Victor Palla e Costa Martins quebraram as regras do fazer e do mostrar nesses anos de definhamento. O documentário está entre os cerca de 800 filmes não seleccionados pela organização do festival. Depois de vê-lo aceita-se a decisão. Durante os 44 minutos que dura a fita, raramente se pode contemplar aquilo que realmente aqui interessaria: as fotografias. Um dos culpados é a banda sonora, um jazz frenético (mal escolhido) cuja cadência rítmica vai ditando a passagem das imagens, também ela demasiado febril. As vozes convidadas para a narração não ajudam. Há nelas uma leitura apressada dos textos que faz lembrar a previsão do tempo para amanhã. A lista de entrevistados é longa (20, para um filme que ficou com 44 minutos). Poucos são os depoimentos com algum valor acrescentado para o documentário que, segundo percebi, pretendia, por um lado, sublinhar a pedrada no charco que a obra representou no contexto político, social e artístico do Portugal domesticado pelo regime salazarista e, por outro, tentar conhecer estes dois homens que ousaram estampar fotografias de uma Lisboa que se queria escondida. No fim, distinguem-se as conversas com José Soudo, Dália Dias, Fernando Lopes e Nuno Teotónio Pereira. Para além dos cartazes e do grafismo do filme, salva-se a iniciativa de querer divulgar uma obra pouco conhecida para o comum dos portugueses (muito conhecida para os mercadores de livros de arte). É pouco. Lisboa, Cidade Triste e Alegre merecia mais.

Lisboa, Cidade Triste e Alegre, de Luís Camanho
DVCAM/Cor/44'/2005

26 outubro, 2006

Olharmo-nos

Céu Guarda, Os Outros


Os areais, à beira-mar ou à beira-rio, são talvez os locais onde as pessoas mais se olham. Não para si, mas entre si. Céu Guarda, fotojornalista da agência [ kameraphoto ], meteu os pés na água e passou o último Verão numa dessas praias, junto a uma lagoa, a olhar para os outros, a fixá-los em retrato de corpo inteiro estudado, sempre no mesmo lugar, para que, agora, outros ainda olhem para eles. E, porque não, para que estes olhem também para si próprios - numa das imagens de frente para a câmara, na outra, nessa estranha posição de quem se mostra sem ver a quem. Nas impressões de médio formato saltam à vista as tonalidades infindáveis que o céu nos oferece. São tantas como as fotografias que se lhe podem tirar. Para lá do retratado, mais perto ou mais longe do horizonte, pequenos pontos ganham formas ora de barquinhos à vela, ora de cabeças à tona, ora de bóias de salvação. São cenários irrepetíveis, como o céu.

Céu Guarda, Os Outros


Os Outros, Céu Guarda
[ K Galeria ]
de 4ª a sáb. das 15h00 às 20h00
Rua da Vinha (Bairro Alto) 43A
Tel.: 213431676
E-mail: kgaleria@kameraphoto.com

24 outubro, 2006

*Três perguntas a...


Paulo Nozolino (Paulo Pimenta/PÚBLICO)

Paulo Nozolino. Fotógrafo lisboeta a viver no Porto. Mostra actualmente na Galeria Quadrado Azul, no Porto, 15 imagens sobre as difíceis condições em que vivem dezenas de famílias ciganas na Cité de Transit d`Erbajolu, em Bastia, na Córsega. A exposição chama-se Scalati (“atolados”).

¿Por que é que ainda fotografas?
Porque ainda tenho interesse pelo mundo em que vivo.

¿O que é que aprendeste com este trabalho em Erbajolu?
É uma grande lição ver pessoas que estão a viver em condições sub-humanas a manterem uma dignidade e uma postura que muitas vezes não se vêem nas pessoas que vivem bem.

¿Que trabalhos te ocupam neste momento?
Trabalho desde há muito sobre a Europa, desde 77. Continua a interessar-me a identidade europeia. Vou continuar a ir para os países de Leste, para os países que vão entrar na União Europeia, para tentar apanhar o que é o espírito europeu, que eu sempre senti. Acho que há uma consciência europeia que esteve latente e cada vez mais surge como uma realidade. A Europa é uma Fénix a renascer das cinzas.

fazer tremer


Era vital para mim ouvir-lhes a voz, avaliar-lhes a inteligência das palavras. Eu parecia perseguir simples corpos, mas o que eu cobiçava era captar almas encerradas em corpos nus. Isso, creio eu, é o que faz uma boa e verdadeira fotografia, que nunca é uma mera imagem para ser vista exclusivamente pelos olhos. É preciso trazer o coração à boca. É preciso ficarmos abalados, a tremer.

