26 fevereiro, 2010

das imagens


Dennys Martins, Freguesia do Monte, Madeira



As imagens no tempo da ugência da partilha

Sérgio B. Gomes e João Pedro Pereira
(P2, Público, 22.02.2010)

Aconteceu com a tempestade que se abateu sobre o arquipélago da Madeira, no sábado, aconteceu com outras tragédias recentes em outras partes do mundo - as primeiras imagens divulgadas pelos media foram registos dos leitores partilhados em redes sociais na internet ou enviados directamente para as redacções de jornais, revistas e televisões. As fotografias e vídeos colocados na rede por quem experimentou um acontecimento extraordinário passaram definitivamente a ser matéria-prima das notícias dos meios de comunicação tradicionais (e das suas páginas na web), menos aptos para responder à velocidade - à quase imediação - a que correm aquelas imagens.

Estas redes sociais criaram uma dinâmica própria, não só fundada numa necessidade de mostrar, numa urgência de partilhar, mas também movida por apelos à solidariedade e ao espírito de entreajuda. Os media têm saciado a sua sede de imagens nestes espaços que se multiplicam e diversificam em distintas plataformas, consoante o suporte de registo e a lógica de distribuição. São imagens que se tornaram parte fundamental da construção do discurso noticioso que passou a incorporar o vernacular, as fotografias ou vídeos sem qualidade estética ou de produção, mas com um grande valor informativo.

Durante muito tempo, a distribuição em larga escala e em tempo útil de imagens foi um exclusivo dos media tradicionais. O certo é que este panorama tem vindo a sofrer profundas alterações. Um bom exemplo dessa mudança de paradigma aconteceu logo após o sismo que abalou o Haiti no início de Janeiro. O canal americano de notícias CNN (com a reputação de estar em todo o lado em qualquer momento) passou em vários noticiários e durante largos minutos as primeiras imagens sobre aquela tragédia divulgadas em redes sociais, como o Facebook, o Twitter ou o YouTube. Dentro dos estúdios da CNN, as câmaras de televisão saltaram de ecrã para ecrã de computador, de onde saíram as primeiras fotografias e vídeos da recente catástrofe haitiana.

Este sábado, a informação sobre o temporal da Madeira correu pelo Twitter, com curtos relatos de pessoas no local e fotografias a serem distribuídas e redistribuídas pelos utilizadores desta rede. Estas mensagens estavam normalmente identificadas com a palavra-chave #tempmad, abreviação de "temporal" e "Madeira" - no Twitter, estas palavras-chave, que são precedidas do símbolo cardinal, são chamadas hashtags e permitem aos utilizadores agruparem informação relativa ao mesmo assunto, tornando-a assim facilmente pesquisável.

Inevitavelmente, o YouTube foi inundado com vídeos amadores. As torrentes de água e lama, os carros arrastados e as pontes destruídas foram captados por câmaras de pouca qualidade e por telemóveis. Muitos destes vídeos acabaram em alguns dos principais órgãos de informação do país.

Pelo menos dois jornais - o Público e o JN - usaram nos seus sites um mapa interactivo criado com ferramentas da Google, que permitia a qualquer pessoa acrescentar pontos com fotos, vídeos e outra informação sobre as consequências do temporal. A iniciativa não partiu das redacções: o mapa foi criado pelo jornalista freelance e blogger Alexandre Gamela, a partir de Birmingham. E o mapa não continha apenas informação. Havia também pedidos de ajuda: "Se tiverem informações sobre a situação no Curral das Freiras, partilhem", lê-se ao clicar num ponto de interrogação sobre a localidade de Curral das Freiras, que esteve incontactável até ontem.

Os vídeos e fotografias dos amadores misturaram-se na Web com os dos profissionais. Nos sites de informação, nas televisões - e também na blogosfera - conviviam com as imagens captadas pelos cibernautas as imagens que iam sendo registadas pelos jornalistas em serviço.

Marcel Gautherot


Marcel Gautherot, Congresso Nacional em construção, c. 1958, Brasília
© Instituto Moreira Salles


Isabel Coutinho
(P2, Público, 22.02.2010)

Gautherot
O jeito inédito de ver o Brasil

Quando, debaixo de um sol quentíssimo, o arquitecto Augusto da Silva Telles, um dos grandes nomes do património histórico brasileiro, foi fazer uma visita de inspecção a um engenho colonial no interior do Rio de Janeiro, encontrou o fotógrafo Marcel Gautherot sentado no meio de um descampado.

Debaixo de uma sombrinha, com a máquina em cima do tripé, o francês comia calmamente uma sanduíche de mortadela. "Marcel, o que você está fazendo aqui?", perguntou-lhe Telles. Entre "uma mordida e outra", Gautherot apontou para o céu e disse: "Está vendo aquela nuvem ali? Quando ela estiver bem ali, eu faço a foto."

Esta é uma das histórias que fazem parte da lenda do fotógrafo francês, que viveu e morreu no Brasil, considerado o "mestre do preto e branco". Um homem paciente e reservado, que falava pouquíssimo nas entrevistas que deu, por vezes respondendo a resmungar, e que eternizou a utopia arquitectónica que foi a cidade de Brasília, a pedido do arquitecto Oscar Niemeyer.

No ano em que se comemora o centenário do nascimento de Marcel Gautherot (1910-1996) e também os 50 anos da construção de Brasília, o Instituto Moreira Salles (IMS) organizou o livro e a exposição Norte, comissariada pelo professor universitário Samuel Titan Jr. e pelo escritor Milton Hatoum, com as imagens das viagens do fotógrafo à Amazónia. Pode ser visitada até ao dia 21 de Março no IMS, em São Paulo, e deverá seguir para o Rio de Janeiro e para a Europa. Em Abril publicarão o livro A Brasília de Marcel Gautherot, com um ensaio do arquitecto e crítico inglês Kenneth Frampton, que terá uma edição internacional na Thames & Hudson. Na mesma altura será inaugurada no Rio de Janeiro uma exposição dedicada à maneira como a capital brasileira tem sido retratada por fotógrafos.

O acervo de Marcel Gautherot foi comprado à família pelo IMS. São 25 mil fotografias cujos negativos estão em óptimas condições. Além de ser muito metódico, o fotógrafo dedicou os últimos anos de vida a organizar e a catalogar o seu acervo. "Tem uma qualidade estética muito alta, pois ele mesmo se encarregou de descartar aquilo que achava inferior e secundário", explica numa conversa telefónica a partir de São Paulo Samuel Titan Jr, o coordenador cultural do Instituto Moreira Salles.

Na última Feira do Livro de Frankfurt, em Outubro, Samuel apresentou à Thames & Hudson o projecto deste livro. Estava convencido que seria o projecto do IMS com mais vocação internacional. "Temos um lindo acervo fotográfico, mas sinto sempre que a primeira dificuldade é apresentar José Medeiros, Thomaz Farkas e Marcel Gautherot a um público não-brasileiro. Neste caso, Brasília serviu de isca, e, na sequência, tive que explicar quem era o Gautherot."

