tag:blogger.com,1999:blog-19299359.post4326830995878029768..comments2024-01-21T07:05:33.058+00:00Comments on Arte Photographica: “entre aspas”Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10217683946980947543noreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-19299359.post-61611803832397463002008-12-24T00:11:00.001+00:002008-12-24T00:11:00.001+00:00E por ocasião das aspas, do Natal e da fotografia,...E por ocasião das aspas, do Natal e da fotografia, roubei este de um blogue, pois ao que parece, nos intervalos da vida distraio-me nisto dos blogues. Creio que me distraio mais do que me divirto, mas por vezes até gostaria de me divertir. Vou deixar aqui este do Alberto Caeiro, apanhado num blogue. Tentei encolher-me bastante, tornar-me o mais possível invisível, mas mesmo assim tudo acaba por ocupar um pouco de espaço e eu nunca consego ser "anónimo" o suficiente, que é o mesmo que dizer «autenticamente livre».<BR/><BR/><BR/>Num meio-dia de fim de primavera<BR/>Tive um sonho como uma fotografia.<BR/>Vi Jesus Cristo descer à terra.<BR/><BR/>(...)<BR/><BR/>Tinha fugido do céu.<BR/>Era nosso demais para fingir<BR/>De segunda pessoa da Trindade.<BR/>No céu era tudo falso, tudo em desacordo<BR/>Com flores e árvores e pedras.<BR/>No céu tinha que estar sempre sério<BR/>E de vez em quando de se tornar outra vez homem<BR/>E subir para a cruz, e estar sempre a morrer<BR/>Com uma coroa toda à roda de espinhos<BR/>E os pés espetados por um prego com cabeça,<BR/>E até com um trapo à roda da cintura<BR/>Como os pretos nas ilustrações.<BR/>Nem sequer o deixavam ter pai e mãe<BR/>Como as outras crianças.<BR/>O seu pai era duas pessoas<BR/>Um velho chamado José, que era carpinteiro,<BR/>E que não era pai dele;<BR/>E o outro pai era uma pomba estúpida,<BR/>A única pomba feia do mundo<BR/>Porque não era do mundo nem era pomba.<BR/>E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.<BR/><BR/>Não era mulher: era uma mala<BR/>Em que ele tinha vindo do céu.<BR/>E queriam que ele, que só nascera da mãe,<BR/>E nunca tivera pai para amar com respeito,<BR/>Pregasse a bondade e a justiça!<BR/><BR/>(...)<BR/><BR/>Diz-me muito mal de Deus.<BR/>Diz que ele é um velho estúpido e doente,<BR/>Sempre a escarrar no chão<BR/>E a dizer indecências.<BR/>A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.<BR/>E o Espírito Santo coça-se com o bico<BR/>E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.<BR/>Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.<BR/>Diz-me que Deus não percebe nada<BR/>Das coisas que criou<BR/>Se é que ele as criou, do que duvido<BR/>Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,<BR/>Mas os seres não cantam nada.<BR/>Se cantassem seriam cantores.<BR/>Os seres existem e mais nada,<BR/>E por isso se chamam seres.<BR/><BR/>(...)<BR/><BR/>(Poemas de Alberto Caeiro)Anonymousnoreply@blogger.com