Pedro Paixão, Polaroids, revista Umbigo (Setembro, 2006)

23 outubro, 2006

encontros da imagem - 20 anos

A edição deste ano dos regressados encontros da imagem de Braga está perto do fim. Há bons motivos para rumar até ao Norte, antes que se escondam as imagens que marcaram os 20 anos que já leva o certame.


Exposições:Exposições:
Exposições:Exposições:


Teatro Circo: Documento e memória

Martin Parr

(...) uma imagem fotográfica, no limite qualquer imagem fotográfica – independentemente do objectivo que presidiu à sua execução, porque é um produto da cultura humana – parece estar condenada à partida ao estatuto de puro registo para memória futura, usando a saborosa hipérbole judicial. Mário Martins

Clara Gutsche



Mosteiro de Tibães: Corpo e identidade

Diane Arbus

Como um todo, ou fragmentado, a fotografia encontra na apropriação do corpo humano um vasto manancial criativo. Em torno da figura humana, a fotografia desenvolve e aprofunda diferentes caminhos: estéticos, antropológicos, científicos e forenses. Rui Prata

Jorge Molder


Museu D. Diogo Sousa: Memórias da cidade

Jim Dow

A fotografia cria-se a si mesma no processo em que, por ela, a própria realidade vai sendo recriada. Ângela Mendes Ferreira


Paul Reas



Biblioteca Lúcio Craveiro Silva: Paisagens

Rui Fonseca
A fotografia contemporânea empreendeu um trabalho de ruptura deliberada com a tradição de paisagem ligada a uma omnipresente tradição pictural. Os espaços de beleza ou grandiosidade cederam lugar às ‘infrapaisagens’ em declinações do território que preferenciam zonas de lazer ou de trânsito, de actividade industrial ou comercial, ou arrabaldes incaracterísticos de cidades, quase sempre percepcionados como lugares de exclusão identitária e de impossível enraizamento.Ângela Mendes Ferreira

Carmelo Nicosia



Casa dos Crivos, Torre de Menagem: O jogo das formas

Chema Madoz

A fotografia aprecia sobremaneira jogar com as formas – está-lhe na massa do sangue. E com elas joga desde o primeiro momento, porque desde o primeiro momento se veio inscrever necessariamente na longa tradição das artes visuais, e nestas desde há muito afincadamente se ensaiavam os avatares da percepção visual, levando ao limite as possibilidades estéticas, tanto quanto as condicionantes técnicas de cada disciplina o permitiam. Contudo, a própria natureza mecânica da fotografia, se por um lado lhe concedia credibilidade, por outro vedava-lhe a conquista do estatuto de meio de expressão criativa de corpo inteiro. Era preciso provar que a imagem fotográfica, tão concreta e prosaica na sua origem, poderia também ela evocar sentimentos universais e ideias abstractas, o que lhe possibilitaria franquear definitivamente as portas do templo da criação poética. Mário Martins


Corinne Mercadier



Braga Parque: Farm Security Administration

Walker Evans

Hoje, a sigla FSA (Farm Security Administration) já não recorda apenas os danos da crise dos anos 30 e o optimismo do programa New Deal, mas recorda um dos projectos mais ambiciosos da fotografia, incumbido de representar a sociedade norte-americana no período pós-depressão. E, para muitos de nós, a imagem que temos da América desses anos difíceis baseia-se nas obras desses fotógrafos, como Walker Evans, Dorothea Lange e Russell Lee, entre outros, os quais trabalharam com a preocupação constante de testemunhar os problemas do momento, imprimindo-lhes uma visão histórica, económica e sociológica. Rui Prata


Ben Shahn



M. da Imagem, M. dos Biscainhos:Homenagem (Brian Griffin, Gilbert Garcin e Arno Fischer)

Brian Griffin


Ao longo dos vinte anos que se cumprem com esta edição, muitos foram os autores e instituições com quem firmámos laços de amizade, ultrapassando o formalismo das necessárias relações a que a organização de um evento deste género obriga.
(...)
Num acto singelo, mas de profundo reconhecimento, queremos prestar homenagem a Arno Fischer, Brian Griffin e Gilbert Garcin, três nomes que nunca esqueceremos e que, certamente, a História da Fotografia também não.