A primeira explicação que Samuel deu aos editores da Hudson foi "a mais folclórica": um francês que foge da II Guerra Mundial, se instala no Brasil e se deixa fascinar pelo país. "Esse é o lado mais fácil do apelo biográfico, mas também o lado pelo qual Gautherot não se distingue de outros estrangeiros que se apaixonaram pelo Brasil [por exemplo, os fotógrafos Pierre Verger e Jean Manzon]." Depois mostrou-lhes que Marcel Gautherot trouxe para a fotografia brasileira um olhar inspirado pela arquitectura moderna e pelo melhor do modernismo dos anos 20 e 30.

Influência do modernismo
Marcel Gautherot nasceu em Paris em 1910, numa família operária. Estudou na Escola de Artes Decorativas, onde o currículo era uma mistura de arquitectura, de arquitectura de interiores e de design. Estudava à noite e, apesar de não chegar a concluir o curso, entrou em contacto com o modernismo de Le Corbusier e de Mies van der Rohe. Empregou-se numa fábrica de "simpatias modernistas", onde desenhava móveis, e mais tarde acabou por ir trabalhar para o Museu do Homem, também em Paris, como arquitecto de interiores. "É assim, um pouco por acidente, que ele começou a praticar fotografia a cargo do museu. De um lado, tem a vertente arquitectónica e modernista, de outro, esse lado etnográfico que aprendeu no museu." É também por isso que, em 1936, vai ao México (a Meca dos fotógrafos e cineastas), onde conheceu o realizador russo Eisenstein.

Foi por causa de ter lido Jubiabá, de Jorge Amado, que Marcel Gautherot teve vontade de ir ao Brasil. A sua primeira grande viagem pelo país realizou-se no Norte, em 1939. Andou pela Amazónia, pelo Recife, por Belém. "Ele chega ao Brasil e certamente se deixa fascinar, mas tem um olhar muito culto. Aquilo que vai fazer nos 50 anos seguintes não tem nada a ver com exotismo tropical", explica Samuel Titan Jr. Na verdade, Gautherot chegou na altura em que no Rio de Janeiro se estava a organizar a geração de ouro da arquitectura brasileira: Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Burle Marx, etc. Ficou amigo deste grupo de arquitectos, mas também dos arquitectos do Serviço do Património Histórico e Artístico Nacional. Isso permitiu-lhe viajar pelos lugares mais recônditos do Brasil e contactar com a paisagem e com a arte luso-brasileira.

Nas fotografias do início da sua carreira já se notava o "estilo pessoal" que apareceria em todos os temas de que se ocuparia depois. "As fotos das viagens à Amazónia em 1939, de outra, em 44, e de uma terceira, em 54/55, são surpreendentes porque já antecipavam muitos dos ângulos e efeitos que ele iria perseguir quando depois foi fotografar uma coisa radicalmente diferente como Brasília. Essa procura da composição, e sobretudo a procura da distância certa para fotografar as coisas, já estava muito presente."

Na selva amazónica, Marcel Gautherot, em vez de tentar fugir às dificuldades - subir a árvores, fotografar de um avião ou tirar fotografias do meio do rio -, "quase sempre" recusou as soluções óbvias. Tentou trazer para as fotografias a sensação urgente de quem se sente assediado pela floresta e pela sua opressão. "Ele, em contraste com quase toda a tradição iconográfica anterior, aceitou a dificuldade como um ponto de partida do trabalho e não como um problema a ser evitado."

Da mesma maneira, quando foi fotografar Brasília e foi confrontado com a vastidão do espaço e uma linha do horizonte claramente desenhada mas sempre muito distante ("que dá uma situação de isolamento e de fragilidade no meio daquilo tudo"), Gautherot percebeu o que havia de característico, de peculiar, num certo tipo de paisagem e partiu daí. Ao contrário de muitos dos fotógrafos que fotografaram Brasília e que tentaram o close up, o anedótico, o engraçado, o patético. Chegaram lá e "não sabiam o que fazer com essa vastidão do horizonte que é uma espécie de vazio omnipresente."

Quando Marcel Gautherot se instalou definitivamente no Rio de Janeiro, em 1940, foi por causa do seu portfólio (com fotos de arquitectura que fez no México e em Atenas) que conseguiu trabalhar com o arquitecto paisagista Burle Marx (até aos anos 90), e com Niemeyer, que depois de Gautherot ter fotografado a Pampulha o convidou para integrar a equipa da construção de Brasília (une-os a afinidade estética - os dois são devotos de Le Corbusier - e também a questão política, o comunismo).

No acervo do fotógrafo que pertence ao Instituto Moreira Salles, 2950 das 25 mil fotografias são sobre a construção da capital brasileira. Em Brasília, Gautherot fez uma coisa que nenhum outro fotógrafo fez: fotografou a vida dos "candangos", os operários que foram construir a cidade. Fotografou os subúrbios do plano-piloto, que anos mais tarde se transformaram nas cidades-satélites. Naquela época eram acampamentos de trabalhadores, desde vilas operárias mais ou menos bem construídas até verdadeiras "favelas" (a "sacolândia"). "Por mais simpático que Gautherot fosse à arquitectura e às ideias políticas do Niemeyer, o facto é que ele registou Brasília de um ângulo que às vezes é heróico, mas também francamente crítico. Tem alguma coisa de muito promissor, mas também de muito ameaçador, naquelas pessoas que estão reduzidas a bonequinhos numa maqueta. É impossível ver as fotos de Brasília e não sentir que aquilo tem alguma coisa de risível, de uma maqueta perdida no planalto", afirma Samuel Titan Jr. O fotógrafo mais simpático à causa acaba por ser o que capturou a ambiguidade de Brasília como ninguém.

Uma das frustrações de Marcel Gautherot é nunca ter conseguido publicar estas fotografias. "Havia um controlo oficial tão estrito sobre o que se publicava de Brasília, havia um desejo tão ardente de fazer propaganda do país moderno, que essas fotos da vida miserável em torno de Brasília, que no fundo são já uma nuvem negra pairando sobre a utopia urbanística, nunca tiveram curso durante a vida dele."

Sem miserabilismo
Marcel Gautherot poderia ter sido um daqueles fotógrafos que praticam uma espécie de realismo socialista na fotografia. Mas, tal como explica Samuel, a simpatia comunista foi elaborada esteticamente por ele de "um jeito muito peculiar". Em vez de olhar para a vida popular como marcada pelo negativo (pela falta de cultura, de comida, de saúde, de dinheiro), como "uma espécie de vazio que se tem que preencher com imagens gloriosas de camponeses e operários cruzando a foice e o martelo", ele mostra uma espécie de plenitude e de positividade na vida popular. É por isso que se interessa tanto por fotografar o trabalho, os ofícios e as festas populares. A simpatia comunista serviu-lhe para não cair no miserabilismo na fotografia.

Quando se olha para o espólio de Marcel Gautherot, que imagem é que se tem do Brasil? "A imagem de um Brasil em tremenda transformação. É um Brasil que conserva ainda todas as marcas do século XVIII e XIX. O Rio de Janeiro que Gautherot fotografou é o da belle époque, do final do século XIX, início do XX. As Minas Gerais, que fotografou, estão virtualmente no século XVIII. E é o mesmo país onde estão se erguendo a catedral de Brasília, a Pampulha, em que os arquitectos cariocas estão a construir o aterro do Flamengo. Na década de 50/60 é um país de aceleração do processo de modernização e ao mesmo tempo é o lugar onde festas populares, costumes, jeitos e trejeitos lá do fundo da vida colonial, continuam existindo."

