27 junho, 2007

*Três perguntas a...



Inês d`Orey, auto-retrato, Porto, 2007
(© Inês d`Orey)

Inês d`Orey. Fotógrafa do Porto de 29 anos. Tem formação superior em Relações Internacionais, Culturais e Políticas (Universidade do Minho) e uma especialização em fotografia (London College of Printing). Entre 1999 e 2002 foi bolseira do Centro Português de Fotografia. Já participou numa dezena de exposições colectivas. Desde 2001 que expõe individualmente. Vencedora do prémio Novo Talento FNAC Fotografia 2007 com o projecto Porto Interior. Foi uma das fotógrafas seleccionadas para a exposição de novos talentos DESCUBRIMIENTOS da PHOTOESPAÑA2007.

¿Por que é que fotografas?
Uma imagem forte que capte a atenção tem o poder de proporcionar uma nova forma de perceber o mundo, o poder de estimular emoções, de envolver a todos os níveis.
Fotografo para captar a realidade, ciente de que a corrompo. Gosto desta capacidade da fotografia nos ajudar a interpretar qualquer coisa, de dar a interpretar qualquer coisa, por mais banal que seja. De uma forma inesperada ou diferente, mas sempre tendo como ponto de partida a realidade física, aquela onde somos e não aquela que vemos. A fotografia permite, eventualmente, chegar a esse lugar e agrada-me, acima de tudo, esta ideia de criar artefactos geradores de experiências, nomeadamente emocionais, que permitem, de algum modo, sentir, mais do que pensar.

¿O que procuras mostrar neste Porto Interior?
De certa forma, uma surpresa pela ausência de vida, de movimento, de dados que permitam identificar na totalidade, de dados que permitam situar no tempo. Se calhar, em vez de mostrar, ou para lá de mostrar, procuro antes suscitar. O que se vê poderá ter muitas leituras. Interessa-me mais essa ideia de diversidade do que os respectivos conteúdos. Mas claro que quando se olha o Porto Interior, há conjecturas que se poderão formar, que podem ser interessantes, divertidas, sérias, pertinentes.
Acho que a fotografia comunica tanto através do que se vê, do que se interpreta como estando lá, como pela ausência de informação. Todas as imagens de Porto Interior foram captadas em espaços de acesso público por uma minha forma de ver muito privada. Todos estes espaços podem ser visitados e encontram-se quase todos ainda em funcionamento. A maior parte enche-se frequentemente de pessoas e de barulho e de coisas a acontecer, coisas perfeitamente normais como uma conversa, um cigarro a fumar-se, uma correria para chegar a qualquer lado, um encontro de convívio num sábado à tarde. Interessa-me despertar a imaginação: o que aconteceu antes e o que vai acontecer depois. E, porventura, a possibilidade do tudo que poderá significar.
A ausência e a ideia de tempo parado são um artifício desenvolvido no Porto Interior, que permite explorar este campo. E neste intervalo, entre esses dois momentos – o antes e o depois -, que é a fotografia, procuro intensificar sensações e sentimentos que se associam ao vazio: a melancolia, o abandono, a perda, a inaptidão, a duração, a solidão, a ausência, a desistência, o frio, o silêncio, o conforto, a calmia, a lonjura.
Acho que é uma procura que acaba por reflectir uma experiência urbana, como vivo e como vejo uma cidade, a minha cidade. Por ser tão minha, aos olhos dos outros, esta poderia ser uma cidade qualquer, onde se chega e se passa a descobrir, velha mas como nova.
Simultaneamente, tenho muito pouco poder sobre este Porto Interior. Ele próprio vai-se mutilando e alterando continuamente. Ao construir este trabalho, vou também mantendo, da forma que me é possível, a minha própria cidade, o lugar onde sou. É uma mundividência subjectiva e particular.

Imagino que entrar na casa das pessoas, nos seus espaços mais privados, para tirar fotografias não tenha sido tarefa fácil. Fala-nos um pouco do lado prático da concretização deste projecto.
Na realidade, todos os lugares que fotografei são de uso público ou semi-público. Isto não significa que seja imediato obter autorização para fotografar. Há locais onde basta chegar, pedir autorização e se podem logo fotografar. Outros sítios, os mais públicos de todos, não requerem pedidos de autorização, fotografam-se apenas, qualquer pessoa os poderá fotografar.
Como faço, profissionalmente, fotografia de arquitectura, tenho acesso a espaços que fotografo como trabalho.
Há, no entanto, instituições que simplesmente não permitem fotografar, como o Instituto de Medicina Legal ou edifícios militares.
Não fiz uma lista a priori do que iria fotografar. Os motivos vão surgindo com o próprio desenvolvimento do projecto. Há locais que me ocorreram de imediato, outros de que me vou lembrando ao longo do processo, ainda outros que vou descobrindo enquanto percorro a cidade, ou outros que surgem em conversas com outras pessoas. Na verdade, a lista não se completou ainda, sei que há fotografias que ainda quero fazer, e sei também que há sítios que ainda hei-de descobrir. De certa forma, este Porto Interior vai-se construindo à medida que vai crescendo. E acredito que poderia continuar ad eternum: como a própria cidade; impossível de conhecer ou captar na totalidade. Isto faz de mim alguém à deriva. Gosto desta sensação.

Monte Aventino, da série Porto Interior (© Inês d`Orey)

1 comentário:

Anónimo disse...

onde (ainda??) se pode ver esta exposição?
a.claudia.rodrigues@gmail.com

 
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