Arno Fischer



encontros da imagem
Av. da Liberdade, nº 432 – 6º, sala 39, Braga
Tel.: 253278633
e-mail: ei@encontrosdaimagem.com
Até 29 de Outubro

20 outubro, 2006

Helena Almeida X 2

Helena Almeida, Dentro de Mim, 2000 (colecção da artista)

De uma penada, dois documentários sobre a obra e vida de Helena Almeida, a pintora do corpo fotografado.

O primeiro - A Segunda Casa - passa hoje na 2: e procura explorar a forma como Helena Almeida coloca em confronto os trabalhos que tem feito em vídeo com os que usam o suporte fotográfico. O registo, com uma forte tónica biográfica, pretende também dar a conhecer uma sucessão de artistas da família de Helena: Leopoldo de Almeida, Artur Rosa, Rosa Almeida, Joana Rosa.

O segundo - Pintura Habitada - é exibido no domingo na Culturgest, no âmbito do doclisboa 2006. O filme procura documentar a transversalidade dos vários suportes utilizados por Helena Almeida para reiventar o corpo, como a pintura, o desenho, a fotografia ou, mais recentemente, o vídeo.


Helena Almeida, Dentro de Mim, 2000 (colecção da artista)


A Segunda Casa, Helena Almeida
Realização: Óscar Faria
Duração: 55´
20.10.2006, na 2:, às 00h30

Pintura Habitada
Realização: Joana Ascensão
Duração: 52´
doclisboa 2006
22.10.2006, na Culturgest (Grande Auditório), às 16h30

19 outubro, 2006

O que ficou

Cinco imagens que me ficaram na retina no
World Press Photo deste ano.


Andrew Testa, Panos Pictures para o The New York Times.
Funeral de vítimas do massacre de Srebrenica, Potocari, Bósnia, 11 de Julho

Um rapaz bósnio reza junto a um dos 610 caixões armazenados numa fábrica na aldeia de Potocari, os quais serão enterrados a 11 de Julho, no décimo aniversário do massacre de Srebrenica, quando sérvios mataram mais de 7000 homens e rapazes muçulmanos em emboscadas e execuções em massa.



Yannis Kontos, Polaris Images.
O filho ajuda o pai a vestir-se, Serra Leoa

O pequeno Abu (7 anos) abotoa o colarinho do pai, no abrigo que partilham num campo para amputados, perto de Freetown, na Serra Leoa. Ambos os braços de Abu Bakarr Kargbo foram cortados por rebeldes da Frente Unida Revolucionária, durante a longa guerra civil da Serra Leoa. Após a celebração de um acordo de paz em 2004, combatentes de ambos os lados beneficiaram de programas de reinserção social, mas pouco se fez pelos amputados.



Pål Hermansen, para Orion Forlag/Getty Images.
Urso polar, Svalbard

Um urso polar devora uma foca sobre uma massa de gelo flutuante, perto do glaciar Mónaco, na costa noroeste de Svalbard (Spitsbergen), na Noruega. Os ursos polares alimentam-se principalmente de focas; nos meses de Verão, atacam as que gozam o sol em cima das massas de gelo flutuante, pois necessitam de uma plataforma flutuante para capturar as suas presas. No Verão de 2005 havia muito pouco gelo a norte de Svalbard. Os ursos polares estão em extinção. Os cientistas preocupam-se com os efeitos da poluição e do aquecimento global na alimentação desses animais.



Åsa Sjöström
Escola de ballet, Moldávia

Estudantes de dança com 16 anos de idade fazem exercícios no Teatro da Escola de Ópera e Ballet de Chisinau, a capital da Moldávia. A escola é um local muito competitivo. A Moldávia é um dos países mais pobres da Europa, e muitos jovens vêem o ballet como uma forma de aceder à riqueza e viagens pelo estrangeiro. Todos os anos, doze rapazes e doze raparigas com cerca de oito anos de idade são iniciados no estudo do ballet. Ficam na escola durante nove anos, com um mínimo de cinco horas diárias de treino, para além dos estudos normais. A cada ano, os números da turma vão diminuindo. Os menos talentosos são impedidos de continuar.