Fotografava com Rolleiflex. "Tinha uma herança pictórica tão forte que o fez desgostar da Leica e de todas as câmaras de disparo rápido. Ele sempre se manteve muito fiel à Rolleiflex e ao negativo quadrado, 6x6 cm. Mais clássica e que serve a esse desejo de composição que é muito forte nele. Esse tipo de escolha já mostra o tipo de fotógrafo que ele é: menos o do instante capturado do que o da composição cuidadosa."

Marcel Gautherot, o fotógrafo que um dia disse ao seu amigo, o poeta Jacques Prévert: "No Brasil, tive vontade de derrubar uma floresta inteira para tirar o retrato de uma certa árvore de que gostei."


Marcel Gautherot na ilha de Marajo, Pará, c. 1970
© Instituto Moreira Salles

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Marques Abreu (1879-1958), Chegada de veraneantes. S/data
Colecção Nacional de Fotografia © Centro Português de Fotografia


Marques Abreu

Conhecido artista gráfico português, nascido em Tábua e que veio a falecer no Porto. Em 1892, era ajudante de farmácia no Porto. Logo a seguir passa para o ramo das artes gráficas. Em 1898, com Cunha Moraes, cria a Ilustração Moderna. De 1905 a 1912 publicou a colecção de monografias A Arte em Portugal. A produção editorial de Marques Abreu foi diversificada, sendo de assinalar mais de 28 títulos, de que se pode destacar o albúm de costumes Vida Rústica. Foi ainda professor de Gravura numa escola técnica no Porto. Em 1955 foi-lhe consagrada uma exposição na Escola Superior de Belas-Artes do Porto, que serviu como uma homenagem pública. Em 17 de Dezembro de 1928, o Governo conferiu-lhe o Grau de Oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada.
(texto:CPF)

23 fevereiro, 2010

BESPhoto2009 para Filipa César


© Filipa César

Filipa César (1975) venceu o prémio BESPhoto 2009.

O júri de premiação justificou a sua escolha pela "criação de um objecto ímpar. Pela maneira inédita de tratar múltiplos problemas - a história de Portugal, a censura e a moral salazarista, o degredo, a homossexualidade feminina, o trabalho e a matéria - cruzando narrativas com geografia e construindo imagens em que o a-humano, o elementar, o cósmico, contaminam com fora inatingível, a acção do homem".

A artista foi seleccionada para a fase final do galardão pelos projectos Le Passeur, na Fundação Ellipse; Rapport/ Raccord, na Galeria Distrito Cuatro, em Madrid, e The Four Chambered Heart, na Galeria Cristina Guerra, em Lisboa. Quando foi nomeada, o júri apontou "as qualidades fílmicas de documentário" do projecto Le Passeur e destacou nele "o olhar fotográfico consciente da tradição retratística do fotógrafo", considerando que esta relação está também bem explícita nos outros projectos da artista.

A exposição do artista vencedor daquele que já se transformou no principal prémio de arte contemporânea em Portugal (com um valor pecuniário de 25 mil euros) pode ser vista até ao dia 4 de Abril no Museu Colecção Berardo, em Lisboa. Os artistas finalistas foram seleccionados por um júri composto pelos críticos de arte e comissários Delfim Sardo, Miguel von Hafe Pérez e Nuno Crespo com base em exposições realizadas no ano passado.

O júri de premiação foi constituído por José Gil, professor universitário, filósofo, ensaísta e ficcionista; Alberto Anaut, director da La Fábrica e presidente do PHotoEspaña e Marcel Feil, curador do Foam-Fotografiemuseum Amesterdam.

22 fevereiro, 2010

Schwarzenbach

Lisboa, s/a, 1941-1942


Annemarie Schwarzenbach
Uma vida em convulsão, uma fotografia em devaneio


Sérgio B. Gomes
(Ípsilon, Público, 19.02.2010)


É um risco. E quem o correu não quer fazer apostas. Nem uma previsão sobre as superfícies impressas para onde mais tenderá o nosso olhar – se para as fotografias onde fixaram Annemarie Schwarzenbach se para as fotografias que Annemarie Schwarzenbach fixou. É a obra a deixar-se ofuscar pela imagem do seu criador. Nada que não se tenha já concretizado, nada que não se pudesse já antever em relação a esta viajante suíça, também fotógrafa e aprendiz de arqueóloga, mas sobretudo escritora compulsiva, que durante uma vida curta (morreu aos 34 anos) se dedicou ao romance, ao conto, à epístola, à poesia e à reportagem, algumas vezes sobre os outros, quase sempre sobre si, os seus medos, angústias e contradições.

Esta ameaça de sombra (que também pode ser de brilho) não é nova. Emília Tavares e Sónia Serrano, as comissárias de Auto-Retratos do Mundo - Annemarie Schwarzenbach, 1908-1942, a exposição que na segunda-feira abre portas no Museu Colecção Berardo, em Lisboa, tiveram-na em conta e, no início do projecto, até ponderaram fugir dela, mas viram-se perante uma força icónica poderosa, difícil de contornar – os rostos de Schwarzenbach impuseram-se paredes meias com mais de uma centena de fotografias captadas pela sua Rolleiflex em geografias longínquas (do Afeganistão ao Congo Belga), durante tempos agitados (da Áustria ocupada pelos nazis aos EUA mergulhados na Grande Depressão).

O magnetismo da figura andrógina de Annemarie Schwarzenbach e o seu poder de sedução enquanto sujeito fotográfico já tinham sido experimentados no Verão de 1987, quando a revista suíça Der Alltag decidiu resgatá-la do esquecimento com uma série de artigos sobre a sua vida e obra a que se seguiu a publicação de livros inéditos. Nessa altura, um retrato seu de 1930, estampado na capa de uma revista e em cartazes espalhados por Zurique, bastou para aguçar a curiosidade sobre quem terá sido e o que terá produzido aquele ser, cujo rosto se revelava tão desconcertante, simples e belo, cujo olhar se mostrava tão melancólico, profundo e sombrio. Schwarzenbach, habituada a conviver com máquinas fotográficas desde cedo por causa de uma mãe obsessiva com o registo da sua figura, parece consciente do frenesi encantatório da sua imagem. Sónia Serrano conta no catálogo da exposição que a escritora enviou a Claude Carrac (segundo secretário da delegação francesa na Pérsia com quem manteve um casamento à distância) a fotografia que fez capa da Der Alltag com a dedicatória “Quelque ressemblance de Annemarie” (“Alguma semelhança com Annemarie”) juntamente com “um provocatório texto sobre si” no verso do papel fotográfico. Consciente ou não desse poder, Annemarie Schwarzenbach sabia estar diante de uma objectiva, não a temia, deambulava perante ela em poses sedutoras, que fazem lembrar sofisticadas produções de moda.

