22 maio, 2012

conversar



Sessão de apresentação das Conversas à Volta da Fotografia, na Livraria Sá da Costa


Pode até parecer que temos muitas conversas à volta da fotografia, mas na verdade não temos assim tantas. São poucas, quase nenhumas. Vamos vivendo meio acabruhnados sobre aquilo que temos e sabemos e raramente pensamos em partilhar. Podia dizer que é motivo de regozijo só o facto de existir um programa com datas e nomes para falar sobre fotografia como este que agora se apresenta através da revista Coelacanto e de José Soudo. Mas é muito mais do que isso - é júbilo imenso, porque são raras ocasiões como esta e porque, sobretudo, são amplos e ricos os temas metidos nestas Conversas à Volta da Fotografia que acontecerão na Livraria Sá da Costa, em Lisboa, todas as últimas quartas-feiras de cada mês às 19h, a partir de 30 de Maio.

O cronograma das tertúlias é o seguinte:

30 de Maio de 2012
“Conversas à volta da Fotografia e da sua produção contemporânea (1)”
Com a participação de Carla Cabanas, Dora Nogueira, Duarte Amaral Netto, José Nuno Lamas Maria Timóteo, Sandra Rocha, Sofia Silva e Valter Ventura;
Moderador: Lúcia Marques

27 de Junho de 2012
“Conversas à volta da Fotografia e da sua publicação em livro”
com a participação de Adriano Miranda, Augusto Brázio, Clara Azevedo, Daniel Blaufuks, Duarte Belo e João Mariano;
Moderador: Miguel Gaspar

25 de Julho de 2012
“Conversas à volta da Fotografia e da sua produção contemporânea (2)”
Com a participação de António Júlio Duarte, Daniel Malhão, Helena Gonçalves, Marta Sicurella, João Paulo Serafim, José Luís Neto, Paulo Catrica e Susana Paiva;
Moderador: Filipa Valladares

26 de Setembro de 2012
“Conversas à volta da Fotografia editorial com fotógrafos de agência, de jornal e de revista”
Com a participação de Céu Guarda, Bruno Rascão, Daniel Rocha, José Caria, Nelson d’Aires, Miguel Madeira, Pedro Letria e Reinaldo Rodrigues;
Moderador: José Manuel Ribeiro

31 de Outubro de 2012
“Conversas à volta da Fotografia e da sua produção contemporânea (3) com alguns novos-Novos” Com a participação de Inês Beja, João Carreço, João Henriques, Liliana Pinguicha, Mário Ambrózio, Mário Baú, Mauro Bianchi, Micael Nussebaumer e Tugba Karatop;
Moderadores: António Ventura e Nuno Faria

28 de Novembro de 2012
“Conversas à volta da Fotografia de viagem”
Com a participação de Alexandre Oliveira, Ana Marta, Gonçalo Cadilhe, João Grama, Jordi Burch, Luís Filipe Catarino, Nuno Lobito e Teresa Santos;
Moderador: Bruno Sequeira

19 de Dezembro de 2012
“Conversas à volta da Fotografia e da sua pós-produção digital”
com a participação de Álvaro Teixeira, Cláudio Melo, Luís Murtinha Ferreira, Márcio Vilela e Miguel Duarte;
Moderador: Luís Ribeiro

30 de Janeiro de 2013
“Conversas à volta da Fotografia e dos seus processos alternativos”: com a participação de António Rebolo, Camila Watson, Délio Jasse e Paula Lourenço;
Moderador: Mário Raínho

27 de Fevereiro de 2013
“Conversas à volta da Fotografia e do modo de se contarem História(s) com fotografia(s)”
com a participação de José Soudo, Pedro Tropa e Valter Ventura;
Moderador: Madalena Lello

27 de Março de 2013
“Conversas à volta da Fotografia com os seus coleccionistas”
com a participação de António Pedro Vicente, Inês Gil, João Clode
Moderador: Ângela Camila

(Obs: toda a programação apresentada pode vir a sofrer alterações por motivos imprevistos)

Chelsea por um fio



© Rita Barros, Chelsea Hotel


Rita Barros adoptou há muito o Chelsea Hotel, em Nova Iorque, como a sua casa. Ora, parece que os novos donos daquele mítico espaço por onde passaram alguns do artistas mais marcantes do século XX não estão muito preocupados com a carga afectiva que se foi colando às suas paredes e começaram uma vaga de demolições. A propósito deste problema, a fotógrafa projecta hoje, às 19h, na galeria Pente 10 em Lisboa uma série de imagens sobre o ambiente que se vive no Chelsea. O texto de apresentação diz o seguinte:

Rita Barros vive no histórico Chelsea Hotel, em Nova Iorque, há quase três décadas. Foi neste hotel que fotografou “Fifteen Years: Chelsea Hotel”, editado em 1999. 