Pieter Hugo, Corbis.
Mallam Gahdima Ahmadu com a hiena Jamis, Abuja, Nigéria

Mallam pertence a uma companhia que viaja pelo norte da Nigéria com três hienas, duas pitões africanas e quatro macacos. Além de divertirem as populações, também vendem fetiches e medicamentos à base de ervas, muito procurados na Nigéria.



World Press Photo 2006
Centro Cultural de Belém
Praça do Império
1449-033 Lisboa
Tel.: 213 612 676
Fax: 213 612 622
Até 22 de Outubro
Sábado e Domingo, dias 21 e 22, a exposição prolonga-se até às 20h00.

Nota: Os textos sobre as imagens são da World Press Photo.

18 outubro, 2006

quase morte . morte


Heiner Schmitz, 19 de Novembro de 2003 (Walter Schels)

À volta da água, garante de vida, as imagens de morte. De um lado as de morte, do outro as de quase morte. Mudam os rostos, as rugas, os cabelos, a aura. Os olhos desviam-se mais para os olhos, ainda vivos. Não era preciso a imagem da morte, para sabermos que ela está lá, no olhar, quase morto.


Heiner Schmitz, 14 de Dezembro de 2003 (Walter Schels)


Amor-te (Walter Schels, fotografias. Beate Lakotta, texto)
Museu da Água - Mãe d`Água das Amoreiras
Das 10h00 às 18h00
Até 28 de Outubro

16 outubro, 2006

-You`re beautiful


Bert Stern, 1962


Tinham passado cinco horas.
Os ponteiros estavam agora perto das sete.
Tudo preparado.
Havia Don Pérignon no gelo, luz no ponto certo e algumas vestes transparentes.
O gira-discos portátil tocava Everly Brothers. A máquina pronta a disparar.
Bert Stern já não acreditava que ela aparecesse. Sabia que não era pontual, mas já tinham passado 5 horas.
5 horas.
Agora, se aparecesse era capaz de ficar só 5 minutos.
Esperava. E as perguntas não paravam.

[I was preparing for Marilyn`s arrival like a lover, and yet I was here to take photographs. Not to take her in my arms, but to turn her into tones, and plates, and shapes, and ultimately into an image for the printed page.]

O telefone tocou na suite 261 do Hotel Bel Air.

– Miss Monroe had arrived.

Stern pousa o auscultador lentamente e respira fundo.
Sai ao encontro dela no corredor.
Estranha.
Ela vem sozinha, sem guarda-costas, sem relações públicas ou assessores de imprensa.
Um lenço apanha-lhe o cabelo.
Não tem maquilhagem.
Nota-se que perdeu algum peso.
Estava ali. Ela. Sem nada.
A verdadeira.

–You`re beautiful.
–Really? What a nice thing to say.


E agora o tempo.
Quantos minutos?
Estaria com pressa?

–No, why?
–I thought you are going to have like five minutes.

Ri-se.

–You are kidding.
–Well, how much time have you got?
–All the time that we want!


Pede-lhe então que use apenas um pouco de baton e um risco de eye-liner. Ela aceita.
Enrosca-se em plumas. Brinca com as transparências.
Finge que esconde. Mostra. Tudo.

–You want me to do nudes?
–Uh, well I – I guess so!... it wouldn`t be exactly nude. You`d have the scarf.
–Well, how much would you see through?
–That depends on how I light it.


Vai dançando à sua frente.
Toda. Cicatrizes também.
Ela gosta de fotografias.
Gosta de máquinas fotográficas. De objectivas. Sente-se bem à sua frente.
As vozes quase não se ouvem.
Era tempo de criação. De entrega.

[We hardly talked to each other at all. We just worked it out. I`d photographed a lot of women, and Marilyn was the best. She`d move into an idea. I`d see it, quickly lock it in, click it, and my strobes would go off like a lightning flash – PKCHEWW!! – and get it with zillionth of a second.]

Podiam ter sido só 5 minutos.
Passaram mais de 12 horas.
E muitos rolos ficaram cheios de Marilyn.
A cores.

Fabulous!”, disse o director da Vogue.
Mas havia quase só cor e pele.
Demasiada cor, demasiada pele, pouca roupa para revista de moda.
Demasiada jovialidade, demasiada naturalidade, pouca pose para quem louva a encenação total.
Tragam-se então os flashes outra vez.
Mude-se a película para a vasta gama de cinzentos, quase pretos, quase brancos. Cubra-se a pele de peles, longos vestidos e algumas jóias.
Fixem-se imagens de ar grave ou de profunda melancolia.
Aproxima-se o fim.
Concentração total.
Para ela.