Perto do precipício
Primeiro, as passagens por Lisboa e pelas ex-colónias portuguesas. Depois as viagens por África, Médio Oriente e EUA. E depois a vida na Europa central. À medida que se foram acrescentando núcleos de fotografias captadas por Annemarie Schwarzenbach durante as suas viagens e se foram organizando documentos sobre a sua obra literária, cresceu a consciência de que faltava a imagem de uma viagem não menos importante também fornecida pelos inúmeros retratos que fizeram de si – a viagem interior, um caminho que Schwarzenbach nunca parou de percorrer. Sónia Serrano em conversa com o Ípsilon: “Tendo ela esta força imagética era impossível não incluir fotografias suas enquanto tema da fotografia. Tem necessidade de ser fotografada. E tem a percepção do seu poder enquanto imagem fotográfica. Esta predisposição para a imagem está de alguma forma relacionada com a obra literária que produz – quase tudo fala sobre si, quase tudo gira à sua volta.” Muito antes do poder da sua imagem, Annemarie passeou o seu poder de sedução em pessoa: para o Nobel da Literatura francês Roger Martin du Gard tinha um “belo rosto de anjo inconsolável”; a fotógrafa berlinense Marianne Breslauer, com quem trabalhou no início dos anos 30, disse que era semelhante a uma obra de arte, “estranha mistura entre homem e mulher”; depois de a conhecer, a escritora americana Carson McCullers admitiu que o seu rosto a perseguiria “para toda a vida”.

Assim descrita, espalhando deslumbramento e erotismo, Annemarie Schwarzenbach - “um dos segredos mais bem guardados da literatura europeia” nas palavras de Carlos Vaz Marques no prefácio a Morte na Pérsia (ed. Tinta da China, 2008) - parece alguém muito seguro de si. É certo, no entanto, que a sua curta existência carregou intensas lutas interiores (tentativas de suicídio, constantes reabilitações por causa da dependência da morfina, homossexualidade reprimida pela família) e sua postura perante a vida, em constante vaivém, sempre perto de um qualquer precipício, em convulsão, reflecte em certa medida uma Europa mergulhada em “mal-estar”, um continente que assistiu à ascensão do nazismo e consequente demência exterminadora por ele gerada. Annemarie é oriunda de uma família aristocrática, herdeira de um milionário negócio ligado aos têxteis. Numa sociedade conservadora e perante uma mãe possessiva (os Schwarzenbach eram simpatizantes do regime nazi), manifestou a sua discordância com o rumo dos acontecimentos políticos à sua volta revelando “ideias modernas e antimilitaristas”. No início dos anos 30, deu início a um ciclo de idas e voltas que só teve fim quando morreu, em 1942, após complicações originadas por uma queda de bicicleta, em Sils, no sul da Suíça.

Terminada a formação académica em História, em 1931, Annemarie Schwarzenbach passou a dedicar-se cada vez mais à escrita. Apesar de uma produção relativamente vasta - se considerarmos o curto período em que sua obra fotográfica ganha efectivamente algum relevo – a fotografia nunca foi o seu suporte de eleição e terá começado a interessar-se por ele por influência da mãe, fotógrafa compulsiva. A palavra (ou a simples sonoridade que potencia, como chegou a confessar) é o seu campo criativo favorito, mas o conjunto da obra fotográfica que produziu está longe de ser figura de corpo presente. “As imagens que Schwarzenbach foi produzindo nas viagens ao longo da sua vida gizam trajectos marginais de entendimento da fotografia muitas vezes de forma completamente solitária”, escreve Emília Tavares, para quem a fotografia da autora “não se enquadra em nenhum género, não segue nenhum movimento e é difícil de catalogar”. As motivações para ter pegado na Rolleiflex são variadas e vão do registo documental, de testemunho ou denúncia, à contemplação prazenteira ou à mais pura deambulação sem objectivo concreto, uma errância visual que condiz mais com o espírito de viajante do que com o de turista (Annemarie criticou sempre o sightseeing).

Portugal, o fim da aventura?
Schwarzenbach tem a prática fotográfica adquirida desde cedo. Mas é uma viagem de trabalho, em 1933, ao Norte de Espanha com a fotógrafa berlinense Marianne Breslauer que marcou o início de uma apropriação mais consequente da fotografia. Além dar relevo à inevitável faceta literária de Annemarie Schwarzenbach na sua mais complexa teia de estilos e géneros, a exposição do Museu Berardo procura identificar as particularidades e a relevância criativa da imagem fotográfica no conjunto da obra da autora suíça. No que respeita à fotografia, o percurso será orientado através de quatro grandes núcleos – Médio Oriente, Fascismos, EUA e África - que correspondem a diferentes abordagens formais, muito condicionadas por diferentes estados de espírito da autora, influências criativas e tempos históricos em rápida mutação.

Quando regressou da primeira viagem ao Médio Oriente, para onde partiu em 1933 a fim de participar em escavações arqueológicas na Turquia, Síria, Líbano, Palestina, Iraque e Irão, todas as imagens que trouxe na bagagem eram já da sua autoria. Nestas fotografias, tentou fugir ao exótico e procurou apreender as culturas que a rodearam. “É uma fotografia que não mostra o habitual postalinho”, diz ao Ípsilon Emília Tavares. Por esta altura, concretizou algumas reportagens (fotográficas e escritas) em que tentou denunciar as alterações económicas e sociais que as expedições ocidentais estavam a provocar nas populações locais, num difícil compromisso entre tradição e progresso. Na última viagem ao Médio Oriente (de carro na companhia de Ella Maillart, outra grande viajante) mantêm-se as imagens que remetem para a “ancestralidade dos lugares” mas desta vez num estilo mais “acutilante e informativo” e, ao mesmo tempo, mais “errático”, fruto de uma negação da velocidade em que já se produziam as imagens. São do Médio Oriente a maior parte das fotografias que hoje dão corpo ao espólio de Annemarie S. depositado nos Arquivos Literários Suíços. São também as mais conseguidas. “O simbolismo da paisagem, a constatação das mudanças políticas e sociais, a importância da religião e dos lugares sagrados, o fascínio pela liberdade e respeito pela dureza do nomadismo”, constituem, grosso modo, os assuntos a que deu mais atenção.

Em fuga de mais uma temporada de entradas e saídas em clínicas de desintoxicação, tentando ultrapassar equívocos e dramas de amor, Schwarzenbach partiu em Agosto de 1936 para os EUA a convite da fotógrafa Barbara Hamilton-Wright. A ideia era fazer um conjunto de reportagens sobre as populações mais carenciadas no Sul do país, a braços com uma crise social e económica sem precedentes – a Grande Depressão. É o trabalho fotográfico onde revela mais objectividade e realismo e no qual concentra quase todos os recursos criativos (deixou de lado a literatura e investiu nas reportagens). Nos EUA, conhece Roy Striker, economista fotógrafo e um dos ideólogos da nova fotografia norte-americana de reportagem materializada no projecto da Farm Security Administration. As abordagens marcadas por grandes planos de miséria social, das condições do trabalho e de paisagens áridas, um conceito de fotografia “comprometida”, de denúncia, acaba por influenciar a sua prática na época. É o seu trabalho fotográfico mais “classificável”, mais colado a um género e a uma estética realista, onde os rostos e as pessoas assumem um protagonismo que acabará por influenciar futuros registos.