Em Agosto de 2011 o Hotel foi vendido e fechou ao público. Os novos donos iniciaram uma campanha de intimidação aos residentes de longa data (100 pessoas) ao mesmo tempo que deram início a demolições extensivas dos quartos não ocupados. 

As condições têm sido precárias e os residentes juntaram-se para lutar pelo direito a manter os seus apartamentos sob ameaças de despejo, acções variadas de intimidação e toda a espécie de golpes sujos. 

 Em Setembro, a fotógrafa, Rita Barros, iniciou uma nova série de imagens, ´Displacement´, que tem sido uma forma de lidar com esta realidade, com a incerteza de perder uma rede segurança que se chama casa, e a tristeza de assistir impotente à destruição de um dos mais emblemáticos patrimónios da memória da cidade.

21 maio, 2012

Szabo



© Joseph Szabo


Fiquei encantado com a aventura de Joseph Szabo na fotografia. Algumas imagens dele são-me familiares, mas não tinha a noção global do seu trabalho que é de uma extraodinária sensibilidade, de um olhar muito perspicaz. Szabo deu aulas de fotografia e arte na universidade de Malverne, em Long Island, Nova Iorque, entre 1972 e1999. No início, teve dificuldade em relacionar-se com os alunos e de prender a sua atenção. Para ultrapassar essa barreira, começou a fotografá-los de forma continuada ao longo dos anos. E resultou. Agora, ao olharmos para o início desse golpe de asa, encontramos um corpo de trabalho que consegue captar na perfeição a postura da estudantada da época, muito longe do retrato da juventude violento e cru dado mais ou menos na mesma altura por Larry Clark.
Em 1978, o fotolivro Almost Grown reuniu o início do trabalho de Szabo com os universos dos seus estudantes. Foi aclamado pela crítica e tornou-se numa obra de culto. Em 2003, saiu Teenage, uma visão mais alargada do trabalho iniciado em 1972. Mais recentemente, em 2010, foi publicado Jones Beach, mais focado no areal da praia. 
No ano passado, os realizadores David Khachatorian e George P. Pozderec estrearam um pequeno documentário sobre a obra de Szabo.
A página oficial de The Joseph Szabo Project está aqui
(obrigado Luís)

© Joseph Szabo


Entre aspas



Ida Kar, Cabrera Infante


No centro do chowzinho estava agora a gorda (...) movendo-se ao ritmo da música, rebolando as ancas, todo o corpo, de uma maneira linda, não obscena mas sexual e lindíssima, meneando-se ao ritmo, cantarolando por entre os lábios entumecidos, os lábios gordos e roxos, ao ritmo, agitando o corpo ao ritmo, ritmicamente, deliciosamente, artisticamente agora, e o efeito total era de uma beleza tão particular, tão horrível, tão nova que lamentei não ter trazido a máquina fotográfica para retratar aquele elefante que dançava ballet

Guillermo Cabrera Infante, Três Tristes Tigres, ed. Quetzal

16 maio, 2012

para Perpignan

Göksin Sipahioglu, Maio de 68, Paris



O Visa Pour L`Image de Perpignan já tem programa provisório para a edição que decorre entre os dias 1 e 16 de Setembro. O trabalho de Göksin Sipahioglu, que esteve na origem das agências Gamma, Sygma e Sipa, será uma das principais apostas do festival liderado por Jean-François Leroy que escreveu este texto para o arranque:


Une nouvelle année de changement?