[[the] picture I came for – that one black and white that was going to last for ever like Steichen`s Garbo.]

Nesse lugar de ausência, sem nada.
Ou quase nada.
Quase só luz.

[That space where everything is silent but the clicking of the strobes.]

ela a mover-se.
Altiva. Levanta um pouco a cabeça.
E sorri.

[[...] and her arm was up, like waving farewell. I saw what I wanted, I pressed the button, and she was mine. It was the last picture.]

O X marca.
O X destrói.

[She hadn`t just scratched out my pictures, she`d scratched out herself.]


Bert Stern, 1962


Marilyn Monroe, la dernière séance (Marilyn`s last sitting)
Fondation Dina Vierny - Musée Maillol
Rue de Grenelle, nº 61, Paris
Tel.: 01 42 22 59 58
Até 6 de Novembro

Nota: dados factuais, citações e diálogos retirados de Photo Icons, the story behind the pictures, Hans-Michel Koetzle, Taschen.

13 outubro, 2006

“atolados”

Paulo Nozolino, Cité de Transit d’Erbajolu, Bastia, Dezembro de 2005

O meu trabalho é fotografar as coisas que estão a desaparecer

Depois de se ter mostrado em Bastia, a exposição Scalati (“atolados”), de Paulo Nozolino, viaja até ao Porto (Galeria Quadrado Azul). As 15 imagens de grande formato fazem parte de um trabalho sobre 30 famílias ciganas que a voragem urbanística pretende desalojar da Cité de Transit d`Erbajolu, em Bastia, na Córsega. Sílvia Souto Cunha, jornalista da Visão, conseguiu convencer Nozolino a falar deste trabalho, da sua vida e da sua necessidade extrema de continuar a fotografar. O resultado dessa conversa está na última edição da revista (12.10.2006).

No texto de apresentação da mostra, Paulo Nozolino conta um pouco da sua experiência em Bastia:

La route s’arrête soudain. Les caravanes ont les pneus dégonflés. Ça fait longtemps qu’on ne part plus. Chômage, manque d’argent, enlisement… Les hommes vendent des vieilles voitures et récupèrent ce qu’ils peuvent dans les poubelles de la ville. Les femmes cuisinent, les enfants dorment. Le linge sèche dans les baraques humides. Seul le regard de la jeune fille semble nous sauver du désespoir, car il y a trop de vin et trop de rêves cassés par le temps. On meurt à petit feu dans la cité de transit. Restent les souvenirs des parties de chasse, des fêtes de mariage, des nuits de musique autour du feu. La joie je ne l’ai pas sentie à Erbajolu… juste la pluie, le froid et la boue. On attend que Noël passe, que le Printemps revienne. On parle peu car la survie n’est pas un choix de vie et elle ne mérite pas les paroles. À peine un sourire désenchanté… En plus et derrière tout ça, il y a la menace qu’on viendra un jour les déloger. Cela dure depuis longtemps, ce bruit qui court, qui les ronge. Même s’ils y sont nés et y habitent depuis 30 ans, même s’ils ont la nationalité de la République et le droit de voter, on leur fait sentir qu’ils seront toujours différents. Le terrain d’Erbajolu a toujours été considéré étape de transit. Ils seront amenés ailleurs, sans bruit si possible, loin de la ville, du supermarché et de l’hôtel aux super palmiers. 'Peut-être à Teghime, ancienne décharge à ciel ouvert, sur les hauteurs de Bastia, où le froid et le vent feraient l’affaire'. Je suis sur qu’on finira par les oublier, ces citoyens de la République. Et on pourra enfin continuer la route et construire, construire, construire…

Paulo Nozolino, 6.2.2006



Scalati (“atolados”)
Galeria Quadrado Azul, Porto
Rua Miguel Bombarda, 435
Até 4 de Novembro

12 outubro, 2006

*Três perguntas a...


António Carrapato, auto-retrato, 2006

António Carrapato. Fotojornalista do Público no Alentejo. Expõe actualmente na Fundação Luso-Brasileira um conjunto de fotografias sobre o insólito e o movimento nas ruas de Nova Iorque a Cuba.

¿Por que é que fotografas?
Gosto de registar as situações caricatas da vida. De construir pequenas narrativas à volta delas.

¿Que tipo de situações privilegias quando fotografas o quotidiano da rua?
O insólito e algum humor, não muito explícito.