Quando, na Europa Central, o nazismo começou a alastrar definitivamente os seus tentáculos para fora da Alemanha, Annemarie regressou a casa, na Suíça, e começou a aperceber-se do clima de opressão e desvario que se preparava. Na Primavera de 1938, foi até Viena, na Áustria, numa altura em que o país já estava sob jugo alemão e a cidade já estava transformada num palco de propaganda nazi. Fotografou “a arrogância da pose dos oficiais, os recrutamentos, as paradas obrigatórias, a manipulação de toda a população pela fome e pelo desemprego”. Os comentários que escreveu no verso das fotografias (um exercício de micro-narrativa que cultivou em outras ocasiões) são claros na condenação de uma espiral de demência ideológica e militar.

As comissárias decidiram juntar a este núcleo as escassas fotografias que Annemarie tirou em Portugal, em 1941 e 1942. É uma provocação e um contraponto à lucidez crítica que a autora demonstrou na Áustria. O conjunto de reportagens que acabou por concretizar mostram Lisboa ora carregada de estereótipos, ora trabalhando em prol dos interesses suíços no único porto livre do Atlântico, em plena II Guerra Mundial. “Mais do que as imagens que tirou, o que marca a passagem de Annemarie Schwarzenbach por Portugal são as imagens que não tirou”, sublinha Emília Tavares. Os artigos feitos por encomenda da embaixada da Suíça em Lisboa, são revistos por mais do que uma entidade de censura e parte das fotografias publicadas são fornecidas pelos serviços de propaganda do regime de Salazar. “Razões pessoais e políticas terão estado na origem deste olhar tão diverso [para uma e outra ditadura], mas não deixa de ser significativo que Portugal tenha conseguido, em plena Segunda Guerra Mundial, manter uma máquina de propaganda eficaz, e muito semelhante às de outros países, em que a imagem de país ‘paraíso’ e único estado europeu em progresso, foi sendo instaurada interna e externamente”.

Foi de Lisboa, a bordo do navio Colonial, que Annemarie partiu rumo ao continente africano para as suas derradeiras viagens pelo mundo na tentativa de um recomeço, de um novo projecto de vida. Antes de chegar ao Congo Belga (actual República Democrática do Congo), fez escalas na Madeira e em S. Tomé. Em pleno coração de África, foi ao encontro de um casal de suíços que explorava a maior plantação do país. Passou um mês a deambular pela região com a senhora Vivien, uma nova geografia que lhe deu alento para escrever e fotografar. Fez imagens num registo muito próximo da linguagem visual antropológica do século XIX e não foi capaz de esconder o “preconceito da superioridade da civilização ocidental”. “Se no Médio Oriente as imagens são o cerne de um questionamento complexo entre a representação ocidental dessa cultura e um desejo de desafiar essa constante secular, já nas viagens a África, tanto na escrita como nas imagens, encontramos enraizada e muito questionada uma ideia de ‘colonialismo’ e da sua representação”, escreve Emília Tavares.

Antes de regressar à Suíça, ainda passou por Marrocos onde se encontrou pela última vez com o ainda seu marido. Tencionava pedir-lhe o divórcio, mas arrependeu-se.

Diz-se que depois do fatídico Verão de 1942 Annemarie pretendia estabelecer-se em Portugal. Henri Martin, embaixador da Suíça em Lisboa e amigo de longa data, convidou-a para ficar na capital portuguesa como correspondente do jornal Neue Zürcher Zeitung. A própria admite a ideia numa carta a Ella Maillart: “Talvez regresse a Portugal para viver no campo (…)”. Portugal era para si um país “acolhedor”, surgia-lhe como um lugar privilegiado para “estar em contacto com a mentalidade e os problemas” que assolavam a Europa. Talvez fosse o lugar escolhido para continuar a procurar aquilo que nunca soube identificar, aquilo que nunca encontrou. O lugar escolhido para o fim da aventura. Não podemos saber.

18 fevereiro, 2010

Carlos Afonso Dias (1930-2010)


Miradouro de Sta. Luzia, Lisboa, 1957
(© Carlos Afonso Dias)


Morreu o fotógrafo Carlos Afonso Dias.

Em actividade desde meados da década 50, contemporâneo de Gérard Castello Lopes, Costa Martins/Vítor Palla, Carlos Afonso Dias foi um dos poucos que nos anos de penumbra criativa do Estado Novo desviaram caminho da fotografia salonista e académica que então se praticava. Sem referências internas para seguir, os que escolheram a fotografia livre do jugo ideológico procuraram noutras paragens o seu modelo de fotografia. Henri Cartier-Bresson foi um desses faróis. E com ele a fotografia preocupada com os valores e a dignidade do ser humano que Carlos Afonso Dias também praticou.
O percurso de Carlos Afonso Dias na fotografia portuguesa é discreto e foram raras as vezes que mostrou o seu trabalho em público. O primeiro grande raio de luz que se projectou sobre as imagens que tirou em Portugal e no estrangeiro foi dado pela Galeria Ether, Vale Tudo Menos Tirar Olhos, em 1989, com a exposição Fotografias 1954-1969.
Em Outubro de 2008, a galeria Pente 10 mostrou boa parte das imagens mais significativas dos primeiros anos de actividade de Carlos Afonso Dias, engenheiro geógrafo de profissão, e revelou também um pequeno conjunto (6 fotografias) captadas nos últimos anos.

Carlos Afonso Dias é um grande fotógrafo português e, como todos nós, é um fotógrafo 'estrangeirado'. Seria bom que o público que se interessa pela fotografia soubesse que os fotógrafos portugueses só se servem de um ingrediente nacional: a água. Tudo o resto: a máquina, a objectiva, o filme, os filtros, o flash, os produtos químicos, o ampliador, as lâmpadas, o papel vem de fora. Como de fora vem a moda, um estilo, as preocupações, as revistas e os livros; numa palavra: os paradigmas.

Gérard Castello Lopes, prefácio a Carlos Afonso Dias, Lisboa, 1989

14 fevereiro, 2010

/uma fotografia, um nome\


Valter Vinagre, da série Pensaram matar o bicho, ficou a peçonha, 1999-2009
© Valter Vinagre


Na vida de todos os dias há coincidências inesperadas. Tinha escolhido uma imagem de carácter antropológico do Valter Vinagre para comentar aqui (uma fotografia terrível, de um passo de uma cerimónia religiosa nocturna e tradicional) e o Sérgio enviou-me esta que de antropológica só tem o título da série, mas que igualmente mergulha nas impressões que são armadilhadas pelo inconsciente.

Valter Vinagre tem uma longa história na Fotografia. Explora temáticas variadas, mas do que mais gosto nele é a sua aptidão para captar a estranheza do mundo e dos homens, seja com esse olhar antropológico que revela gestos e costumes de sobrevivência, seja o olhar que demora nas contradições do sujeito.

Assim, esta é uma imagem intimista. Colheu um momento preciso em que os faróis de um carro atravessam a névoa de um dia, desenham uma paisagem de indecisão que nos lembra Ingmar Bergman. O homem, sabemos, gosta do jogo de codificar e descodificar e faz disso a sua longa peregrinação para a descoberta do mundo e de si. Sabemos que é o indecifrável, o sem-nome, que o perturba e por isso mesmo transforma esse exterior que absorve como um caos indomável, num cosmos organizado e, acima de tudo, desmontável – desde a lei científica ao enquadramento de uma paisagem.