5 octobre 2011. La disparition de Steve Jobs éclipse celle de Göksin Sipahioglu. Pourtant, il avait été avec Hubert Henrotte et Jean Monteux à l’origine du formidable succès des « trois A », Gamma, Sygma et Sipa, qui avaient fait de Paris la capitale internationale du photojournalisme. Une époque déjà lointaine, mais qui nous procure beaucoup de nostalgie…

11 janvier 2012. Gilles Jacquier (grand reporter pour Envoyé Spécial, le magazine de France 2) est tué à Homs, dans des circonstances qui manquent pour le moins de transparence…

22 février 2012. Toujours à Homs, en Syrie, des tirs ciblés tuent Rémi Ochlik et Marie Colvin (grand reporter pour le Sunday Times). L’opinion internationale s’émeut vivement. Mais n’agit pas.

Fin avril 2012, un directeur de la photo est licencié du journal où il travaille depuis six ans. Raison invoquée par la DRH ? «Ton métier n’existe plus ! » Ils engagent aussitôt un jeune iconographe, à peine payé au SMIC, « parce qu’on n’a pas besoin d’un mec qui connaisse toute l’histoire de la photo ».

Il y a quelques semaines, un tweet vraiment bien vu* : « Twitter te fait croire que tu es une personnalité, Instagram que tu es un photographe et Facebook que tu as des amis. Le réveil va être difficile ! » Nous continuons hélas à recevoir des dizaines de propositions de sujets en Hipstamatic… On sortait à peine de la vague du Lomo !

Une année formidable ! Heureusement, on trouve encore ce que nous aimons.
Des sujets incroyables, des témoignages extraordinaires, des histoires poignantes…le monde tel qu’il est.
Bienvenue à Visa pour l’Image!

Jean-François Leroy
25 avril 2012
*@tiersmonde

O programa provisório do festival está aqui

07 maio, 2012

crónica #2


Da série Iraquianos
© António Pedrosa


Esconder
(revista 2, Público, 06.05.2012)

Temos uma atracção pelas fotografias que de forma inequívoca já não pertencem ao nosso tempo. Seja pela admiração da obsolescência dos processos, seja pela nostalgia dos lugares ou pela força enigmática dos olhares que viram um tempo que nunca vimos, sabe bem alojarmo-nos nesse passado que se vai inscrevendo na imagem fotográfica. Mas se há géneros e usos da fotografia em relação aos quais a patine pode ser um campo de virtude, outros há que definham e que deixam de cumprir a função com que foram criados se descansarem demasiado nos arquivos, se assentarem neles demasiada poeira ou se esbarrarem na decisão de quem tem o poder de os revelar. É o caso do fotojornalismo, talvez o género que mais depende do seu tempo (o tempo presente) para se realizar como testemunha, como ferramenta de denúncia e reflexão.


A fotografia que se ergue como documento jornalístico precisa de dar conta do seu tempo, mas, na verdade, só vive plenamente se conseguir chegar ao olhar dos outros.


Antes de chegar ao olhar do júri que em meados de Abril avaliou mais de 400 trabalhos enviados para o Prémio Fotojornalismo 2012 Estação Imagem|Mora, a reportagem com que António Pedrosa venceu o reconhecimento máximo da competição (Iraquianos) passou primeiro por outros olhares. Por sinal, olhares que decidiram não publicar um trabalho distinguido agora por um júri com gente mais do que experimentada, do fotojornalismo à edição fotográfica. Na justificação do prémio (atribuído por unanimidade) veio escrito que “era a melhor história, muito fácil de entender e contada com forte dramatismo”. Foi sublinhado o estilo “muito clássico”, onde o preto e branco foi trabalhado “de forma perfeita”, e o “profundo trabalho de aproximação” à comunidade cigana (“Iraquianos” retrata o quotidiano de um grupo que vive nos arredores de Carrazeda de Ansiães depois de ter sido arredado do centro da vila)


O trabalho de Pedrosa merece estes elogios e mais alguns – afecta-nos, denuncia e revela-nos um mundo que mal conhecemos. O certo é que o fotojornalismo tem um tempo limite para se mostrar com acutilância, caso contrário corre o risco de se transformar num bibelot, numa superfície para a qual se olhará apenas com interesse arqueológico. E se bem que não seja inédito, não deixa de causar apreensão que um trabalho com esta qualidade não tenha encontrado qualquer espaço para ser publicado. Não fosse este prémio, ficaria à mercê do tempo que, com outros, se encarregaria de o esconder.



Da série Iraquianos
© António Pedrosa

 
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