¿Para além do trabalho de fotojornalista, que outros projectos te ocupam agora?
A Europa neste estado de globalização em que tudo é igual em todo o lado. E um projecto sobre o facto de eu ser alentejano e o Alentejo.

António Carrapato, Cuba, 2005

11 outubro, 2006

Fotografia na arte

Rodney Graham, Schoolyard Tree, Vancouver, 2002

Demorou, mas a fotografia já fez o seu percurso iniciático na arte contemporânea, quer como suporte quer como conceito. O período da afirmação começou nos anos 70. O da consolidação veio com os 80 e os 90. Com este crescendo de influência do suporte fotográfico nas artes, reavivou-se uma discussão que ciclicamente vem à tona: a pintura morreu?
Parece que não. A pintura não morreu. Pelo contrário, reinventou-se. E, nos últimos tempos, têm sido muitas as vozes que apontam o fotográfico como um dos motores desse fulgor. É por aí que se tem potenciado na tela outros significados, outros pontos de partida e de chegada. Chamam-lhe até o “regresso à pintura”.
Num dos percursos possíveis na exposição Helga de Alvear, Conceitos para uma Colecção, ainda patente no CCB, pode acompanhar-se essa integração do suporte fotográfico no mainstream artístico e a forma como serviu para questionar abordagens artísticas em outras áreas, muito particularmente a pintura. Primeiro apenas galerista, Helga de Alvear serviu-se dessa proximidade privilegiada com o meio para dar início a uma colecção que reúne cerca de 2000 mil peças vindas de todo o tipo de experimentalismos artísticos dos últimos 30 anos. Desde os anos 80 que defende os vários usos da fotografia na arte contemporânea. Para esta mostra em Lisboa, Delfim Sardo seleccionou uma pequena parte do seu espólio, considerado um dos mais importantes da contemporaneidade nas mãos de privados. Nos vários núcleos, preferiu usar-se o critério da afinidade entre as obras em detrimento da habitual cronologia. No suporte fotográfico podem encontrar-se, entre outros, o registo documental da efemeridade da performance (Marina Abramovic, Joseph Beuys, Jürgen Klauke, Helena Almeida), as paisagens românticas e as aproximações políticas (Axel Hütte e Allan Sekula), o objectivismo alemão (Bernd e Hilla Becher), a reflexão sobre o espaço público (Thomas Ruff, Andreas Gursky, Candida Höfer) ou a manipulação e assimilação da imagem cinematográfica (Pierre Hyghe, Stan Douglas, Philip-Lorca diCorcia).

Alfredo Jaar, Gold In The Morning, 1985


James Casebere, Yellow Hallway # 2, 2001


Helga Alvear, Conceitos para uma Colecção
Centro Cultural de Belém, Lisboa
Até 22 de Outubro

09 outubro, 2006

olhos

Richard Avedon
I hate cameras. They interfer, they're always in the way. I wish: if I could work with my eyes alone.
Richard Avedon (1923-2004)

06 outubro, 2006

Tempos de infância

Sharon Lockhart, Pine Flet Portrait Studio, 2005
(cortesia Neugerriemschneider, Berlim)

Há um certo desconforto ao ver as fotografias de crianças de Sharon Lockhart. Desconforto porque quando se tenta isolar nestes retratos de corpo inteiro um sinal que possa responder à curiosidade sobre quem são estes rapazes e raparigas, encontramos neles uma quase inexpressividade, ou, pelo menos, uma expressividade pouco habitual em crianças - a de adultos sérios. Apesar da pose declarada, que ajuda definir a condição ficcional destas imagens, desconcerta-nos a segurança, a temeridade com que encaram a objectiva. Há uma consciência plena da fotografia. E há a encarnação de um personagem que choca com a imagem que temos das crianças. A nulidade repetida de um cenário escuro dificulta ainda mais essa necessidade catalogante que tenta responder, entre outras, à pergunta: e estes personagens são bons ou maus?
Sharon Lockhart passou quatro anos na pequena localidade de Pine Flat, na Califórnia. Foi para lá com o objectivo de descansar e desenvolver outros projectos artísticos, mas acabou por decidir transformar em objecto artístico as crianças e sua forma de vida nessa comunidade rural quando se apercebeu da relação de confiança que foi construindo com elas. E assim concebeu o Pine Flat Portrait Studio, instalado dentro de um celeiro com muita luz natural. Para além do suporte fotográfico (19 imagens) escolheu a película cinematográfica (doze filmes de 16 mm) para a construção de planos longos e composições quase estáticas para demonstrar que os tempos da fotografia e os do cinema podem ter relações muito subtis. E até trocadas, contando narrativas pela fotografia e retratando pelo filme. Um regresso aos tempos da infância.