Só assim o mundo ganha coerência e o homem segurança e isonomia.

Valter Vinagre levanta, por vezes, as brechas dessa percepção ilusória. Nesta imagem o espaço mais próximo (esse próximo que se nos oferece com uma clareza absoluta na definição e no controlo, como um flash de realidade bem descodificada) contrasta com a indeterminação que nasce sob o avanço da luz dos faróis do carro.

Reconhecemos estes lugares sob um céu liso, são lugares de estranheza nos nossos sonhos e no assalto dos medos dos mitos. Não interessa que se construam com arquétipos ou imagens de filme ou ainda com uma experiência mal vivida, são lugares de passagem entre dois mundos e é esse conhecimento que ecoa da mentalidade mítica que ainda se infiltra, quase imutado, no nosso quotidiano. A figura da passagem do conhecido para o desconhecido, de um mundo para um outro, marcou a indeterminação das coisas e do saber mágico da pré-ciência. Mas permaneceu na linguagem e atravessa os tempos, fazendo alternar sucessivamente uma concepção realista por uma abstracta da arte e do saber. O realismo que regula o nosso olhar é uma simulação biológica, do corpo, para identificar o perigo do mundo, que o abstraccionismo tende a codificar para melhor o compreender.

Este mundo que Valter Vinagre nos oferece é, naturalmente, perigoso. E o perigo é o alerta de todas as sensações envoltas pelo medo.

É isso que o fotógrafo traduziu: a familiaridade exacerbada do primeiro plano, a graduação da distância conjugando as muitas concepções que a teoria nos informa para que o segredo se mantenha como segredo. E o segredo é precisamente um dos indicadores do social e do íntimo que a nossa cultura informática tende a fazer desaparecer.

Talvez por isso a Fotografia se revele como o elo entre um saber nostálgico e o saber deste nosso presente volátil.

Maria do Carmo Serén

13 fevereiro, 2010

Molder



Jorge Molder
© Clara Azevedo


Vale a pena ler a entrevista que Anabela Mota Ribeiro fez a Jorge Molder, onde o fotógrafo fala da influência dos sonhos e das imagens de cinema no seu trabalho.
O texto da Pública está aqui

WPP09

© Pietro Masturzo


O fotógrafo italiano Pietro Masturzo venceu o World Press Photo of the Year 2009 com uma imagem que mostra um grupo de mulheres num telhado a gritar em protesto nos dias seguintes ao anúncio dos resultados das polémicas eleições presidenciais no Irão que colocaram novamente no poder Mahmoud Ahmadinejad.
"A fotografia mostra o princípio de alguma coisa o princípio de uma grande história. Acrescenta perspectivas à notícia. Toca-nos tanto visualmente como emocionalmente, e o meu coração entregou-se imediatamente”, afirmou o presidente júri da 53ª edição do prémio, Ayperi Karabuda Ecer. A reportagem de Masturzo valeu-lhe ainda o primeiro prémio na categoria Pessoas nas Notícias.
Para ver uma galeria com algumas das imagens premiadas clique aqui

OjodePez

El brazo de Simona con flores, "Residencia Palazzo Francisci", Todi (PG) 2007
© Simona Ghizzoni/Contrasto


Está aberto o prazo de entrega de trabalhos para o prémio de fotografia documental III Premio PHotoEspaña OjodePez de Valores Humanos.
O portfólio vencedor será conhecido durante Junho, por ocasião do festival PHotoEspaña 2010.
A última edição do prémio contou com mais de 620 candidaturas, enviadas de 50 países. A fotógrafa italiana Simona Ghizzoni foi a vencedora com o trabalho Odd days.
As candidaturas podem ser feitas até 1 de Maio aqui

08 fevereiro, 2010

=ColecçãoàVista= 47

José Osório da Gama e Castro (1858-1923), Casa do Conselheiro Oliveira Baptista, Arcozelo, s/d
Colecção Nacional de Fotografia © Centro Português de Fotografia

Arcozelo

Nasceu na freguesia de Nespereira, concelho de Gouveia, em 1856 e com apenas 22 anos formou-se em Direito. Seguindo a tradição familiar de seu pai e seu avô cedo mostrou um carácter social interventivo, designadamente na fundação do Clube Camões, na conclusão das obras do Teatro Hermínio e na renovação das Escolas Primárias do concelho.
Da sua actividade como fotógrafo resultou um fundo que em 2003 foi doado pelo seu sobrinho-bisneto, Eduardo Osório Gonçalves, ao CPF. O fundo é na sua maioria constituído por paisagens e retratos individuais e de grupo que mostram o urbanismo, os lanifícios e os usos e costumes das beiras. São imagens cativantes que revelam a vivacidade cultural, qualidades humanas e o talento peculiar para a fotografia deste autor português.
(
texto:CPF)

best of 2009


The Spirit & The Flesh, de Debbie Fleming Caffery, ensaio de Carrie Springer, Radius Books, 2009



Andei a passar os olhos novamente pelos títulos escolhidos pelo painel da revista photo-eye que resultou na lista dos Best Photobooks of 2009. Sei que já vamos um bocadinho longe da praga das listas de fim de ano e que de listas está o mundo cheio, mas esta relação oferecida pela photo-eye é um utilíssimo farol para chegar ao que de melhor se publicou ao longo do ano passado. Aqui

07 fevereiro, 2010

entre aspas


Taiwan, Kaohsiung, templo Lung-Fa Tang
© Chien-Chi Chang/Magnum Photos


Photography is still instinctual, but I am more disciplined now. I am trying to make every frame count, just as in Tai Chi every breath counts.

Chien-Chi Chang, in Magnum Photos Featured Photographer

aprender

© Imagerie, Casa de Imagens


O espaço Imagerie, em Lisboa, organiza vários cursos relacionados com fotografia. A oferta é diversificada e vai desde wokshops de iniciação à fotografia digital até às técnicas alternativas de impressão, como a cianotipia e a goma bicromatada.
As informações, incrições e preços dos cursos estão aqui

Annemarie




A obra fotográfica de e sobre a escritora e viajante suíça Annemarie Schwarzenbach (1908-1942) será apresentada a partir do dia 22 de Fevereiro de 2010 no Museu Colecção Berardo, em Lisboa. Schwarzenbach - irreverente, obsessiva e irrequieta - vagueou por quatro continentes (Europa, Médio Oriente, África e América do Norte) e passou várias semanas em Lisboa (1941-1942), onde registou a cidade (essas imagens estão nos Arquivos Literários Suíços).
A exposição, comissariada por Emília Tavares e Sónia Serrano, apresentará cerca de 200 fotografias acompanhadas de textos literários, jornalísticos e outra documentação original que ilustram a vida e obra da autora. Esta será a primeira e mais abrangente exposição internacional dedicada à sua produção fotográfica. Será editado um catálogo, Auto-retratos do Mundo.
A mostra ficará patente até 15 de Abril.

mentiras

Pilar Albarracín, da série 300 mentiras
© Pilar Albarracín


A Galeria Filomena Soares, em Lisboa, mostra a primeira parte da série 300 Mentiras da fotógrafa sevilhana Pilar Albarracín. É um trabalho engenhoso e desafiante (a lembrar Erwin Wurm) que nos confronta com a ilusão e com a representação sempre coladas à imagem fotográfica.