Sharon Lockhart - Pine Flat
Festival Temps D`Images
Museu do Chiado, Lisboa
De ter. a dom., das 10h00 às 18h00
Até 7 de Janeiro

04 outubro, 2006

Recorde para Brassaï

Brassaï, Graffiti I, 1968

A composição de 23 fotografias Graffiti I (1968), de Brassaï, foi vendida ontem por 200 mil euros num leilão em Paris, valor que estabelece um novo recorde para imagens do artista. O leilão, que tem hoje a segunda e última sessão, levou à praça 600 obras, das quais 550 são fotografias e as restantes são esculturas e desenhos. Os 365 lotes leiloados ontem totalizaram 1,8 milhões de euros.
Nascido Gyula Halasz, na localidade húngara de Brasso, Brassaï (1899 - 1984) é um dos fotógrafos que ajudou a construir a imagem de Paris a preto e branco, romântica, mística e cheia de glamour.

When you meet the man you see at once that he is equipped with no ordinary eyes
Henry Miller sobre Brassaï

Da arte

Joel-Peter Witkin, Interrupted Reading, 1999

A única responsabilidade de um artista é fazer arte. E o seu trabalho, bem desempenhado, inclui comover-nos, assustar-nos, divertir-nos e - isto é essencial - ofender-nos.

Rui Tavares, PÚBLICO, 30.09.2006

03 outubro, 2006

segundo

Retrato de Fernando Pessoa, 1898

No final do primeiro, o sentimento que ficou na sala era “venha o segundo”. Ultrapassados medos e incertezas que acompanham todas as iniciativas pioneiras, a Potássio 4 aventura-se agora no segundo leilão exclusivamente dedicado à fotografia em Portugal. A venda está marcada para o dia 9 de Novembro, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Esta sessão terá mais 100 lotes do que a anterior e inclui pela primeira vez fotografia contemporânea. O catálogo já está online e pode ser descarregado gratuitamente aqui. Fica prometido para os próximos dias um post sobre os principais destaques.

02 outubro, 2006

As compras de Avedon

Pierre-Louis Pierson, Scherzo di Follia, 1863-66

Richard Avedon (1923-2004) era fotógrafo. E coleccionador de fotografia. Dois anos depois da sua morte, a Avedon Foundation decidiu vender o espólio que inclui imagens de Diane Arbus, Peter Hujar, Irving Penn, August Sander, Henri Cartier-Bresson e vários fotógrafos do século XIX, como Nadar e Pierre-Louis Pierson. Através do conjunto de imagens que Avedon foi juntando ao longo da vida é possível ficar a conhecer melhor o grupo de amigos fotógrafos que o rodeavam e as fontes de inspiração para o estilo de fotografia que mais cultivou - o retrato. Na colecção, há duas peças que merecem destaque. Uma é o portfolio de Diane Arbus "A Box of Ten Photographs" (1970), do qual foram feitas 50 reproduções. Avedon, amigo de Arbus, foi o primeiro a comprar a obra. A fotógrafa riscou a palavra "ten" e escreveu "eleven"com uma nota a dizer "especially for RA". A outra é o conjunto de 18 fotografias da Condessa de Castiglione, da autoria de Pierre-Louis Pierson, que Avedon comprou pouco tempo antes de morrer. Esta série de instantâneos de Pierson é considerada a mais importante na posse de privados e inclui o célebre retrato da condessa "Scherzo di Follia, 1863-66". Fotografias seleccionadas da colecção de Avedon estiveram expostas na Pace/MacGill Gallery, em Nova Iorque e vão ser mostradas, a partir de 5 de Outubro, na Fraenkel Gallery, em São Francisco. A par destas exposições foi editado o catálogo "Eye of the Beholder: Photographs From the Collection Of Richard Avedon" (Fraenkel Gallery) que reúne em cinco booklets os títulos "Diane Arbus", "Peter Hujar", "Irving Penn", "The Countess de Castiglione" e "Etcetera", com imagens de fotógrafos do século XIX e XX.

 
free web page hit counter