O texto de apresentação de 300 Mentiras diz o seguinte:

A procura da verdade tem motivado um trabalho incessante entre os filósofos e grandes pensadores ao longo dos séculos; e, cada vez mais, as suas descobertas têm conduzido a diversos caminhos. Mas quais seriam os caminhos percorridos se fosse "a busca da mentira" a guiar a inquietude do pensamento?

Pilar Albarracín já começou a percorrer esta segunda via através dum projecto de grande alcance intitulado as
300 mentiras (da história), a primeira parte do qual se apresenta aqui.

Utilizando a fotografia, a artista constrói, modifica ou recria momentos da história expondo "acontecimentos reais" que, na realidade, nunca ocorreram. Assim, Pilar Albarracín traz de volta ao campo da arte um debate que tem permanecido aberto na historiografia desde os anos oitenta, altura em que o historiador britânico Benedict Anderson abalou alguns pilares da disciplina com a sua pergunta "... e se, pelo contrário, a "antiguidade" fosse, em certas conjunturas históricas, a inevitável consequência da "novidade?"[1]. Com esta interrogação Anderson estaria a sugerir a existência de práticas de construção do futuro a partir de um passado imaginado.

Ao mesmo tempo, e dentro do mesmo contexto disciplinar, a tradição - devido à sua íntima relação com a história - tem-se tornado no alvo das atenções e um dos eixos centrais da obra de Albarracín desde o princípio. Tal como explicam Eric Hobsbawm e Terence Ranger[2], certas tradições com suposta origem na antiguidade são frequentemente recentes ou são inventadas para alimentar uma determinada situação, usufruindo da legitimidade irrefutável de raízes culturais que remontam aos tempos ancestrais.

E é da história recriada e das tradições inventadas que se alimenta a obra
300 mentiras de Pilar Albarracín, uma obra que oscila constantemente entre a realidade e a ficção, o acontecimento real e o inventado, a imagem e a imaginação, e que se baseia num vaivém constante entre os planos do autêntico e do reconstruído para, no final, atingir a recriação duma nova autenticidade. A chave interpretativa da sua obra reside no imaginário colectivo e no sistema de símbolos interiores que actuam como repositórios das ligações de significados entre a mentira representada e a possível realidade histórica subjacente.

Cada fotografia que dá expressão ao projecto é uma obra em si mesma, dotada de autonomia e portadora dos seus próprios significados. No entanto, fios subtis ligam cada uma das imagens às outras, conferindo-lhes a coerência de um sistema sustentado pelos motivos que revelam toda a trajectória da artista. Cada "mentira", perfeitamente identificável com um determinado momento histórico, uma tradição, um contexto ritual ou uma fase da existência, é atravessada por conteúdos mais abrangentes nos quais a artista se apoia: a identidade procurada, negada ou afirmada; as culturas baseadas no género; a tensão entre a vida e a morte; a luta pelo poder como fenómeno ancestral e actual; as assimetrias sociais, de género, étnicas e de estatuto social; a submissão ao poder estabelecido.

Todos estes elementos têm estruturado a obra de Pilar Albarracín desde que começou a dar os primeiros passos no mundo da arte. Têm servido de base a trabalhos fotográficos, performances e instalações, marcados por uma forte carga de ironia e humor satírico, destinados a provocar o diálogo sobre a ordem sócio-sexual estabelecida, derrubar os modelos comuns da feminilidade e masculinidade ou desmistificar as construções estereotipadas do " espanhol", através do aproveitamento de certos elementos do folclore andaluz.

Em
300 mentiras. Primeira parte todos estes temas se reúnem e interligam entre si graças a imagens que partilham do mesmo código simbólico para recriar uma história crítica - embora fictícia - que, assim, é tão credível como a versão oficial adoptada arbitrariamente.

Elena Sacchetti Dezembro 2009


[1] Anderson, Benedict (1983), Imagined Communities, Verso, London - New York, p. 20.
[2] Hobsbawm & Terence Ranger (1983), The invention of tradition, Cambridge University Press, Cambridge.

formar

João Paulo Serafim, da série Museu Improvável, 2006-09
© João Paulo Serafim

Na próxima sexta-feira, dia 12 de Fevereiro, João Paulo Serafim faz uma apresentação do seu trabalho no Atelier de Lisboa (Av. António Augusto Aguiar, 80 - 3ºEsq). A entrada é livre, mas limitada aos lugares disponíveis.
A partir do dia 26 de Fevereiro, o fotógrafo orientará no mesmo espaço o curso Ficção e Construção, onde se pretende "fazer uma reflexão sobre a construção/ficção na fotografia e na arte contemporânea". Esta formação tem uma duração de 7 semanas (1 sessão semanal, às sextas, das 19h30 às 22h30).

06 fevereiro, 2010

visura

Miguel Rio Branco, Tokio
© Miguel Rio Branco

A revista de fotografia online Visura acaba de lançar a sétima edição com um portfólio especial de Miguel Rio Branco dedicado a Tóquio. Destaque ainda para as imagens do trabalho We English, de Simon Roberts. Aqui

Penn

Rudolf Nureyev, Nova Iorque, 1965
National Portrait Gallery, Smithsonian Institution. Gift of Irving Penn © Les Editions Condé Nast S.A.


A National Portrait Gallery de Londres está prestes as abrir portas da grande exposição Portrait de Irving Penn (1917-2009) que reúne mais de 120 imagens, muitas vintage, entre um período amplo que vai desde os retratos feitos para a Vogue, nos anos 40, até ao seu mais recente trabalho. Quem comprar online o catálogo (o primeiro a centrar-se em exclusivo no trabalho de retrato de Penn) antes do início da exposição, agendado para o dia 18 de Fevereiro, tem direito a um desconto. aqui

a visita

© Len Steckler


Há sempre mais e mais fotografias inéditas de Marilyn a sair do escuro. Como estas, agora reveladas pelo americano Len Steckler. Foram captadas durante "uma visita" de Marilyn a casa do poeta e historiador Carl Sandburg, em Dezembro de 1961. Conta Steckler que quando foi abrir a porta Marilyn desculpou-se pelo atraso e justificou-o com uma ida ao cabeleireiro onde pediu uma descoloração que rivalizasse com o branco do cabelo de Sandburg. A noite passou-se a conversar e a beber whiskey Jack Daniels com algumas fotografias à mistura.
As imagens de Len Steckler, que dedicou o essencial do seu trabalho à moda, ficaram esquecidas até que o seu filho as descobriu. Vão agora ser vendidas em leilão. A série chama-se Marilyn Monroe: The visit.



© Len Steckler

Keep you Beutiful

Aline Smithson, People I don´t know
© Aline Smithson


Há vozes que se ouvem ininterruptamente. Há vozes que se ouvem com prazer vezes sem conta. Uma vez, duas vezes... duas mil vezes... Ontem, ouvi mais uma vez a voz de Stuart Staples ao vivo.

O vídeo de Keep you Beutiful, do recém-lançado Falling down a Mountain, mistura dois portfólios de Aline Smithson, People I don´t know e Arrangement in Green and Black, para nos falar da memória e da passagem do tempo.


03 fevereiro, 2010

C - o fim



A revista C chegou ao volume 10 e anunciou, com este número, o encerramento de um ciclo. Ou seja, o fim. O início da segunda vida do projecto C Photo, idealizado pela IvoryPress, está prometida para Outubro de 2010 e parece certo que a C não voltará a ser publicada. A editora afirma que o próximo salto será "distinto, mas ao mesmo tempo complementar à visão da C International Photo Magazine". Entre outras iniciativas, haverá novas "publicações periódicas" e programas de formação para fotógrafos e curadores de fotografia.

Depois da última C, a IvoryPress organizou um pacote especial, o C Photo Collection Contemporary Photography Anthology of the 21st Century, que reúne os 10 volumes publicados (edição limitada de 500 exemplares da versão inglês/chinês e o mesmo número de cópias para a versão espanhol/japonês). Os pedidos podem ser feitos através do site da IvoryPress. Aqui


02 fevereiro, 2010

vender

Philip Jones Griffiths, batalha de Saigão, Maio de 1968
© Magnum Photos


Um dos maiores repositórios visuais do século XX mudou de mãos: a cooperativa de fotojornalismo Magnum vendeu mais de 180 mil provas vintage à MSD Capital, controlada pelo milionário Michael Dell. Conta o New York Times que em Dezembro do ano passado, pela calada, dois camiões carregados com o arquivo da agência abandonaram Nova Iorque rumo a Austin, Texas. Não se conhecem os valores do negócio mas o noticiário económico americano classifica a transacção como uma das maiores de sempre na área da fotografia. O espólio foi assegurado em mais de 100 milhões de dólares.

A decisão de vender estas "provas de imprensa" (o negócio inclui apenas as impressões em papel e não os direitos de autor das imagens) foi votada favoravelmente em 2006, depois da agência ter iniciado um processo de digitalização de todo o seu espólio (tarefa que não chegou a metade). Os novos donos, chegaram a um acordo com o Harry Ransom Center, da Universidade do Texas, em Austin, para armazenar, estudar e expor as imagens. Depois de arquivado e ordenado, o espólio ficará disponível pela primeira vez a estudantes e investigadores.

As provas mais antigas são anteriores à fundação da Magnum (há imagens de Capa da Guerra Civil de Espanha). As últimas estão datadas de 1998, altura em que a cooperativa deixou de imprimir fotografias em papel para circulação entre jornais e revistas.

Descubrimientos PHE



Está quase a terminar o prazo para a entrega de candidaturas ao prémio Descubrimientos PHE. Até ao dia 7 de Fevereiro podem ser enviados portfólios que, depois de uma pré-selecção, serão analisados por um painel internacional de comissários e editores entre 10 e 12 de Junho, em Madrid. Para a fase final serão escolhidos 60 conjuntos. O painel deste ano é constituído por Olivia Gideon Thomson (directora da WE FOLK, Londres), Alessandra Mauro (directora editorial da Contrasto, Milão), Yossi Milo (director da Yossi Milo Gallery, Nova Iorque), Jame S. Reid (editor de fotografia da Wallpaper, Londres), Sandra Philips (comissária, directora de fotografia do São Francisco Museum of Modern Art), Kathy Ryan (editora de fotografia da New York Times Magazine), Dewi Lewis (director da Dewi Lewis Publishing, Stockport), Agnès Sire (directora da Henri Cartier-Bresson Fondation, Paris) e Brett Rogers (directora da The Photographer´s Gallery, Londres).

Parte das imagens destes conjuntos será exposta no complexo El Águila e incluída na Secção Oficial do Festival. Será ainda selecionado um vencedor (Premio Descubrimientos PHE) que terá direito a organizar uma exposição individual no festival de 2011.
As inscrições podem ser feitas aqui

01 fevereiro, 2010

=ColecçãoàVista= 46


Anónimo, Madeira, descida de carros do Monte, s/d
Colecção Nacional de Fotografia © Centro Português de Fotografia

Uma colecção exemplar

A colecção Alcídia e Luís Viegas Belchior foi integrada na Colecção Nacional de Fotografia após a sua compra a Francisco José de Brito Belchior, em 2006. Fazem parte deste conjunto documentos de extrema raridade que datam desde o séc. XIX ao séc. XX. Encontra-se igualmente representado o trabalho de reconhecidos fotógrafos estrangeiros que se fixaram em Portugal ou que por cá passaram em missões fotográficas. Constituída essencialmente por paisagens de Portugal, aspectos de carácter social e regional, monumentos, interiores, retratos individuais e de grupo, construções de pontes e caminhos-de-ferro, esta documentação é valiosíssima pelo seu testemunho. A ilha da Madeira está também fortemente representada com cerca de 80 documentos fotográficos.
(texto:CPF)

BESphoto - exposição


© Filipa César



Os trabalhos de André Cepeda, Filipa César e Patrícia Almeida - os artistas candidatos ao maior prémio de fotografia português - podem ser vistos a partir de amanhã na exposição da 6ª edição do prémio BesPhoto, no Museu Colecção Berardo, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Os artistas, que foram seleccionados por um júri composto pelos críticos de arte e comissários Delfim Sardo, Miguel von Hafe Pérez e Nuno Crespo com base nas exposições que realizaram o ano passado.

André Cepeda (1976) foi escolhido por Ontem, exposição da Galeria Zé Dos Bois (ZDB), e River, na Pedro Cera. O júri considerou que havia "consistência de apresentação" nos dois projectos, que retratam realidades e contextos sociais, e viu neles "um amadurecimento notável das formas expressivas do autor".

Filipa César (1975) foi seleccionada pelos projectos Le Passeur, na Fundação Ellipse; Rapport/ Raccord, na Galeria Distrito Cuatro, em Madrid, e The Four Chambered Heart, na Galeria Cristina Guerra, em Lisboa. O júri apontou "as qualidades fílmicas de documentário" do projecto Le Passeur e destacou nele "o olhar fotográfico consciente da tradição retratística do fotógrafo", considerando que esta relação está também bem explícita nos outros projectos da artista.

A exposição Portobello (e livro de autor), apresentada na Galeria ZDB e no Art Allgarve 2009, valeu a Patrícia Almeida (1970) a nomeação para o BesPhoto. Neste caso o júri realçou "o olhar pessoal e atento da artista sobre um contexto social específico" e salientou a importância da publicação do livro.

Cada artista recebeu uma bolsa de produção para a realização desta exposição que ficará patente até 4 de Abril. O vencedor será conhecido a 23 de Fevereiro. A decisão será tomada por um Júri de Premiação do qual faz parte José Gil, professor universitário, filósofo, ensaísta e ficcionista; Alberto Anaut, director da La Fábrica e presidente do PHotoEspaña e Marcel Feil, curador do Foam-Fotografiemuseum Amesterdam. O prémio tem um valor pecuniário de 25 mil euros.


© Patrícia Almeida



© André Cepeda

 
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